VEZ OU OUTRA, EM MEUS CISMARES, PONHO-ME A PENSAR LONGAMENTE SOBRE ACONTECÊNCIAS DO RAMERRÃO DIÁRIO, FILOSOFIA BARATA E PROVINCIANA, INDOLOR E INODORA, NÃO RARAMENTE CONDIMENTADA POR UMAS POUCAS PITADAS DE HUMOR QUE, SE PARA MAIS NÃO TEM VALIA, QUANDO MENOS, MORDISCA A INTELIGÊNCIA DAQUELES QUE PERDEREM SEU TEMPO VALIOSO COM A LEITURA DOS MEUS DESARRAZOADOS ALFARRÁBIOS.
HOJE, COINCIDENTEMENTE, AO VISLUMBRAR DUAS FIGURAS TÍPICAS DO PUXA-SAQUISMO REUNIDAS, LEMBREI-ME DE UMA HISTORIETA LEVE QUE MINHA AVÓ CENTENÁRIA COSTUMAVA CONTAR...
ERA UMA VEZ...TODA HISTÓRIA QUE SE PREZA DEVE COMEÇAR COM UM INDEFECTÍVEL E R A U M A V E Z. POIS BEM, ERA UMA VEZ UM REI MUITO SÁBIO QUE REINAVA DE MODO TÃO SUAVE QUE OS SEUS SÚDITOS NEM PERCEBIAM QUE ERAM GOVERNADOS NUM REGIME ABSOLUTISTA. O REI OUVIA OS MAIS ANTIGOS, ACONSELHAVA OS MAIS JOVENS E, UM DIA POR SEMANA, RECEBIA O POVO EM AUDIÊNCIA.
ELE CRIOU, NO SEU REINADO, A FIGURA DE UM PRESIDENTE DA CORTE QUE, A CADA DOIS ANOS, ERA SUBSTITUÍDO POR OUTRO MEMBRO DA CLASSE ESPECIAL, COMPOSTA DE SEIS PESSOAS DE SANGUE NOBRE, ELEITA A CADA BIÊNIO.
O REI DELEGOU TANTA FORÇA E TANTO PODER AO PRESIDENTE DA CORTE A PONTO DE DESPERTAR INVEJA E COBIÇA EM TORNO DA POSIÇÃO.
OBSERVADOR ASTUTO, O NOBRE REINANTE COMEÇOU A PERCEBER QUE, QUANDO SE APROXIMAVA A ÉPOCA DAS ELEIÇÕES, SOBRE O JARDIM OU POMAR DO PRÓXIMO PRESIDENTE, POR UMA ESTRANHIO FENÕMENO, INCONTÁVEIS COLIBRIS SE PUNHAM A ADEJAR ELEGANTEMENTE AO DERREDOR DAS FLORES. OS PEQUENOS REMÍGIOS DAS FRÁGEIS AVEZINHAS, ENCANTAVAM A VISTA DE TODOS QUANTOS SE DEIXASSEM ENLEIAR POR AQUELA COLORIDA E TRÊFEGA PAISAGEM...
DEPOIS, ELEITO O CANDIDATO, O CENÁRIO AINDA PERMANECIA POR ALGUNS MESES ATÉ QUE, DE CERTO DIA EM DIANTE, COMO NUM PASSE DE MÁGICA, OS COLIBRIS BATIAM AS ASAS E SUMIAM...
MAS, OUTRO FENÕMENO INEXPLICÁVEL OCORRIA: DE REPENTE, COMO NUM POEMA DE POE OU NUM SONETO DE AUGUSTO DOS ANJOS, GRANDES E PESADAS ASAS SURGIAM ENSOMBRECENDO O CÉU QUE COBRIA OS JARDINS DAQUELE PRESIDENTE CUJO PERÍODO DE MANDO ENTRAVA NO OCASO: ADIPOSOS ABUTRES SOBREVOAVAM AQUELE ESPAÇO DE MODO PERTURBADOR...
ENTÃO, O REI CONCLUIU: OS PUXA-SACOS, NO INÍCIO DE QUALQUER GESTÃO, TAL E QUAL OS COLIBRIS, ADEJAM COLIRIDOS, LEVES, FAGUEIROS E BELOS, ADIVINHANDO OS ESCONDERIJOS DAS FLORES E AS ALEGRIAS DO JARDIM. DEPOIS, COM O PASSAR DOS DIAS, CEVANDO-SE À CUSTA DAS IGUARIAS E DA SEIVA DO PODER, ESTIMULAM O SURGIMENTO DE AVES SINISTRAS, IMENSAS, PESADAS E SUFOCANTES, TAPANDO O SOL QUE DEVE BRILHAR NO DEALBAR DOS DIAS.
A VIDA, AMIGOS, É ASSIM MESMO, FEITA DE RETALHOS DO COTIDIANO, NÓS, OS ESCRIBAS, VAMOS CONTANDO E TRANSFORMANDO TUDO EM VERSO E PROSA PARA AQUELES QUE TÊM OLHOS PARA VER, OUVIDOS PARA ESCUTAR, PORÉM, POR APATIA OU AUSÊNCIA DE VONTADE, PREFEREM COLHER AS IMPRESSÕES REGISTRADAS POR TERCEIROS.