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Contos-->Um só mundo -- 10/06/2000 - 14:19 (Evaldo josé Lima de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



UM SÓ MUNDO

1

Eu estava exausto. Ser um dos principais articuladores do Mercosul é gratificante, mas esgota qualquer um. Reuniões, viagens, conferências e simpósios causam fadiga física e sobretudo mental. Quantos discursos escrevi? Quantos gráficos elaborei? Quantos telefonemas dei e recebi a fim de confirmar dados? Perdi a conta. Só espero que valha a plena e o Mercosul sirva para gerar e manter riqueza na América do Sul.
Vim para o lado do Chuí, no extremo sul do Brasil, para poder descansar e reorganizar minhas idéias. Sem telefone nem caixa de correio. Isolamento total. Paz total. Liberdade total. Nada de agenda ou calendário. Beleza!
Minha rotina nas férias era a seguinte: acordar umas oito horas da manhã, deglutar um delicioso, farto e saudável café da manhã, depois nadar e pescar em córrego ali perto, ou correr um pouco; a seguir aproveitava a paz do lugar para meditar, fazer Ioga, estudar um curso em fascículos que tinha comprado sobre memorização, depois almoçava uma espetacular comida feita no fogão a lenha.
À tarde dormia até às quatro e a partir daí ajudava a caseira da fazenda, com extremo prazer, a cuidar da horta. Um dia, só por curiosidade, guiei uma boiada, com a ajuda dos peões, é claro.
Tudo isto era ótimo, mas minha hora predileta era a do pôr-do-sol. Além de ser um espetáculo magnífico, eu quase sempre estava nesta parte do dia, na casa de seu Domingos. Este senhor de seus oitenta anos, era completamente analfabeto. Até ofereci-me para ensiná-lhe a ler e a escrever mas recusou dizendo “ que a idade já não ajudava “ e que ” não lhe fazia falta ”. Fiquei um pouco chateado, mas respeitei sua decisão.
O que me impressionava em seu Domingos é que ele tinha uma enorme criatividade para inventar estórias, além da maneira soberba como as dramatizava. Ele seduzia, hipnotizava, encantava os ouvintes, inclusive a mim. Depois da oração dos Angelus, a qual ele fazia com extrema simplicidade vocabular e de beleza e sinceridade incríveis, iniciava as suas narrativas.

Raramente repetia uma e quando fazia, era atendendo o pedido de alguém. Estórias envolventes, sempre com alguma bela moral, sem contudo ser piegas. Um dia perguntei-lhe de onde vinha tanta inspiração. Ele me respondeu “ Veem de Deus, meu filho. Sou igual a um papagaio. Repito o que nosso Pai bota na minha cabeça, para alegrar pessoas ”.
Depois do jantar lia muito. Às vezes interrompia a leitura para pensar nas bilhões de pessoas que como seu Domingos, teriam tanto a oferecer à humanidade se tivessem recebido a educação a que teriam direito.
Nestas ocasiões ia à janela do meu quarto, fitava o firmamento e em silêncio orava pedindo a Deus que existissem sim, outros mundos mais justos, onde indivíduos como seu Domingos, de corações puros, estivessem no poder. Onde “ o bem comum ”, ficasse sempre acima dos interesses privados. Onde honestidade fosse “ regra ” e Não ” exceção “.
Já faziam quinze dias que eu gozava desta tranqüilidade, quando uma certa noite, acordei com uma luz penetrando pela janela do quarto onde dormia. Medo? Sim, mas algo naquela luz me atraía. De repente um facho de luz me envolve. O brilho muito intenso cega-me temporariamente. Quando recupero a visão, vejo um ser alto, magro, de cor branca, que me fala assim:
- Não tema. Nada de mal acontecerá a você. Quero apenas conhecer melhor a história de seu planeta. Veja, você não está só..
Foi quando olhei ão meu redor e vi dez homens e uma mulher, todos da Terra. Cada um de um país diferente. Era um russo, um francês, um inglês, um alemão, um norte-americano, um árabe, um israelita, uma sul-africana, um indiano, um japonês, alem de mim que sou brasileiro. A nave já havia passado nestas nações e espontaneamente “ apanhado ” estas pessoas.
Compreendi que isto não era por acaso. Ali estavam representado senão todas, as principais nações do mundo. Faltavam alguns, mas era o suficiente para se ter uma noção geral do nosso planeta .
- Então, de quem partirá o primeiro relato?
Depois de colocarmos fones que garantiam uma tradução individual, simultânea e perfeita, houve uma certa expectativa geral, para ver quem faria o primeiro relato.

