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Contos-->O Último dos Tamoios -- 07/08/2002 - 01:32 (Jactâncio Futrica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O Último dos Tamoios


Se tem uma coisa que me ganha logo de cara é a originalidade. Já conheci e ainda conheço uma pá de tipos humanos que pra mim foram como um bálsamo no deserto da normalidade; e às vezes me inquieto em saber que dentre esta nobre raça de gênios transgressores há uma espécie em fase final de extinção: os da velha geração, representantes do antigo mundo rural. Agora só restam, praticamente, os nativos da aldeia global: nós, seres evoluídos, que já nascemos com antenas na cabeça.

Seu Arlindo, vulgo Lindico Manèquinha, é um remanescente desse antigo mundo desplugado; um matutão solenemente excêntrico, refratário aos cerimoniais da civilidade... Em sua pessoa estão vivos certos arcaísmos IRREPRODUZÍVEIS: o jeito de acenar, de levar um café à boca, a maneira inexplicável de dedilhar a viola, as inflexões da voz, as belíssimas ‘corruptelas’ do português, as superstições bizarras, o olhar de tácita e agreste convicção, a mecânica moral não estandartizada, o ar geral da figura... Até mesmo a risada é uma risada antiga _ com o sabor das lides e folguedos da terra.

Ainda forte em seus 68 anos, Seu Lindico é daqueles tipões abrutalhados ao extremo, por dentro e por fora. Dois metros de altura, quase. Tronco largo encimado por uma impressionante cabeçorra, habitualmente encimada por um chapéu, de palha ou couro. Braços de guindaste, mãos de retroescavadeira, voz de trovão; um tipo intimidador enfim. Suas demonstrações de força física na juventude transformaram-se em lendas _ relembradas em toda a região, sempre em tom de prodígio. E pra combinar com tudo isto, uma franqueza e uma rudeza de trato sem limites. Um bom caráter, com certeza, mas estúpido como uma porteira; jamais gastou um pingo de vaselina na vida.

Uma vez, num domingo, eu estava plantando um coqueirinho no jardim, em frente de casa. Seu Lindico que, por estranho que pareça, adora plantas e florzinhas, parou pra conferir meu serviço. Como se considera autoridade em qualquer assunto, começou a me dar ordens, como a um serviçal inepto: “Num é assim!” “Agora faz isto!” “Agora faz aquilo!” “Presta tenção, meu filio!!” Quando me liberou da lida, satisfeito depois de tantas exigências, dignou-se a entabular um agradável monólogo com a minha pessoa. A certa altura, danou a falar mal de preto, por conta de um contratempo que tivera com um afro-cidadão. “Ô racinha urdinária, incurrigive!” “O único preto que prestava nasceu morto!” “Se num suja na intrada...” “Fulano é um criolo branco por dento!” etc, etc, tudo isto aos brados. Só um detalhe: na casa vizinha, a família inteira tava reunida no terraço, a 5 metros de nós... uma família de negros, gente de cor, ou melhor, pretos. Eu constrangidíssimo, pensando: “Os caras vão achar que eu tô dando trela pra esse papo torto.” Simulei uma vontade de cagar; pus as mãos na barriga e gemi “aaaai, aaaaaai, dá liceeença”; entrei e não apareci mais. Ele lá fora gritando: “E aí?!! já liberô o binidito ou tá difíci?!!”

Meses depois, Seu Lindico se casou com uma senhora negra, em segundas núpcias. Cerquei-o na rua:
_ “Ooooô, seu Lindiiiico! Que prazer em reveeê-lo! Fez as pazes com o padre Eurico, né?!”
_ Não! Só tive uma cunversa de homi pra homi cum ele, e nos acertamo. Mia sinhora fazia questã de casá na igreja...
_ Como é que são as coisas, hem! O senhor que vivia por aí dizendo que não gosta de preto...
E ele, pontuando suas palavras com um dedão em frente à minha cara:
_ E num gosto mesmo!.. de preto. Eu gosto é de pre-ta!

