Padre Eurico vivia pacatamente pastoreando as almas daquela bucólica vila assentada sobre o lombo da serra, a poucos quilômetros da capital. Era benquisto, gostava de comer bem, conhecia todos os paraquianos pelo nome, desde os mais abastados até os mais humildes.
Envelhecera ali, rezando as missas todos os dias, sem falhar um só dia. Durante o dia, lia jornais e revistas, além de livros que os amigos e parentes lhe mandavam da capital. Depois do almoço, dormia sesta de quinze minutos, depois, lia o breviário e preparava o sermão da missa do dia seguinte.
Lá por perto das cinco horas, quando o sol já estava ameno, costumava passear pelo bosque vizinho a casa paroquial.
Aos sábados, ia até a casa do prefeito, tomava chá com torradas e jogava "buraco" com um grupo seleto que ali comparecia.
Um dia, ao se levantar, sentiu a terra toda rodar e, teve que apoiar-se na cama e esperar uns cinco minutos que a tontura passasse. Passou. Mas, na manhã seguinte a coisa repetiu-se. Então, resolveu consultar o Dr. Maurício, que era o único médico do lugar. Dr. Maurício foi enfático:
- O senhor deve estar com labirintite. Precisa se tratar.
Assim, no dia seguinte, com tristeza, Padre Eurico seguiu no trem para a cidade grande.
A arquidiocese mandou um padre recém ordenado para substituir o Padre Eurico.
Padreco novo, Padre Afonso revolucionou a vilazinha. Dava comunhão a moças com vestido decotado, dizem até que ela gostava de olhar para os seios das mocinhas; confessava comm uma liberdade de expressão jamais vista e dava conselhos que faziam as beatas corar de vergonha.
Nas obras sociais, também, o padre Afonso agitava a vida da comunidade.
Dois meses depois, o trem trouxe de volta o Padre Eurico. Havia uma banda de m;usica e dezenas de fiéis aguardando a volta do padre na plataforma da estação. Padre Eurico desceu com cara de poucos amigos, não cumprimentou ninguém e dirigiu-se à sacristia, onde esperou o aflito padre Afonso:
- Então, padre Eurico, o senhor não viu a nova torre da igreja?
_ Vi muito bem, seu imbecil, que eu não sou cego. Mas agora eu lhe pergunto, eu vou fazer quermesse por honra de de quê ?