2

Enchi-me de coragem e fiz a minha narrativa:
- Venho do Brasil, o maior país da América. A América Latina como um todo sofre terríveis problemas. Colonizada por portugueses e espanhóis, conserva desde aquela época até hoje uma injusta distribuição de terras e de renda, além de péssimos indicadores socais.
Em parte isto decorre do tipo de colonização aí aplicada, a colonização de exploração, a qual não se preocupou em criar uma infra-estrutura básica de vida, mas sim, com a alucinada retirada de recursos minerais e vegetais. O mais interessante era que a grande parte destes volumosos recursos não iam para nossas metrópoles, Portugal e Espanha, que tinham acordos comerciais muitos desvantajosos, principalmente com a Inglaterra.
0s países latino-americanos, embora formalmente independentes desde o século passado, continuam sendo dominados por nações imperialistas, principalmente pelos Estados Unidos. Eles controlam nossa economia, política, cultura e ciência. As empresas nacionais falham ante a concorrência das poderosas multinacionais que remetem seus enormes lucros para seus países de origem.
Até guerras entre as nações latinas, os poderosos países insuflam. Foi assim na Guerra do Paraguai e na Guerra do Pacifico. Nestas guerras, as únicas beneficiadas foram as grandes potências, que lucraram com o aumento da dívida externa.
A Guerra do Paraguai, que durou de 1865 a 1870, é o melhor exemplo disso. Antes desta guerra, o Paraguai tinha uma economia forte e sobretudo auto-suficiente, visto que não admitia a entrada de capitais externos. A Inglaterra, temendo que este modelo fosse copiado por outros países sul-americanos, insuflou Argentina, Uruguai e Brasil a entrarem em guerra contra o Paraguai.
Totalmente aniquilado, o Paraguai até hoje se ressente deste conflito, onde teve sua economia arrasada e no qual perdeu cerca de 80% de seus homens adultos. Quanto a seus três oponentes, só tiveram como conseqüência um enorme aumento da dívida frente ãos ingleses, em decorrência os enormes gastos bélicos.
O único país que ousou se opor ão domínio imperialista foi Cuba. Antes da Revolução Castrista, que adotou o regime Socialista, Cuba era totalmente dominado, pelos norte-americanos. Depois desta Revolução, os Estados Unidos lideraram um bloqueio econômico, que dura até hoje, e que afixia economicamente a ilha caribenha.
Com medo de que os outros países sul-americanos espelhassem em Cuba, financiou, treinou e apoiou a partir da década de 70, ditaduras muito severas. Milhares de pessoas foram presas, torturadas e mortas. Nunca o capital estrangeiro foi tão aceito. Obras ” faraônicas ” foram iniciadas mas nunca concluídas, aumentando assim nossas dívidas externas.
Recuperamos a democracia na década passada, mas continuamos com os mesmos problemas de sempre: miséria, desnutrição, epidemias, queda no poder aquisitivo, inflação, desemprego e subserviência no âmbito internacional.
Depois de mim foi a vez do indiano:
- A Índia tem uma historia e uma cultura milenar e fascinante. Obteve depois de décadas de lutas sua independência em 1947. O grande articulador do movimento de independência foi o magnifico Mahatma Gandhi, que foi morto por um fanático hindu em 1948.
Meu país é rico e pobre ão mesmo tempo. Já temos satélite e possuímos alguns conhecimentos na área nuclear. Temos a décima segunda produção industrial do globo. Mas ão mesmo tempo, metade da população é analfabeta; temos uma superpopulação e muito pouca infra-estrutura. O pior é que poucos fazem alguma coisa para mudar esta situação. A maioria da população não tem, nem sente a necessidade de se organizar para reivindicar seus direitos básicos. Essas pessoas creem que a resignação, é fundamental para a felicidade nas vidas futuras. Por outro lado, aqueles que poderiam fazer algo não se importam.
O árabe passou a fazer sua narrativa :
- O elemento unificador do povo árabe foi o islamismo fundado no século VI pelo Profeta Mãomé. Durante os século VI e VIII, o Império Islâmico se expandiu muito. Tal fato durou até o século XV. desde então o Oriente Médio, onde está concentrado a maioria dos muçulmanos, foi dominado pelos turcos otomanos e pelos persas. No século atual em decorrência do enfraquecimento do império turco, o poder político acabou se fragmentando em dezoito países.
Os árabes são um dos poucos povos que ainda se opõem à devasidão ocidental. O nosso grande e histórico desafeto é contra os judeus, principalmente quando estes se apropriaram indevIdamente dos territórios palestinos.

- Se apropriou indevidamente não - retrucou o judeu - Esta foi uma justa reparação feita pela ONU a um povo heróico. Fomos o primeiro povo monoteísta, ou seja, a crer em um único Deus, do mundo. Com a liderança de Moisés nos livramos do cativeiro no Egito. Deus nos escolheu para seu povo e a nós revelou suas leis no Monte Sinai.
Ele, Deus, prometeu-nos um Messias. Os cristãos creem que Cristo era este Messias. Nós sempre discordamos e temos a certeza de que o Salvador ainda esta por vir.
O Antigo Testamento narra a nossa história. Nela se destacam três reis: Saul, Davi e Salomão. Depois de Salomão a nação hebraica se dividiu em dois reinos: o de Israel e o de Judá. Ambos foram subjugados por diversos povos, inclusive pelos romanos. Esses nos dispersaram pelo seu grande império.
No fim do século passado e início deste, aumentou muito a animosidade contra os judeus. Diziam que nós “ roubávamos “ os empregos dos nacionais de cada país. Isto culminou com os loucos planos de Hitler de exterminar nossa raça. Nenhum povo sofreu mais nas mãos dos nazistas do que nós. Foram mais de seis milhões de mortos. Muitos, inclusive eu, ainda guardam cicatrizes físicas, morais e psicológicas daquele

nefasto tempo. Como vemos, a ONU, não privilegiou ninguém, só fez justiça a um povo heróico.
O quarto relato foi da sul-africana:

- A África é um continente muito explorado pelos europeus. Neste século a África foi dividida não segundo os interesses de seus povos, mas sim segundo dos europeus. Divisão irresponsável. Uniu povos adversários e separou povos amigos e até mesmo famílias. Isto gerou países paupérrimos e com muitas guerras civis. Foi em alguns países africanos, como Etiópia e Ruanda, que o ser humano tenha talvez alcançado o mais baixo e deprimente nível de vida. Se posso chamar aquilo de vida.

Meu país, a África do Sul, há pouco tempo se livrou do odioso sistema do apartheid, o qual dava enormes privilégios em todos aspectos, a minoria branca em prejuízo a maioria negra. Isto aconteceu depois de décadas de luta. O principal líder desta luta foi Nelson Mandela, um homem que passou vinte e sete anos preso, mas que nem assim abdicou de seus ideais. Hoje em dia ele é nosso presidente

O preconceito contra a minha raça é um fenômeno mundial. Durante séculos os negros foram arrancados de seus povos, transportados em imundos e desconfortáveis navios, vendidos e comprados como objetos e tratados por seus “ donos “ com total desrespeito e selvageria.
A escravatura já acabou em todo o mundo. Alguns estudiosos afirmam que isto deu-se mais por razoes economicas, visto que manter um escravo tornou-se muito caro, e também em decorrência das nações industrializadas, principalmente Inglaterra, que queriam e precisavam aumentar os mercados consumidores de seus produtos, do que por humanismo.
De todo modo a escravidão acabou. Mas como os governos não se preocuparam em garantir boas condições de saúde, educação, habitação e trabalho, a raça negra tem poucas chances de ascensão política, cultural e social. Isto sem falar dos hipócritas, que “ juram “ que não são, mas são, e muito preconceituosos.
Além do sofrimento negro, quero falar da discriminação contra as mulheres. Só no vigente século, as mulheres começaram a se libertar da tutela masculina. Conquistamos enormes vitórias, mas ainda somos vítimas de agressões físicas e morais. Em algumas sociedades, estas violências são veladas, mas em outras, no Oriente, são consagradas por lei.