#

Seu Lindico vive na cidade, mas tem um sítio na zona rural, pra onde se dirige todos os dias. A rendinha da aposentadoria ele completa vendendo produtos do sítio _ bucha, mandioca, abóbora, chuchu _ pra alguns pequenos mercados de Comendador Petruskio, aqui pertinho de Quiabópolis.

Cerca de 10 anos atrás, um incidente que poderia ter resultado em nada, ou quase, acabou causando uma séria injúria, uma rachadura no maciço e impávido colosso.

A polícia rodoviária parou sua velha Rural, quando ele voltava duma entrega. Sua carteira de motorista já tava vencida há décadas, mas ele confiava em seu tamanho e sua aparência patriarcal pra não se submeter ao mando da lei. Nesse dia, uma patrulha volante cercou-o a poucos quilômetros da entrada da cidade.

_ Posso ver os documentos do veículo...
_ Dexei em casa.
_ Carteira de habilitação, identidade...
_ Já disse. Dexei em casa.
_ Tá!.. o papo de sempre! Mexe mais aí no bolso; quem sabe o senhor não acha...

O velho não entendeu o espírito da coisa e começou a se alterar:

_ Ora, meu amigo, eu sô um homi livre! Ando do jeito qu’eu quisé! Num sô ninhum animali pra tê qui andá cum praca de denficação pindurada, nem carimbo no couro!!
_ O senhor me desculpe, mas é a lei... Eu só cumpro ordens.
_ Óia pra minha cara. Eu tenho cara de bandido?!
_ Não se trata disso, meu senhor. É uma averiguação de rotina. Basta o senhor apresentar os documentos e depois seguir seu caminho, tranqüilo. É dois minutinhos...
_ Pois eu num vô mostrá ducumento pra ninguém! Isso é um bissurdo! Quem ocê pensa que é? Só purqui se meteu nessa bosta de uniforme isbandaiado, tá achano qui já tem patente de marechali, é?! Eu sô um homi de resparabilidade! Trabaio, ajudo os pobre, pago imposto, sô cunhicido de todo mundo. Num tenho que prová pra ninhum safado qui eu sô eu! Cuida da sua vida qu’eu cuido da minha! Desse jeito, quarqué dia vai pirsisá licença até pra cagá!!
_ O senhor sabe em quanto está a multa, pela lei nova, meu senhor?
_ Lei nova, lei véia... num mi interessa! Eu cunheço é a lei da gavidade; o resto é cunversa! Faiz mais de trinta ano qu’eu dirijo, rapaiz; nunca bati, nunca isbarrei! Minhas vista é de minino; posso te dizê quantos fi de cabelo tem na sua cabeça, a 100 metro de distança!
_ Ah é?.. _ O guarda faz um gesto insinuante: _ E o que o senhor me diz mai$$$?..
_ Digo, digo sim!!! _ Ele sai do carro, bate a porta com força. _ Qué sabê de uma coisa?!! Pode ficá cum essa merda procê! Leva pra sua casa! Taí! é seu! é seu!.. infia no rabo!
_ Eu sinto muito meu senhor... Martins! Chama o guincho! _ Naturalmente, é tudo teatrinho pra arrancar dinheiro do cidadão. Ele anota a placa do veículo, com uma máscara de seriedade bem sem-vergonha na cara.

O outro policial pega as chaves na ignição e dá umas batidinhas na lataria do carro:
_ A bichinha tá judiada, hem...
_ O quê que foi, meu amigo?!
_ Tava só comentando. A ruralzona. Tá pedindo arrego...
_ Ah, é?!! E qué sabê de mais uma coisa?!! _ E foi arrancando a camisa, aos ataques. Inflou as asinhas, crispou o penacho. _ Agora eu inquizilei! Cabô a cunversa!!! Me passa essa chave pra cá! eu tô mandano!

