Antônio era mestre de obras, gostava do que fazia, entendia muito de construções, conhecimentos adquiridos da longa prática e da mania de perfeição que era característica da sua personalidade, além de uma queda irresistível pela bebida, principalmente nos finais de semana.
Todos diziam: é um excelente profissional, sabe mais que alguns engenheiros; é também um bom pai de família, o proplema dele é a bebida.
Realmente, Antônio não sabia parar, se tomasse um trago, ia em frente com vontade até cair de bêbado.
Naquela manhã, a coruja piou e mestre Antônio, supersticioso, tremeu. Antes de sair para o trabalho, recebeu a notícia, a sogras acabara de falecer.
Gostava tanto da sogra e tinha pena de ver a mulher chorando a perda da mãe. Ficou condoído.
Pediriam-lhe para encomendar a mortalha e o caixão.
Recebeu o dinheiro das mãos da filha mais velha.
No caminho da Funerária havia muitos botecos. Parou no Bar do João, cumprimentou os dois amigos que também já haviam começado a bebericar e tomou o primeiro trago, depois de contar a morte súbita da sogra.
E foi, assim, de bar em bar, até que chegou à Funerária. Lá, depois de tantos tragos, já não sabia mais o que dizer. Gesticulava, mostrava as mortalhas e apontava para si mesmo. Vestiram-lhe uma mortalha. Voltou cambaleando e fazendo escala nos mesmos bares. Perto da sua casa, sujo de vômito, desgrenhado, inteiramente bêbado, atraiu a atenção dos moleques que começaram a arremessar-lhe pedras e a gritar: Palhaço, bêbado maluco!
Caiu na porta de casa. O féretro já havia saído. Deixaram-no dormir ali mesmo, vestido com a mortalha que fora comprar para a sogra.
Ao acordar, deu-se conta do papelão que fizera e do vexame que impusera à sua família.
Faquele dia em diante, nunca mais pois um copo de cachaça em sua boca: a lição fora amarga, mas serviu para a vida inteira.