Uma caminho uma vez percorrido, algumas vezes
pode ser traçado com uma imagem daqui e outra
dali, mas como identificar um em meio a dezenas de pessoas correndo.
Esta foi a primeira das perguntas que me ocorreram quando eu comecei a tentar juntar as
imagens das diversas camêras de segurança, adianta, volta, rebobina, muda, aqui, ali, quem já fez isso, sabe que procura por um momento
exato, por uma imagem exata, por um ou dois
segundos que mostram aquilo que ser quer ou
que se precisa ver, nem sempre está lá, mas
com o tempo vem a perfeição, eu sabia que não
podia me concentrar no depois do empurrão, o
que eu precisava era o antes, o antes me consumia, uma imagem, uma capa negra, outra imagem, uma mão enluvada, mais outra, um rosto
como o de um boneco, como um daqueles que se
usam em comerciais de carro com acidentes, foi
esse o rosto que surgiu nas imagens, na primeira
vez que eu o vi, eu senti um arrepio, é preciso
algo muito errado para que eu me arrepie, mas
esse algo estava lá.
Não era possível dizer se ele era branco, negro ou asiático e foi então que eu notei que ele não
iria ficar com uma só morte, que ele não queria
parar, que aquilo era um impulso ao qual ele,
o assassino, havia deixado de resistir, que agora o dominava.
Não podia ver seus olhos, eram como uma marca
negra sem distinção, havia uma imagem, ele fora
cuidadoso.
Sou um homem que deixou de acreditar no acaso a algum tempo, especialmente na minha linha de
trabalho, acidentes não acontecem, tudo tem seu
lugar e seu caminho para estar alí.
Eu congelei a imagem e ficamos juntos como
se encarando através de uma tela de computador,
eu e algo doente, que empurrara aquele menino
para a morte aparentemente sem motivo.
O boneco sem expressão me olhava, sem expressão nenhuma, como se não se importasse...
Caçada ao Assassino.
Cap. 2 - Um luar nas Trevas
Lorcar.