O policial faz uma cara de “até parece...”, põe as chaves no bolso com uma mão e com a outra dá uma alisadinha sugestiva na coronha do revólver; vira-se de costas e põe-se a caminhar em direção à viatura, manemolente e rebolativo. Seu Lindico perdeu as estribeiras com aquele andar requebrante que recebeu como resposta à sua ameaça. Partiu pra cima do policial, atropelando-o atabalhoadamente com seus cento e poucos quilos. Foi um tapaço na orelha e um encontrão por detrás. Já bateu caindo. Desabou em cima do sujeito, e se engalfinharam. O outro meganha veio em auxílio ao companheiro; cravou-se como um peão de rodeio nas costas do touro bravo. Mas o desgraçado tinha uma força descomunal! Quando enfim se cansou de esganar e ser esganado, vencido pelo cansaço, tava todo mundo esfolado e rasgado. Algemaram seu Lindico e ele foi conduzido na viatura.

#

Aquela humilhação mexeu com ele. Por quase 3 meses sofreu uma séria crise psicológica, com depressão e delírios. Passava um dia inteiro disacuçuado da vida, deitado na cama ou sentado num canto; noutro dia, acordava agitado, isvuruçado, e não dava sossego. Às vezes falava sozinho o tempo todo.

No segundo mês, foi acometido por um surto de espiritualidade: um dia, acordou acreditando ser o Filho do Homem... Parece piada, mas é a pura verdade: ele pensava, de boa-fé, ser nada mais nada menos que Jesus Cristo, o Caboco de Nazaré. Como num passe de mágica, aquele animal xucro havia se transformado num profeta do amor. Seu tom de voz era outro, uma doçura; seus gestos suavizaram-se; os olhos ressumavam concórdia e serenidade. Pra grande enfado dos pecadores, ele agora só fazia pregar! Pegava suas vítimas a laço e punha-se a declamar seu repertório sobre as vicissitudes da alma _ sem hora pra terminar.

No auge do acesso, pegou uma folha de caderno e ali relacionou o nome de todos os seus antigos desafetos, que não eram poucos. Na próxima noite e nas seguintes, ele se dedicou a um ritual comovente: saiu batendo na porta de seus inimigos, um por um, implorando perdão. Como não havia perdido o estilo franco, despojado de rodeios, chegava já se declarando. “Aproxima-te, filho querido! Venho em nome de meu Pai e não em meu nome...” O cara fica sem entender nada. “Acreditai: Lindico Manèquinha está morto para o pecado!.. Eu sou a Luz do mundo!!!” E daí por diante. Concluída essa etapa introdutória, seu Lindico abraçava desbragadamente o infeliz, soltando exclamações esfuziantes sobre sua revelação crística. Depois, intimava o sujeito a reunir a família toda na sala. Aí sim, o show começava. Na frente de todos, ele iniciava sua lenta e meticulosa autodepreciação: punha-se abaixo dos vermes, caía de joelhos, choramingava e no final atirava-se de barriga no chão, grudunhando-se nos pés do indivíduo para beijá-lo. E não adiantava opor resistência, que ele beijava à força, rastejando e resfolegando como um bicho esfaimado.

Ao fim do terceiro mês, ele sarou, simplesmente. Do mesmo jeito que pirou, sarou, como se nada houvesse acontecido. O mais estranho é que não se lembrou de nada do que fez, quando na pele do Senhor Jesus; voltou a desprezar os antigos desafetos com quem se reconciliara durante o transe histérico. Um estagiário de psiquiatria, amigo da família, esclareceu: seu Lindico havia psicodramatizado uma catarse messiânica de terceiro grau. Frescurinha, segundo os murmuradores. De qualquer forma, foi um alívio pros vizinhos; eles preferiam o grosseirão intratável ao pegajoso evangelizador...

#

Quero contar também um causo que aconteceu durante a campanha eleitoral de 2000. Foi o acontecimento da temporada!

A disputa pra prefeito tava quente na cidade. Numa noite de sábado, enquanto o candidato mais rico dava um grandioso “showmício” no Centro, um outro candidato aportou seu trailer aqui no Tosquiado, bairro onde moramos. Como o lugar é sossegado, seria um comício mais intimista, mais afetivo, mais fofinho. A estratégia do candidato era falar de pertinho no cangote do eleitor, beijar macio o coração de cada otário ali presente. De fato, após o discurso, aquela ave de rapina havia convencido e emocionado a todos. É então que seu Lindico sobe ao palanque e solicita a palavra. O aspirante a prefeito, que já estava no meio dos populares abraçando até cachorro leproso, pensou: “Maravilha! mais um baba-ovo pra enaltecer minha honra!”