3

Os representantes das grandes potências, até então calados, passaram a se defender. O primeiro a falar foi o francês:

- Meu país é oriundo do Império Carolíngio, mais precisamente do Reino Franco. Da sua fase monárquica destacam-se Filipe Augusto, Luís IX, e principalmente Filipe IV. Em 1789 a crise econômica e social provocou uma revolta popular, que apesar de se degenerar no meio do caminho, influenciou toda a Europa. Falo da Revolução Francesa, marco divisório entre as Idades Moderna e a Contemporânea.

Depois disso sobe ão poder o general Napoleão Bonaparte, que ergueu um grande império que durou até 1814, quando Napoleão foi derrotado por uma coligação de cinco países. Nas duas Grandes Guerras fomos invadidos pelos alemães e nas duas vezes, graças à nossa bravura e patriotismo, nos libertamos. A França deu ão mundo brilhantes inteligências.
O inglês tomou a palavra:
- Descendentes dos anglo-saxões, os ingleses fundaram sua monarquia no século XII com Henrique II. Fomos a primeira nação a limitar o poder dos reis através da constituição, a magna Carta. O mundo também deve ãos ingleses, as evoluções cientificas, tecnológicas, sociais e econômicas decorrentes da Revolução industrial. Nos chamam de “ imperialistas ”, mas nós apenas defendemos nossos interesses e ideais. Nada mais legítimo e natural. Criamos também o capitalismo, o mais aplicado e melhor sistema sócio-econômico do mundo.
- Capitalismo que é causa dos males mundiais - retrucou o russo - ” filho “ do arcaico feudalismo, só tem gerado misérias e desigualdades. Meu país liderou, a partir de 1917, um movimento de contestação. Homens como Lênin, e Stálin , criaram e transformaram a União Soviética em uma superpotência mundial, principalmente devido ãos maciços investimentos na indústria de base. Após a Segunda Guerra, várias nações do Leste-Europeu e de outros continentes, adotaram o Socialismo.
A disputa para conseguir cada vez mais aliados entre dois blocos, o socialista, liderado pela União Soviética e o capitalista, encabeçado pelos Estados Unidos, com atitudes imperialistas, de ambas as partes. Esta disputa recebeu o nome de “ Guerra Fria “, o que levou a uma gigantesca corrida armamentista.
No final da década de oitenta, por falta de democracia e de rotatividade no poder, pelos privilégios dos funcionários burocráticos e pela crise econômica, um a um destes países saíram do Bloco Socialista.
A União Soviética acabou. Meu pai, um ex- bolchevique e grande socialista, teve um ataque cardíaco ão ver descer a bandeira soviética. Hoje quando vejo o Capitalismo reinar mundialmente com seus cartéis e similares, encho-me de desâninimo e desgosto.

Depois segue-se o relato do alemão:
- A Alemanha só conseguiu se unificar no fim do século XIX. Antes disso o poder imperial era muito pequeno e estava diluído nas mãos dos senhores feudais. O principal articulador da unificação foi Otto Von Bismarck. Por disputas comerciais e territoriais, se envolveu na Primeira Grande Guerra.
Derrotada, teve de pagar enormes indenizações isto gerou uma grave crise econômica, o que facilitou a chegada de Adolf Hitler ao poder. As idéias expansionistas dele, provocaram a Segunda Grande Guerra. Nova derrota alemã. Durante quarenta anos tivemos nosso território dividido em dois, por um muro. O odioso Muro de Berlim, ou Muro da Vergonha, separava a Alemanha Ocidental, capitalista, e a Alemanha Oriental , socialista. Este muro foi derrubado pelo povo em 1989. Reunificada desde 1990 a Alemanha é hoje uma das principais potências econômicas do mundo.
- Agora é a minha vez - disse o nipônico - O Japão tem uma história milenar. Ficamos meio isolados do mundo até o século XIX, quando abrimos os portos às nações amigas. Teve início a Era Meiji, Era das Luzes.
Tornamo-nos potência econômica e militar. Ganhamos guerras, mas nos aliamos à Alemanha e à Itália na Segunda Grande Guerra. Derrotados, tivemos duas cidades complemente destruídas por duas bombas atômicas lançadas pelos norte-americanos. Milhares morreram inclusive meus pais e meus avós.

A muito custo nos reerguemos. Atualmente somos uma potência econômica e o país mais avançado tecnologicamente. Reconheço que a ajuda financeira norte-americana foi vital para que isto acontecesse, mas nem por isso nem por nada, me esqueço das vítimas de Hiroxima e Nagasáki.
Por último falou o norte-americano:
- Invejosos é o que vocês são. Invejam nosso rápido desenvolvimento após a independência frente à Inglaterra. Invejam nossa estabilidade política e econômica. Invejam nosso poderio militar. Invejam nosso enorme peso nas questões internacionais. As palavras-chaves do nosso desenvolvimento são: estabilidade, previdência, organização e sobretudo seriedade. Justamente o oposto das nações latino-americanas.
Vejamos, por exemplo, o Brasil, que em menos de duzentos anos de independente, já teve oito constituições, ou seja, mudou de rumo oito vezes. Para que maior prova de desorganização e falta de visão quanto ao futuro a longo prazo? Isto sem falar das constantes mudanças de regime e forma de governo e, sobretudo, de moeda.

