Depois de tudo pronto, eu sigo até o pátio principal e meus homens estão lá me esperando. (BRRR! Como está frio! Ah... eu daria qualquer coisa por uma macia e quentinha pele de mamute agora... mas essa armadura de zircônio vai ter de servir...) Pelo menos grande parte deles me conhece e são meus amigos. Agora eu tenho de esquecer o que está por vir e passar confiança para meus homens.
Após alguns gritos de guerra, umas canções heróicas e alguns quilômetros de caminhada, até eu já estou me sentindo melhor. Me viro e olho a torre, ela está quase totalmente coberta de neve e o brilho da tocha é leve no seu topo. Mas que bela visão! Volto a caminhar quase confiante, enquanto penso que o destino de todo o planeta pode estar em minhas mãos. (Eu SEI que é mentira, mas de vez em quando esses pensamentos megalomaníacos nos fazem bem...) Beijo minha espada e minha pistola (rezando pra que ninguém perceba, pois é uma cena ridícula) e peço a benção e a força de Maitavo... afinal, o pior ainda está por vir.
A batalha até que foi rápida, rápida até demais. Quando Acna-Tur estava bem sob nós eu dei a ordem e avançamos - antes do esperado, mas não pude me conter. Ele se virou para mim com um olhar de ódio e surpresa e eu o acertei bem próximo ao ouvido. Ele caiu ao solo, seus homens se dispersaram desesperados, então eles, mesmo estando em maior número, se tornaram presas fáceis. Nós os derrotamos com poucas baixas e neste momento eu estou sendo condecorado por bravura no salão principal.
Então eu escuto um barulho (como um “bloft”) e sinto algo gelado em meu rosto, abro os olhos e percebo que caí no chão e que tudo que eu disse no último parágrafo foi fruto de um delírio. Ao erguer meu rosto eu os vejo se aproximando. Dou uma ordem para meus homens se esconderem.
- Calma, calma... deixe eles terminarem de passar - (Deuses! É uma visão mais aterradora do que eu imaginava!) - Ao meu sinal, todos que puderem carreguem sua técnica de ataque mais poderosa, se levantem e corram em direção ao inimigo fazendo o máximo de estrago e barulho que vocês puderem. - Eu falo tentando demonstrar calma - Prontos...? Agora!
Sangue! Sangue, morte e destruição é o que se segue. Eu prefiro lhe poupar dos detalhes (para falar a verdade eu não estou com nenhuma vontade de ME lembrar dos detalhes...). Nós fomos massacrados mais rápido do que pensávamos (ou melhor, do que tínhamos esperança), mas também eles eram seis vezes mais numerosos que nós!
Quando tudo parecia perdido eu corro covardemente para dentro da fortaleza, quase todos nossos homens já estão mortos e o inimigo se aproxima rapidamente. Então me ocorre procurar Rajih, nós tínhamos de tirar aquela tocha dali! Mesmo que a torre fosse destruída a tocha teria de ser salva. Após correr um bocado eu encontro Rajih junto com Yuu-Mir e mais dois outros lançando feitiços e mais feitiços sobre o campo de batalha, eles pareciam estar muitíssimos cansados, mas mesmo assim não desistiam (admito que tive vergonha de minha própria covardia). Mas não era tarde demais, nós ainda podíamos salvar a tocha e eu tentei desesperadamente dizer isso a eles.
- Você está louco homem? Mesmo que nós conseguíssemos escapar deles, a tempestade nos mataria e a tocha seria invariavelmente capturada. Tudo que nós podemos fazer agora é lutar até o último momento - Rajih disse para mim com um olhar sério.
Ao ouvir as palavras dele tudo ficou claro na minha mente! Sim! CLARO! A TEMPESTADE! Ela podia ser a salvação de toda Ennudia. - Senhor Rajih! Eu tive uma idéia! Pode parecer insana mas preste atenção, por favor! Apenas respondam minha pergunta: vocês são magos poderosos o suficiente para criar o fogo essencial? Aquele que nunca apaga?
- Sim, nós somos, mas de que adianta? Essa não é uma técnica ofensiva, serve apenas para acender chamas em lugares onde ela não poderia existir, o maior uso desta técnica é acender fogueiras sob tempestades... - Foi o que um dos outros dois que eu não conhecia falou.
- Isso mesmo! Fogueiras sob tempestades! Nós vamos criar a maior fogueira já vista no planeta. Depois nós vamos criar um tufão dos grandes! Sim! Um tufão gigante! E com ele nós vamos espalhar as chamas por todo o campo de batalha! Nós vamos varrer aqueles desgraçados com fogo e vento! - Eu não sei como eu parecia nesse momento, mas sei que o brilho no olhar de todos os outros se reacendeu.
