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Contos-->Triste Lembrança -- 22/07/2002 - 16:49 (Hudson Barbosa de Almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
São Paulo, 28 de Março de 1994.

Meia-noite. Cansado e com sono, depois de um dia inteiro de trabalho e das seis aulas do curso noturno, eu vinha caminhando pela rua deserta, quando algo de muito estranho aconteceu.

A rua não estava com seu ar tipicamente refrescante, por onde vagavam minhas últimas dúvidas e reflexões do dia. Havia uma névoa esparsa encobrindo meus pensamentos e um não-sei-o-quê de passado, mesclado com futuro, atordoava-me muito. Tudo como um sonho, uma espécie de embriaguez da alma, que atingia meu subconsciente e o meu coração.

Uma mutação adversa às leis da ciência estava acontecendo. Meus olhos não absorviam mais a realidade e tudo que eu podia ver e sentir era uma escuridão e vazios profundos. Sentia muito medo e vontade de chorar, por temer o que comigo acontecia. Era como se a vida e o mundo estivessem escorrendo pelas minhas mãos.

Como em um grande passe de mágica, todos os momentos decisivos da minha vida voltavam à lembrança. Todos os acertos, todos os erros imperdoáveis, todas as vitórias, todas as derrotas. Tudo que se passsara comigo, desde a infância, estavam ali, diante dos meus olhos, como uma grande reprise.

A emoção começou a tomar conta do meu ser, que agora estava leve. Não sentia mais o volume do meu pesado corpo de setenta e três quilos. Meu eu, então, flutuava pelos céus, sorvendo cada gota da sensação de estar sendo guiado pela brisa, rumo a um lugar que eu desconhecia. Rara era a beleza daquele lugar, que transmitia muita paz e muita calma ao meu ser.

Pus-me novamente a olhar ao meu redor. Estava numa espécie de imenso jardim. Várias pessoas desconhecidas me cercavam sorridentes, num tipo de recepção. Um senhor velhinho de saúde e alegria admiráveis, veio ao meu encontro. Perguntei-lhe onde estávamos e o que acontecera comigo. Com uma ternura angelical, ele afagou meu rosto e disse, que logo, tudo iria acabar. O velhinho tinha um recado dos meus avós paternos; que eles estavam bem, que nos amavam muito e que logo estaríamos todos juntos novamente. Compreendendo o recado, ajoelhei-me no chão e pus-me a chorar como uma frágil criança. Escutei um "adeus e muito obrigado" vindo do velhinho, mas não tive nem coragem de me levantar.

Sem perceber, estava eu de volta à rua onde tudo começara. Uma lua magnífica assistia a todo aquele transe. Levantei-me do chão e corri desesperadamente para casa. Ao chegar na sala, deparei-me com os meus pais abraçados e chorando. Haviam recebido a notícia que eu já sabia. Aproximei-me de meu pai para consola-lo e acabei recebendo o abraço mais forte que eu já tivera recebido. Meu pai chorava como uma criança, chegando até a soluçar.

Aquela não era a hora de dizer o que comigo acontecera. As palavras seriam em vão. Calei-me. A única coisa que fiz foi abraça-lo fortemente, mostrando o quanto o respeitava e amava. E assim, ele se acalmou. Após alguns dias, dei a meus pais o recado dos meus avós. Surpreendentemente, tudo ouviram e nada falaram. Abraçaram-se apenas. Meu pai, ainda abalado, beijou o meu rosto, agradeceu e disse: "Ainda tenho vocês. A vida continua!"

Hoje, três anos depois, estamos de mudança. Essa é, provavelmente, a última vez que passo pela rua do meu passado. Vou embora com lágrimas correndo pelo rosto, levando para sempre, na mente e no coração, esta triste lembrança.
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