Seu Lindico começa: “Mia gente! Buanoite proceis tudo! Buanoite ali pro cumpadi Totonho... ali pro meu amigo Luís Sapatero... seu Quinzinho... dona Lurdinha que tá ali iscorada no poste... ... Mais o negoço é o sigüinte: o candidato aí falô que vai fazê isso, mais aquilo e mais aquilo otro. Tá bão! Muuuuito bunito! Agora, me diz oceis: ondé que já se viu uma coisa dessas?!.. agiota pra prefeito! Um homi que inricô sem trabaiá, viveu sempre de ixplorá a disgraça dos otro... Acho que um sujeito desses num tem moral nem pra jurado de escola de samba! Se ocêis tem medo dele, pobrema d’ôcêis! Eu num tenho! Já cansei de vê esse traste pintá e bordá e todo mundo dizeno amém!!!

[Ninguém da equipe do prefeito se dispõe a detê-lo. Cortam o som, mas ele nem percebe, prosseguindo aos gritos].

“Muitos ano atrais, quando chegô aqui em Quiabópolis, fugido, jurado de morte, esse tal de Neinzinho Arruela _ vê se isso é nome de gente! _ num tinha nem onde cair morto. Mia tia, dona Maricota, cansô de arrumá malmita pra ele, sinão ia ter que ismolá no mei da rua! Foi o finado seu Bilico quem dispois arranjô pr’ele ir tratá dos boi na fazenda da Tronquera. Trabaiava e durmia pur lá. E como tinha uma cunversa muiiitô da booua, cum tempo cabô virano diministradô. E foi aí qu’ele se aprumô na vida. Botaro o rato dento do quejo; num deu notra! Feiz tudo quanto é tipo de treta pra robá da fazenda! O boi ingordava, ele levava o animali pelo ataio do morro da Mãe d’Água inté na fazenda do seu Juvená Batista, otro pilantra, e ali niguciava, trocava por um mais novo, duentado, disbarrigado, e imborsava a diferença da transação. Pra fim de contabidade tava tudo certim, a quantidade de boi tava na mesma. Quando tinha balancete, todo mês de julho, o boi Relógio, o Fubá, o Correto _ tudo boi de dezoito, vinte arroba _ marcava oito na pesage! O nome era o mesmo, mais os animali era otro, compretamente deferente! Boi véio virava garrotim da noite pro dia!.. O sô Olímpio, dono da fazenda, era um homi sozim no mundo, sem parente; num dava conta... inda mais qu’ele cuidava mais dos manejo de madera e da lavôra... a tenção dele tava lá. Quando sô Olimpio vortava duma viage, o Arruela inventava que uma vaca tinha murrido murdida de cobra, otra tinha caído na vala e assim pur diante. Tudim no borso dele, isso sim!.. Robava tamém nos carreto de eucalipe; fazia 20 viage, dizia que era 10... Quando uma junta de boi passava puxano café, tinha que pará e dexá uma saca dento do jeep dele... quantas viage fosse, tantas saca tinha que casá ali pro vagabundo. Naqueles tempo de muita da infação, ele apricava dinhero da fazenda no própio nome, dexava rendê um jurim bunito e só dispois é que repassava pra conta da fazenda. Foi pur isso qui o sô Olímpio disistiu da fazenda... num güentô tanta ladroage pelas costa! Oceis me adiscurpa, mais eu tenho que abrir o oi d’oceis! Quando vi esse sujeito contano lorota aqui nesse palanque cum aquela filusumia de santim acalefado, ah! eu num güentei! Paricia um docim-de-coco, o miserave! Mais pode ir pur mim: esse bicho é ruim qui nem carne de cobra! Eu mi alembro, ora se não! Se for contá todas as maldade e ladroage dele, a gente ia ter que virá a noite aqui no sereno. Na fazenda, quando tinha um sirviço lá no Baxio da Prata pra fazê, ele mandava um coitado que morava na Tronquera sair dali e ir fazê o sirviço lá, deiz quilômetro de distança; e quem morava lá no Baxio, ele mandava vir pra cá, cuidá dum sirviço na Tronquera... só de ruindade!.. Gostava é de atrasá o lado dos otro a troco de nada!.. só fartava obrigá os pião a capiná sentado!! O sô Juvêncio tá ali pra me dismintir s’eu tivé inventano coisa! Naquela época, o Juvêncio inda era dono da Santa Efigênia. Pra chegá na fazenda dele era só pegá um ataio por dento da Tronquera, ali pela beira da barrage, que já tava lá... sinão tinha que isticá mais cinco quilômetro por fora. E num é que o Arruela proibiu d’ele passá ali _ um homi de bem, de famía! _ só purqui num gostava de vê ninguém levano vantage nesse mundo... tipo de gente oiúda, qui tem inveja até da íngua dos otro!.. Uma vez vai eu lá na fazenda, buscano carvão, mais o cumpadi Donato. Tinha uns caco de tijolo ispaiado no chão, resto dum forno dismanchado... sirvia mais pra nada. Pedi o Arruela pra catá um ou otro cacareco daqueles pra remendá meu fugãozim de lenha. E ele pra mim: “Dá, eu num dô não, mais vendê eu vendo.” “Mas sô Neinzim, ora essa! Isso aí no chão, os boi vai cabá de quebrá tudo...” E ele, “É mió estragá tudo que dá de graça!” Bicho ur-di-ná-rio, sô!! Trancaio imprestávi!! Aí, dispois que o sô Olímpio passô a fazenda, o nosso amigo cumeçô a atacá de agiota. Ele já tinha, nessa época, 2 ou 3 apartamento em Comendador Petruskio. Misteeeeério!.. Ah! e teve um rolo sério uma vez: o Arruela arresorveu de fundá um roçado de datura numa aruega na incosta da Saibrêra, iscundido do patrão. Datura, pra quem num sabe, é tóchico! maconha! O negoço era de conchavo cum agrônomo alemão. Ganharo muito dinhero os dois; imbarcaro muita raça maconha pro Rio de Janero; ia tudo prensado em saca. Mais um belo dia tivero que arrancá tudo às pressa, num dexô nem raiz, purqui a coisa cumeçô a fedê. Mas o rolo mais sério, qui foi a gota d’água pro sô Olímpio disistir de tudo, poca gente sabe. Mas hoje todo mundo aqui vai ficá a par do cunticido... Hoje ceis vão sabê direitim quem quié esse Neeeinzim Arrueeeeela!!!”

