Discutiam de modo entusiasmado o Macaco e Coruja, enquanto outros animais participavam, mas apenas como platéia.
A Coruja, comedida e séria, afirmava:
- Nós precisamos de regras. Para conviver em harmonia devemos obedecer às regras que foram criadas, exatamente, para permitir que o direito de um não esmague o direito do próximo.
O Macaco, impaciente e irônico, balançava a cabeça e contestava:
- Ora, ora, ora, D. Coruja, como vou obedecer a uma regra que foi criada sem que eu desse a menor opinião? Quem estabeleceu essa regra, quando, para quê?
A Coruja, sem perder a serenidade, respondia:
- Trata-se de uma convenção social. Num dado momento, para evitar o caos, o salve-se quem puder, a sociedade convencionou, através de um pacto, a observância de normas jurídicas que regulariam a vida social. Ninguém sabe precisar quando nem quem, mas o fato é que cada sociedade só consegue sobreviver seguindo as suas regras.
_ Tô fora, d. Coruja. Nada daquilo foi criado com a minha participação, por qual razão vou obedecer?
- Se você não obedecer, será exercida a coercibilidade para forçá-lo a seguir as regras. Doutra forma, você se tornaria um marginal, um fora da lei.
- Prefiro ser um marginal a ser um capacho. Aliás, seguindo as minhas próprias regras de esperteza a polícia jamais me pegará e vou usufruir das benesses sem ter que pagar por isso.
-Mas, mas, Senhor Macaco, a coisa não é bem assim.Existe lei neste território. Você vai ter que ceder.
- Ora, D. Coruja. O mundo está cheio de exemplos de pessoas que vivem numa boa e jamais se sujeitam a qualquer tipo de constrição ou de norma. Estão sempre de cima, estão sempre de bem com a vida, enquanto os bobos trabalham e obedecem. Mas, é uma verdade irrefutável: uns nascem para mandar e usufruir; outros nascem para ser mandados e para penar. Estou no primeiro grupo, o que é que há?
- Mas...
- Não tem mais nem menos. A lei foi feita para manter os tímidos sob rédeas. É a moral dos tempos modernos.
As vozes estavam acaloradas. A polícia chegou, quis prender os dois, mas o macaco fugiu e a pobre da coruja, coitada, que pregava a obediência à lei, terminou seguindo direto para o xilindró.
Moral da história: quem tem moral acaba preso.