Na maioria dos países latino-americanos, moldam-se as Constituições aos governos, quando, o correto é justamente o contrário. E ainda querem nos culpar pelo seu subdesenvolvimento.
Interiormente sabia que a crítica do norte-americano tinha muita razão de ser. Eu mesmo já tinha escrito muitos artigos condenando a instabilidade legislativa brasileira. Mas o que me irritou foi a arrogância do norte-americano. Minha postura foi semelhante a de um pai, que repreende duramente seu filho todo dia, às vezes recorrendo a castigos e palmadas, mas que perde totalmente o autocontrole ao saber que uma pessoa, que não seja da família, tratou mal seu filho. Chamei-o, o norte-americano e seus compatriotas de “ SANGUESSUGAS “. Ele revidou com um gesto obsceno. E assim começou a balbúrdia.
A partir daí começou uma discussão generalizada. Os europeus se acusavam, uns aos outros. Quem invadiu quem, quem bombardeou quem na Segunda Grande Guerra. O russo lastimava o domínio total do capitalismo.
Eu, a sul-africana e o indiano culpávamos o norte-americano e o inglês pelo subdesenvolvimento de nossos países. Estes nos chamavam de indolentes. O japonês continuava a acusar os EUA de covarde, devido as duas bombas atômicas, lançadas contra seu país, quando este já estava praticamente derrotado. Em revide, o norte-americano lembrava o ataque à base aérea de Pear Habor.
Sem contar a tradicional rivalidade entre o árabe e o judeu. A africana criticava duramente a forma autoritária com que os árabes tratam as mulheres. O adepto de Maomé, em represália, fazia maldosas insinuações sobre a feminidade e conduta moral de sua acusadora.
A situação era tensa. Punhos cerravam-se. Vozes se elevavam. Creio que ocorreria agressões físicas, se o nosso anfitrião não disparasse um raio de luz para o alto. O silêncio se fez e ele falou:
- Desculpem! Não tive outra alternativa. Quando vocês compreenderão que a violência não leva a lugar algum? Particularmente acho impossível um único sistema político, econômico, social e religioso conseguir ser aplicado em todo o mundo e satisfazer toda a humanidade. Os povos têm realidades e necessidades muito diferentes. Cabe a cada povo achar seu próprio caminho. E esta opção tem de ser respeitada pelos demais. O Capitalismo pode ser ótimo para alguns países, mas já se mostrou péssimo para outros. A adesão a qualquer idéia tem que ser espontânea.
Por exemplo: se eu torturar um de vocês, para que abrace meus princípios, das duas uma: Ou concordará comigo puramente para se livrar da tortura, ou preferirá a morte do que abdicar de suas convicções. Pondo de lado a hipnose e lavagem cerebral, duas enormes violências, é impossível mudar a mentalidade de alguém sem sua permissão, seu desejo. Guerras, atentados e outras violências só fazem aumentar o ódio, o temor e repulsa em relação àquele grupo. Isto para mim é mais do que óbvio.
- Finalmente quem é você? Indagou o inglês.
- De onde você veio? Interrogou o indiano.
- Quais seus planos para com a Terra ?Invasão? Quis saber o norte-americano.
- Calma. Responderei a todas as perguntas contando a história de minha civilização. Por favor, prestem atenção. E passou a fazer seu relato.

4
- Venho de um planeta distante e pequeno em comparação com a Terra. Um planeta muito desenvolvido tecnologicamente. Muito cedo aprendemos a manipular a energia nuclear, principalmente para o setor armamentista. Temos duas civilizações muito distintas em todos os aspectos. As guerras eram constantes. Raros e curtos eram os períodos de paz.
Mas guerras cansam, machucam o corpo e a alma, entravam o progresso. Tudo isto fez com que se iniciassem as negociações de paz. Demorou, mas foi assinado um acordo de paz. Festa geral. Mas setores radicais, de ambos os lados, arquitetaram um plano para reacender a guerra. Eram radicais líderes políticos, militares, religiosos, além de representantes da rentável industria armamentista. O plano deles era lançar uma bomba nuclear, o outro lado imediatamente revidaria e a guerra recomeçaria.
As autoridades descobriram. Elas chegaram na sala onde ficavam os painéis de controle bem no momento em que um dos nossos mais renomados cientistas, que havia sido subornado, acessava os códigos para o lançamento dos mísseis nucleares. Houve troca de disparos de lazer. O cientista mortalmente ferido, acabou caindo de bruços sobre o painel . Foram disparados cinco mísseis de modo completamente aleatório. Dois para cada civilização. O quinto caiu no nosso único oceano.

Milhares de mortos foi o efeito imediato. Os posteriores foram constantes terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, bruscas alterações climáticas, aridez de solos até então férteis, doenças hereditárias e infertllidade. O míssil que caiu no oceano exterminou a fauna e a flora marinhas, além de reduzir drasticamente o fornecimento de água.
Mas esta tragédia serviu ao menos para unir as duas civilizações. Nada melhor do que a necessidade, principalmente a fome e a sede, para colocar um basta em antigas rivalidades. Desde então começou a reinar a paz, a tolerância e a ajuda mútua. Levamos meio milênio, eu disse meio milênio, para nos recuperarmos totalmente. Quando isto aconteceu, nos comprometemos conosco mesmos, a alertar outros planetas sobre os perigos das armas nucleares.

