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Contos-->O FANTASMA DO PIRATA -- 26/08/2002 - 00:40 (Helinton Pires Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por detrás dos ombros, minha sombra vigia no aguardo do momento certo. Uma imagem do que já fui, projetada na parede à mediocridade dos insossos. Os que me conheceram no vigor da juventude assombrariam-se ao avistar figura tão decadente posta à cadeira, esquecido pelos deuses e pelos homens.

Neste farrapo humano, sobrou muito pouco do navegador que atravessou tantos mares em galeões que outros julgavam incapazes de se manterem sob as águas. O que restou foi o martírio da eterna tortura, o ouvir mental dos grilhões marítimos batendo em meu casco. Para ti o tempo não passou não é mesmo? És vigoroso, cheio de energia como assim o fui, e por vezes tão cruel aos que o desafiam, com também o era. És eterno senhor de tuas vontades.

Pois bem, eu o desafiei. Cortei tuas águas com a fúria que a paixão por ti me consentia. Sinto falta do teu gosto ácido, teu espirro gélido na face nas manhãs de horizontes infinitos. Desafiávamos um ao outro como irmãos que desembainham a espada sem nunca transpassar o ventre um do outro.

Ah, quantas memórias esvaissem atrás deste balcão empoeirado de um mundo burguês do qual minha alma não faz parte. Mas enfim, as "amizades" obtidas - pela troca de favores de leva e traz de minhas viagens intermináveis - na alta corte, renderam um bom cargo e sustento além de minhas necessidades. Sou um engodo, facilmente substituível por uma assinatura a mais. A doença me tirou tudo, a sombra espera pelo momento derradeiro de fraqueza.

Da janela o horizonte não me mostra tuas águas, embora em minha mente as veja a engolindo o sol sob este crepúsculo avermelhado. Fossem outros tempos, ficaria a apreciá-lo, mas a vida em mim se esvaziara de contentamentos e o viver era apenas um dia após o outro.

A doença fora severa, tirou-me o brilho dos olhos, da alma e me fez fantasma do que já fui. Só mais uma vez gostaria de tirar esses pesados tecidos aveludados que me incumbem e, descalço de peito aberto e desnudo, sentir o sol a queimar a pele por sob as velas hasteadas. Tudo aqui é imóvel demais, quero novamente o balanço moroso de tuas ondas a me levar, o estalar da madeira velha a flutuar na cadência de teus anseios. Éramos nos três apenas, em entendimento mudo. Sabíamos o que esperar um do outro, e não nos decepcionávamos. Como a baleia que respira o ar e vive debaixo d água, preciso do contato.

Mas voltaremos a nos encontrar, ah sim, com certeza o dia chegará e isso, afinal, me alegra. No fim de tudo, como deixo escrito nas últimas vontades - e se delas fizerem respeito - serei doado a ti. Do meu corpo se fará pouco e então seremos nós dois unidos novamente como sempre estivemos, desde o nascimento.
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