Havia um rebuliço surdo e uma perplexidade geral na platéia: espanto, hilaridade, constrangimento, indignação, raiva, vibração _ tudo misturado. O candidato já tinha picado a mula, lógico: primeiro simulou um “me segura, senão eu mato ele!”, depois deixou-se arrastar, teatralmente, pra dentro do carro do assessor, e queimou chão.

Quando seu Lindico, por fim, acabou de avacalhar completamente a reputação do sujeito, o cunhadinho do candidato trepa no palanque, bêbado. Religam o microfone. Ele quis consertar a situação à base de gritaria: “A gente vai votar é no 12!!! Dia primeiro é o 12 na cabeça!!! 12 é o número do homem!!! 12 pra mudar!!! Doze dúzias de razões pra votar no 12!!! Todo mundo de mãos dadas com o 12!!! É o 12!!! 12, minha gente!!! 12 é a solução!!! Emprego, saúde e educação é o 12!!! É o 12 arrebentando nas cabeça!!! 12 é mais você!!! É só marcar um ‘X’ no número 12!!! 12!!! 12!!!..... .......

O cara cismou com aquela porra de “12”. Beleza, valeu a intenção! mas o número do candidato era o “11”... Tava escrito em tudo quanto é canto!.. Chato, né?! As gargalhadas de seu Lindico podiam ser ouvidas a dois quarteirões de distância.


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