Ão dizer isto, acenderam-se atrás dele oito telões. Todos eles com incrível nitidez. Quatro deles mostravam as nossas belezas naturais: Floresta Amazônica, as tundras, os meios aquáticos, florestas temperadas, os desertos e as regiões polares. Aparecia também os principais dados e espécies de cada ecossitemas.
Os outros quatro exibiam os mais belos monumentos construídos pelos homens: a torre Aifel, a Estátua da Liberdade, as Pirâmides, o Coliseu, a Torre de Pisa, o Vaticano, a muralha da China, o Museu do Louvre, o Big-Ben, as mesquitas de Meca, o Cristo Redentor, as ruínas de Jerusalém, a Praça Vermelha de Moscou, templos budistas e hindus, entre outros.
De repente uma série de gigantescas explosões destrõem, aniquilam, pulverizam tudo. Nos telões, onde antes via-se as obras-primas de Deus e dos homens, agora só se viam destroços. Imagens muito fortes.
- Não se preocupem trata-se apenas de uma projeção - disse o anfitrião - Se esta projeção assustadora se tornará realidade depende da raça humana. Hoje tudo tende a aproximação dos homens. Notícias correm com extrema velocidade via satélites., rádios, revistas e jornais. Através da Internet viaja-se pelo mundo sem sair de casa. Enciclopédia que até bem pouco tempo atrás, eram pesadíssimas, já cabem em um disco lazer que pode ser colocado no bolso. . Cinco pessoas em cinco nações diferentes, já podem decidir importantes assuntos, -sem sair de seus respectivos países, graças a tele-conferência.
Não há povo, que não tenha sofrido e exercido influencias de outros. A pessoa pode sequer não fazer idéia de onde fica a China, mas todos os dias comem arroz e macarrão, dois alimentos de origem chinesa. O mesmo acontece com feijão oriundo da África e o café proveniente dos países árabes. As crianças mais pobres nem imaginam que seu divertimento predileto, o futebol, veio de um país distante chamado Grã-Bretanha.
Milhões de pessoas utilizam diariamente o automóvel, mas pouco se lembram do francês José Cunot, seu inventor. Com Santos Drumond, o Pai da Aviação e do relógio de pulso dá-se o mesmo.

Até civilizações já extintas há milênios, deixaram ,suas heranças muito úteis até hoje. A Grécia Antiga contribuiu na Ciência e na Filosofia e com a criação das Olimpíadas. A Romana contribuiu no campo do Direito. A partir do latim, lingua falada neste império, originaram-se vários dos idiomas modernos como o francês, português, romeno, espanhol e italiano.
Da mesotapotamia vem a divisão do dia em vinte e quatro horas, do ano em trezentos e sessenta e cinco dias e do circulo em trezentos e sessenta graus. Vejam, que só citei coisas corriqueiras. A arquitetura contemporânea deve ãos antigos egípcios, com suas incríveis pirâmides. Também do Egito surgiu o papiro, do qual se originou o papel. Dá para imaginar vida atual sem papel? Rigorosamente não.
Como vocês vêem , a interligação entre os povos já é milenar. E a tendência é aumentar cada vez mais. Unificam-se moedas, impostos, tarifas, e sistemas de pesos e medidas. Tudo tende a união, ão reagrupamento. Quem sabe se esta não foi um meio encontrado pelo Grande Arquiteto do Universo, de começar uma Nova Era. Era de paz, igualdade e amor.
Deus não privilegia povos. As injustiças existentes são invenções puramente humanas. Deus é imparcial. Olhem os quatro elementos da natureza: água, fogo, terra e ar. A água que sacia árabes, mata também a sede dos judeus, cristão, budistas e ateus. O mesmo fogo que cozinha o kibe muçulmano, ferve o chá do inglês, aquece a feijoada oriunda dos negros. A terra pisada e explorada pelos povos ricos, é a mesma dos pobres. Não há ser humano que possa dispensar o oxigênio do ar. Ar que está em toda parte para homens bons ou maus.
Outro exemplo disso é o movimento de rotação da Terra. Vocês sabem que este movimento da Terra em torno de seu eixo, que origina o dia e a noite. Supunhamos que seu planeta estivesse estático, parado no espaço. Uma face estaria permanentemente iluminada, enquanto a outra sempre ficaria na escuridão.
A metade iluminada, não poderia contemplar a beleza de céu estrelado, os seresteiros não teriam a lua para inspirá-los, o rendimento poético cairia, visto que a maioria deles criam suas obras durante a madrugada devido a maior tranqüilidade deste horário , as pessoas teriam menos oportunidade de lazer, visto que as festas mas interessantes acontecem depois que o sol se põe e pior, isto poderia trazes males a saúde, visto que já estar provado cientificamente que o sono durante o dia, seja pela luminosidade, seja pelo maior quantidade de ruídos, não tem a mesma qualidade do sono noturno.