- Grande! Isso poderá livrar o mundo da tirania dos sombrios e de Acna-Tur! Mas nós precisaremos de uma enorme quantidade de energia para isso! Jovem guerreiro, seu nome, seja lá qual for, será lembrado para sempre se nós sobrevivermos a isso - Yuu-Mir parecia realmente empolgado pela minha idéia. Finalmente meu cérebro conseguiu pensar em algo realmente grande!
- O nome é Corona senhor...
- Pois que seja Corona! Nos proteja enquanto concentramo-nos para fazer a mágica - Então Rajih se volta para os outros - Ao trabalho senhores! Criem o maior fogo que vocês jamais viram!
Eu olho para o campo de batalha e começo a ver o brilho vermelho se formando no centro, mas então sou interrompido por um barulho e vejo dois homens correndo com espada em punho em minha direção. Eu pego um pouco de neve em cima de meu ombro e arremesso nos olhos de um (ei! Eu sei que é um golpe baixo, mas vale tudo na guerra, não?) e enquanto ele tentava recuperar sua visão eu saco minha lâmina e corto fora sua cabeça, então sinto uma dor aguda em minha perna (droga! Burro! Burro! Burro! Eu devia ter atacado o outro enquanto aquele se livrava da neve!) e vejo o filete de sangue vermelho escorrer, só então percebo que ele também pensava em cortar minha cabeça, mas eu consigo aparar seu golpe com minha espada e contra-ataco com uma estocada rápida em seu estômago. Eu o vejo recuar e cuspir sangue, concentro em minhas mãos todo o ódio por minha perna e cravo a espada em seu pescoço.
Me volto para os quatro e ainda estão se concentrando... mas espere... ei! Eles realmente estão conseguindo! Quando eu percebo uma enorme fogueira arde em frente às ex-muralhas de nossa fortaleza. E ela cresce cada vez mais e mais. A voz de Rajih ressoa próxima a mim.
- Gunfer, mantenha o fogo, enquanto nós criamos o tufão - Rajih se volta para mim e mais uma vez eu tremo - Corona, nós vamos estar ocupados demais usando nossas forças para criar e manter o tufão, caberá a você controlá-lo e fazê-lo se mover em direção aos nossos inimigos, você consegue?
- Claro senhor... - Na verdade eu não tinha a menor idéia se conseguiria, mas jurei para mim mesmo que ia dar tudo que podia para fazê-lo.
- Agora...! E que a força de Sylph nos ajude! - Ressoou a voz cansada e grave de Rajih. É nesse ponto que eu percebo que as nuvens acima de nós se tornam mais densas e escuras, o ar ao nosso redor parece carregado de eletricidade e ganha cada vez mais velocidade. E de repente o vento torna-se um monstro: um pilar vermelho de fogo brilhante e rodopiante subia do chão até as nuvens mais baixas. E pude notar que o coração de todos aqueles que lá estavam gelaram e estremeceram.
Por um momento eu fico admirado com aquele gigante de fogo descontrolado que arremessava corpos cremados para cima; as almas dos que tinham morrido em combate parecem girar alegres ao redor dele, subindo ao céu e abandonando aquele mundo tão gelado. Lembro então de minha responsabilidade e clamo por Sylph.
Minhas mãos tornam-se ígneas e meus olhos ardem, meu corpo ficou mais leve e parece até que estou flutuando no ar. Ignorando minha própria dor e sendo consumido pelo poder que uso para tentar controlar aquele gigante vermelho, eu o dirijo por cima das cabeças dos infiéis. E mesmo não estando próximo daqueles que eram consumidos pela fúria do fogo, eu via seus rostos, os rostos de cada um ardendo em chamas e gritando pelos seus falsos deuses, o rosto de Acna-Tur gritando uma promessa de retorno...
E enquanto lágrimas descem pela minha face, como se fossem uma homenagem por aqueles meus amigos mortos e seus corpos incandescentes, eu sinto minha força se esvair e aquele rebelde gigante e ardente tornando-se cada vez maior e fugindo ao meu controle, derretendo a neve e criando um rio num lugar onde ele não deveria existir, e a última coisa que vejo é aquele inferno vermelho em minha frente... enquanto a água carrega para longe os restos da destruição, minhas roupas irrompem em fogo e eu percebo que havíamos conseguido derrotá-los, mas que é tarde demais para nós mesmos...