Quando visitei, ano passado, a Serra das Araras Azuis, fiquei muito impressionado com a beleza insólita do lugar. Mas, algo me dizia, que aquele encanto, aquele paraíso ecológico, tinha um mistério difícil de ser decifrado por viajores pouco afeitos a observações minudentes.
Pois bem, comentei o meu “feeling” com o professor Nobre, estudioso dos assuntos envolvendo “ovnis” e contatos intergalácticos.
Ele foi contundente:
- Se existe um lugar onde os seres extraterrestres podem aterrissar suas naves especiais, seguramente, é a Serra.
Os olhinhos expressivos e curiosos do professor Nobre pareciam rir da minha estupefação.
Eu tinha lido, recentemente, uma série de reportagens numa revista francesa a respeito de pessoas que testemunhavam estranhos encontros com seres de outros planetas e, apesar do meu ceticismo a respeito de tal matéria, alguma coisa parece ter ficado impregnada no meu subconsciente porque, imediatamente, na minha memória, surgiu aquela imensa clareira bem no meio do vale, nos contrafortes das duas montanhas gêmeas e que eu, embora na hora em que vislumbrei o imenso espaço aberto no seio da mata atlântica nada tenha imaginado a respeito, agora, após as ponderações do professor Nobre, já parecia ver as espaçonaves girando velozmente sobre a clareira, subindo e descendo, como se aquilo fosse um aeroporto futurista.
A imaginação não tem freios...O pensamento não tem rédeas...Por um instante cerrei os olhos e, como geralmente ocorre nos momentos de intensa criação, comecei a enxergar melhor de olhos fechados...
Aí fui vendo uma nave da cor da ilusão, rotunda, com luzes bruxoleantes...No comando, o Capitão Charles, sisudo, tenso, gritando sem parar:
_ Eu vou controlar tudo isto. Já tenho as novas regras. Vocês não perdem por esperar.
O co-piloto, coitado, tremia como um caniço ao vento, encurvado, com a voz trêmula, a repetir:
- Não me envolvam, não me envolvam, pelo amor de Deus!
As representantes do sexo feminino que estavam a bordo da espaçonave mostravam-se absolutamente tranqüilas, riam como jovens estudantes numa viagem pela mais arriscada montanha-russa e repetiam em coro:
- Ôoooo! Trenzinho bom!
Charles, irado com aquela manifestação de contentamento, cerrava os dentes e ameaçava:
- Vou derrubar esta nave, vou pô-la abaixo.
- Duvidêó-dó, duvidêó-dó, repetiam em coro as espaçonautas.
Havia mais gente dentro da nave, mas as suas reações eram calmas, até mesmo indiferentes aos atritos provocados pelo comandante Charles e seu co-piloto medroso.
Então, aos meus olhos, surgiu uma outra nave, bem mais sólida, com as cores da realidade, comandada por um perito incontestável: o comandante Azírio, qualificado por muitas e muitas horas de vôo interespacial. Era de ver-se a sua habilidade em fazer pousos suaves com a nave, de modo que os passageiros e tripulantes nem se davam conta da aterrisagem.
A mídia, de repente, tomou ciência dos acontecimentos, mas as informações chagavam deturpadas e as notícias eram demasiado desencontradas e falsas, a ponto de Charles aparecer como salvador dos espaços e Azírio como mau piloto.
Mas, como nada pode deter a força da verdade, ela, por fim, prevaleceu...
Aí, o meu imaginário fechou para balanço e, de repete, eu me descobri fitando os olhinhos vivos do Professor Nobre, concluindo um pensamento:
- As araras, por causa do barulho das naves, fugiram para longe dali. Ninguém pode dizer se elas algum dia retornarão. Mas, o espaço aberto na mata, aquele espaço que eu chamaria de espaço da verdade, ficou ali como um emblema incontestável das coisas acontecidas, mostrando aos porvindouros a prova insofismável de tudo quanto houve e a lição que cada um deve assimilar...