Já os habitantes da parte onde reinaria eternamente a noite, não iam poder apreciar o belíssimo espetáculo do nascer do sol, precisariam produzir uma quantidade de energia muito grande para iluminar suas ruas vinte e quatro horas por dia, seus moradores com o passar do tempo, desenvolveriam uma demasiada sensibilidade a luz solar, a vegetação seria muito pobre, pois devido a falta de iluminação solar e ainda falando em fotossíntese a produção de oxigênio, também seria muito prejudicada.
Mas graças a bondade e sabedoria do Grande Arquiteto do Universo, todos os povos, cada um a seu turno, gozam as benesses tanto do dia quanto da noite. Vocês poderão argumentar que as características climáticas, de relevo, de vegetação são muito diferentes. Certamente o são. Mas notem que Nosso Pai nunca deixa Seus filhos no desamparo.
Tanto o esquimó quanto o nômade do Saara, habitantes de regiões onde a sobrevivência é muito difícil, possuem técnicas que os fazem viver bem, dentro das circunstancias, em plena harmonia com a natureza que o cercam. A própria Biologia já afirma com segurança, que as espécies, no decorrer do tempo, se adaptam ão seu habitat.
Perceberam a imparcialidade de Deus? Qual o pai que gosta de ver desunião entre seus filhos? Não haverá espaço suficiente para todos? Os habitantes das florestas pertencem a mais diversas espécies, nem por isto a mata cai no cãos, a menos que o homem interfira. Se seres irracionais conseguem esta convivencia pacífica, porque o homem não?
Sempre que falo sobre a necessidade de união dos povos, empolgo-me e acabo exagerando no otimismo. Agora há pouco isto aconteceu. Do jeito que falei, parece até que a Terra já livrou-se de todos os seus problemas. Leda ilusão! A partir de agora, além do desafios tradicionais, novos aparecerão.
A globalização da economia, pode ser benéfica a humanidade, mas por outro lado, pode aumentar a dependência das nações pobres ante as ricas. Devido a interligação dos mercados, uma crise econômica aparentemente local, pode ampliar-se e passar a ter conseqüências mundiais muito graves. As disputas por mercados podem provocar conflitos entre blocos econômicos diferentes, ou até mesmo dentro de um mesmo bloco. Lembrem-se de que a Primeira Grande Guerra teve por principal motivação questões territoriais e comerciais.
A “ Guerra Fria ” apesar de tudo, de toda tensão que provocava, os países continham-se um pouco suas rivalidades, com medo que o conflito se generalizasse e destruísse toda a humanidade. Agora com a desarticulação das antigas alianças militares, antigas animosidades podem voltar revigoradas, provocando assim o aumento dos confrontos armados.
A automação inegavelmente aumenta muito a produtividade das industrias e no campo. Mas se não houver cautela e planejamento, provocará desemprego, em até alguns casos de certas profissões, em caráter definitivo, tanto na zona rural como na urbana. Este desemprego poderá desembocar no aumento da ociosidade, da criminalidade, das atividades ilegais como tráfico de drogas e prostituição e de conflitos sociais.
A automação exigirá cada vez mais pessoas instruídas e tecnicamente preparadas. Agora eu pergunto: Qual o futuro dos países onde a maioria da população é analfabeta? Provavelmente uma subserviência cada vez maior. Quais as perspectivas desses indivíduos? Isto não ajudará a aumentar a dependência destes povos frente ãos poderosos ?
Outra grave questão são as desigualdades econômicas, sociais e culturais. Isto acontece entre países, entre regiões de um mesmo território e até mesmo entre bairros de uma mesma cidade, muito próximos entre si. De um lado luxo, sofisticação e beleza, do outro miséria, mesmice e falta do essencial para se viver. Até quando a coexistência desses “ dois mundos ” será pacifica? Sinceramente ignoro.
Não podemos esquecer a problemática ecológica. Por causa da ganância humana lagos, rios e oceanos são contaminados, o ar fica poluído, os índices de poluição sonora e visual elevam-se brutalmente, florestas e espécies animais e vegetais somem, aparecem enormes erosões e o buraco na camada de ozônio fica cada vez maior.
Mas cuidado com os “ ecologistas de asfalto ”. Aqueles que preocupam-se com a extinção de determinada espécies no outro hemisfério, mas ficam indiferentes ão saber que um ser humano está morrendo de fome na esquina mais próxima.
Isto sem falar da violência, da cada vez maior atuação dos cartéis, lobbes e coisas assim, da corrupção, das drogas e alcoolismo, da prostituição, da injusta distribuição de terras, do enorme aumento populacional das grandes metrópoles e dos problemas derivados disto, do desrespeito com que algumas socieadades tratam suas crianças e seus idosos, do stress, do terrorismo, da sempre crescente dívida externa dos países do Terceiro Mundo, preconceitos em geral, da substituição das culturas nacionais por outra estrangeiras, da proliferação de falsas e fanáticas religiões, o desmantelamento da instituição familiar, entre outros.
Estes são problemas coletivos, mas existem outros de ordem subjetiva. No futuro uma pessoa pode ter uma grande amizade do outro lado do mundo, mas ter pouquíssimo contato com o vizinho, ou com o colega de trabalho da mesa ão lado. Viajar, ir ão teatro, cinema e bibliotecas, para que? O videocassete e as TV’s pagas resolvem.

Diálogo familiar, só durante os intervalos da televisão. Isto é, quando os membros familiares não estiverem em seus respectivos quartos. O erro, na sociedade do futuro, serão cada vez menos admitidos e pedoados. A competição cada vez mais acirrada, poderá se transformar em rivalidades, abrindo caminho para ações condenáveis moralmente. Assim, a frase do filósofo inglês Thomas Hobbes que :” o homem é o lobo do homem “, poderá tornar-se, infelizmente, cada vez mais, verdadeira e atual.
Outro enorme desafio dos tempos vindouros, é desenvolver todas as capacidades humanas. Einstein, com toda sua genialidade, utilizou apenas 10% de sua capacidade mental. Quanto uma “ pessoa comum ” utiliza? 5%? 3%? Ou será menos de 1%?
Racionem comigo: se com menos de 10%, o homem já cria satélites, já produz fabulosos computadores, eletrodomésticos e máquinas. o que não aconteceria se utilizassem um percentual maior?
Isso não se aplica exclusivamente ão cérebro. O homem considera-se o ponto mais elevado da criação divina. Suponhamos que seja verdade: Então porque a audição dos cães é muito superior a humana? Porque os humanas tiveram de buscar inspiração nos morcegos, com seu excelente senso de orientação, para construírem seus radares? Os castores não foram quem deram subsídios para que a raça humana, muito, muito depois, edificassem suas barragens? Seriam estas espécies superiores a vossa? Não creio. É tudo questão de aprimorarem, de desenvolverem as potencialidades que vocês já têm, mas não são usadas.
E neste dia, a humanidade compreenderá que muito daquilo que hoje é considerado “ fenomenal ”, “ milagre “, são simples capacidades acessíveis a qualquer um, desde que predisponha a estudar e burilar-se em todos os aspectos. Tomara que quando isto aconteça, estas novas habilidades sejam postas a serviço da coletividade.
Para finalizar quero lembra-nos dos excepcionais. Sim dos excepcionais. Até a tragédia acometeu meu planeta, tratavam muito mal os excepcionais. Minha civilização por ter grande avanço tecnológico e elevado grau de competitividade, só queria pessoas produtivas, atuantes, profissionalmente preparadas. Não tínhamos tempo a “ perder “. Muito bem, na época da reconstrução, quando precisávamos de toda e qualquer ajuda, estas pessoas, os excepcionais colaboraram. Alguns trabalhavam tanto quanto os “ normais ”. Outros davam ajuda puramente simbólica, mas montravam tanto entusiasmo que acabavam motivando os outros.

Aprendemos assim a nunca menosprezar a capacidade e a ajuda de ninguém. Esperamos que o progresso da Terra sirva para integrar cada vez mais os excepcionais à sociedade. Lembrem-se que o amanhã é incerto. Hoje a pessoa goza de todas suas faculdades, mas no dia seguinte....... Um derrame, um tiro, um acidente automobilístico ou uma simples queda no banheiro pode tudo alterar.
Aliás, devido as conseqüências das explosões atômicas, muitos daqueles que se achavam de forma arrogante “ brilhantes ”, ” geniais ”, passaram a depender muito da colaboração alheia. Não que isto seja humilhante, vergonhoso, mas foi uma prova inequívoca de quanto somos frágeis e quanto todos precisam da ajuda de todos. O processo de formação do corpo, é tão complexo que é quase um milagre a maioria nascer sem alguma deficiência.
Não trata-se de piedade. Trata-se de amor e respeito ão próximo. Toda terra devidamente trabalhada rende frutos. Cabe lembrar que o maior físico da atualidade da Terra, o inglês......, teria aparentemente tudo para ter uma vida meramente vegetativa, mas ão contrário produz tanto que já entrou para a galeria dos gênios da humanidade. Repito. Só esperamos que o avanço tecnológico não sirva para segregar ainda mais estas pessoas, mas sim ajudar no seu desenvolvimento em todos os aspectos.
Neste momento o alemão pede e obtém a palavra:
- Desculpe, mas você está contradizendo-se. Primeiro faz uma maravilhosa apologia dos tempos futuros, depois faz este “ rosário ” de considerações pessimistas. Não entendi.
- Não, contradisse-me não. Apenas abordei os dois lados da mesma questão. A Terra pode sim entrar numa nova e feliz Era sim, mas pode também enterrar-se cada vez mais em seus vícios e erros. Dependerá do modo que as coisas forem conduzidas. Livre arbítrio é isto.
Um químico pode usar seus conhecimentos para produzir medicamentos ou tóxicos. Um avião pode transportar alimentos e remédios, ou carregar em seu bojo letais armas convencionais ou nucleares. A política de alto nível desenvolve um país. Já a “ politicagem ” gera subdesenvolvimento.
A genética pode e deve trazer enormes benefícios à humanidade, mas pode também, prestem atenção nisto, se cair em mãos erradas atender interesses fúteis e até discriminatórios. A generalização dos computadores, pode diminuir o analfabetismo, ou fazer com que as pessoas menos instruídas sejam cada vez mais discriminadas e excluídas das decisões sociais.
Lembrem-se que o cérebro e as mãos, são ão mesmo tempo os instrumentos mais eficientes, tanto para as ações mais nobres, como para as atitudes mais vis. A palavra, escrita ou falada, possuem um enorme potencial construtivo, assim como também têm uma gigantesca capacidade destrutiva. Questão de livre arbítrio, de opção.
A escolha, como vêem é livre, mas fugir das conseqüências, boas ou más, é impossível. Mas não disse tudo isto à toa. Quero saber qual de vocês aceitam levar esta mensagem ãos terráqueos?


- Mas nenhum de nós exerce cargo governamental. - .ponderou o inglês -. Como poderemos ajudar?
- Sabemos disso - afirmou o anfitrião - Diversas vezes tentamos influenciar os potentados terrestres. Raras ocasiões logramos êxito. Alguns não entenderam, outros não quiseram compreender e se acomodaram.
Vocês todos são intelectuais e gozam de grande respeitabilidade dentro das respectivas sociedades podendo assim modificar mentalidades. Não peço que mudem toda a humanidade, essa tarefa compete a todos os indivíduos, mas que pelo menos lancem estas importantes sementes. Não será nada fácil.. Interesses mesquinhos se levantarão contra voces. Muitas vezes, vocês serão chamados de traidores e visionários. Se algum de vocês não aceitar, será compreensível.
Foi minha vez de indagar:
- Se aceitarmos vocês, seres de outros mundos, nos ajudarão? Como? Quando?
--Sim ajudaremos. - respondeu o anfitrião - Aliás há séculos que ajudamos. Inúmeras vezes seres iluminados, foram enviados a seu mundo a fim de ajudá-lo a se desenvolver, e4m todos os aspectos. Contato mais direto do ponto de vista coletivo, dependerá do crescimento moral dos terráqueos.
É uma forma de evitar um deslumbramento excessivo e prejudicial por parte de vocês e também, um meio de nos proteger. Lembre-se do que ocorreu por volta dos séculos XV e XVI, quando os europeus chegaram à América. Nesta época devido a um misto de arrogância e ambição, exterminaram brilhantes civilizações como os Incas, Astecas e Maias.
Não queremos nem podemos correr o risco de que aconteça o mesmo conosco. Se vocês entre si vivem em constante conflito, que dirá com seres de outro orbes.
Todos aceitamos. De mãos unidas oramos pela paz. Cada um do seu jeito, mas todos embuídos da mesma fé. Depois todos nós fomos reconduzidos a nossos respectivos países. Éramos outras e novas pessoas. Menos radicais, menos presunçosos. Nenhum de nós abdicou, ou tentou impor suas idéias. Haviámos compreedido que tal atitude era pura perda de tempo, e de energia.


EPÍLOGO

Tenho conseguido manter contato com todos que participaram comigo desta incrível experiência. O inglês e o alemão, têm se destacado como dois dos mais apaixonados e eficientes articuladores da União Européia. Dificuldades estão surgindo, nem podia ser diferente, mas com diálogo estão sendo superadas.
O francês é pintor. Fez uma exposição sobre paz e guerra. Ele conseguiu relatar muito bem o incrível contraste entre a harmonia e a desunião, entre mútua cooperação e a completam destruição. Já o russo, que é coreógrafo, montou um espetáculo de ballet, onde apresenta danças de todo o mundo. Belíssimo. Figurinos excelentes. Além disso tem alertado, através de ótimos e equilibrados, para os perigos do capitalismo selvagem.
A Sul-africana usou seus dotes de escultora e retratou os sofrimentos impostos secularmente ãos negros. Mostrou a dura vida nos navios negreiros, guetos, favelas, nas ruas e prisões. Mas mostrou o lado positivo. Esculpiu negros dançando rappy e raggae. Fez estátuas de Pelé, Luther King, Michael Jordan, bispo Tutu, cantores de Jazz e Blus, Mandela, Zulu, Zumbi, , integrantes do Oludum, líderes da Revolução no Haiti, entre outros.
Tanto ela, como o russo e o francês excursioraram pelo mundo, sempre com grande sucesso. E assim têm conseguido, dentro de suas possibilidades, diminuir os preconceitos, sejam eles quais forem.
O japonês mudou sua maneira de pensar. Antes ele guardava dentro de si uma grande dose de rancor contra os norte-americanos. Já agora seu intuito é impedir que outros países passem pela traumática experiência atômica que Japão passou. Se tornou um renomado pacifista defensor do meio-ambiente.
O norte-americano deixou de ver seu país como centro do planeta. Criou uma fundação que promove o intercâmbio turístico-cultural com vários países, inclusive latino-americanos. Politicamente, uma vez que é congressista, tem defendido um Estados Unidos menos intervisionista no âmbito internacional.
O árabe e o judeu tem exercido um importante papel no processo de paz. O assassinato de Isac Rabin foi um enorme choque para eles. Todavia, passado o impacto inicial, eles reconheceram que as negociações de paz já ultrapassava a figura física de Rabin, para se tornar uma necessidade do Oriente Médio e de todo mundo.
Uma das imagens mais marcante que já vi, foi o último natal, 1995, na palestina, quando judeus, muçulmanos e cristãos comemoraram lado a lado, com plena harmonia, o nascimento de Cristo.
Acho profundamente interessante o que aconteceu com o líder palestino Yasser Arafat. Há dez anos era considerado um terrorista. Agora ele é um dos principais líder pacifistas do mundo. E foi justamente quando trocou os atentados pelo diálogo, que os palestinos obtiveram suas maiores conquistas.
Eles dois também têm defendido frente a suas respectivas sociedades, maior respeito para com as mulheres. Isto devido ão ambiente em que vivem, denota uma coragem e firmeza de opiniões.
A tarefa mais difícil é do indiano. Mudar a mentalidade de um país superpovoado, é um trabalho a longo prazo. Longo prazo mesmo. Séculos. Mas o meu amigo, juntamente com outras pessoas estão lançando sementes, que um dia crescerão e frutificarão.

Um fato que alegra-me é que todos os meus amigos, inclusive eu, mudaram nosso jeito de pensar quanto os excepcionais. Passamos, cada um à sua maneira, a lutar por um tratamento melhor, mais digno ãos portadores de necessidades especiais, em nossas respectivas sociedades. Aliás não só ãos excepcionais, mas a todos seres humanos, sem quaisquer preconceitos.
Quanto a mim, além disso, tenho trabalhado em três frentes. Tenho tentado contribuir para o crescimento e aperfeiçoamento do Mercosul. Além disso tenho escrito muito artigos para jornais, onde exponho minhas idéias, Não de forma arrogante, mas com o simples intuito de ajudar. Tenho “ feito a cabeça ” de muitos, assim como tenho sofrido influências benéficas de outros. Acho esta troca de idéia, algo muito enriquecedor.
Mas o que mais alegra, é a pesquisa que tenho feito sobre o Brasil. É simplesmente impressionante a variedade de culturas, tradições, vocabulários, lendas, ritmos, pratos, religiões e aspectos físicos.
Busco coletar material para um futuro livro. Neste livro buscarei ressaltar as nossas tradições e nossa gente. Falarei do Carnaval, da Folia de Reis, das Festas Juninas, Festa de Peão, Congadas dos nossos bons cantores, compositores, atores, atrizes, músicos e intelectuais.
O trabalho felizmente está muito adiantado. Alguns julgam contraditório este meu lado nacionalista com meu lado liberal. Não penso assim. Habito o Brasil, assim como habito a Terra. Não é por amar minha família que desprezarei o resto da humanidade, nem vice-versa.
Quanto a seu Domingos, aquele que referi-me no início da estória, ele morreu. vítima de problemas de saúde próprios da idade. Morreu? Será que alguém morre? A árvore que dá origem a uma mesa, não continua, de certa maneira viva e útil?
Homens como Cristo, Nentow, Buda, Confúcio, Eistein, Mãomé, Da Vinci, Gandhi, Pitágoras, Michangelo, Simon Bolívar, Tomas Edson e muito outros, não continuam vivos em outras esferas superiores, ou até aqui mesmo através dos extrãordinários legados que deixaram para a humanidade? Assim sendo seu Domingos não continuará vivo, sempre que alguém contar ou ouvir suas estórias? Penso que sim.

Há mais um fato que aumenta esta minha certeza. Como ele sempre havia morado naquela fazenda, não fazia sentido enterrá-lo num cemitério. Seria muito impessoal. O enterramos perto de sua casinha.
As crianças para homenagená-lo, plantaram margaridas, flor predileta dele, nesta área. Pouco tempo depois a quantidade de flores era três vezes maior do que a original. Estas flores, belíssimas por sinal, estão agora na escolinha, na capela, em todas janelas, varandas e quintais das casas da fazenda. São, por assim dizer, provas definitivas de que seu Domingos continua mais vivo e pujante do que nunca. Penso que aqui cabe as palavras do personagem bíblico Job, quando este disse que a morte é apenas uma mutação para um estágio melhor, mais feliz.
Muitos considerarão esta estória meramente ficcional. Não me importo desde que a mensagem dela seja fixada por todos que a lerem no cérebro e no coração. Lembremos sempre que temos UM SÓ MUNDO. Esta frase tem duplo sentido. Significa que temos de cuidar muito bem dele, pois não temos outro, pelo menos por ora e também que ele pertence de modo igual a todos filhos de Deus.

Evaldo J. L. de Oliveira`

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