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Contos-->A Coruja e o Macaco discutem flexibilização -- 30/08/2002 - 16:57 (José Ronald Cavalcante Soares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Outra vez, depois de solta, voltou a Coruja a encontrar o Macaco. Incorrigivelmente, discutiram mais uma vez sobre direito. Dessa feita, girava o bate-boca jurídico em torno da flexibilização, que o Leão, administrador do território, encaminhara um estudo do conselho dos mais antigos, alegando as mudanças profundas na economia que implicarão, fatalmente, numa total mudança da legislação, que deve ser volátil, "fluídica, aérea quase".
- Senhor Macaco, o senhor realmente é muito vivo. Deixou-me falando sozinha justo na hora que a polícia chegou. Acabei sendo presa e foi preciso invocar o testemunho do Bode e do Porco, que tanto berrarram e grunhiram lá na chefatura de polícia, que acabaram pondo-me na rua.
_ Mas, D. Coruja, eu bem que lhe avisei. Nós precisamos deixar de falar sobre coisas tão sérias. A vida, afinal, é uma grande piada. Tanto isso é verdade que a gente nasce chorando e sem pedir para nascer e termina morrendo também sem querer.
- Mas, eu gostaria de conversar um pouco sobre essa tal de flexibilização.
_ Flexi o quê?
- Flexibilização. Isto é, tornar a lei que rege o trabalho das pessoas mais dinâmica e mais coerente com a realidade do mercado. Eles querem, com isso, baixar o chamado custo Brasil e deixar os nossos produtos mais competitivos lá fora.
- E o povo passando privações aqui dentro? D. Coruja, tudo isso é uma farsa. O trabalhador desta terra já anda expoliado de tudo: salário quase invisível , escolas com vagas insuficientes; hospitais sem leitos para tanta gente doente. Enfim, os operários e trabalhadores em geral já estão vivendo de teimosos. Esse discurso não me ilude.
- Mas, estão dizendo que a Lei é antiga, está defazada, precisa ser elástica, sintonizada com a NOVA REALIDADE.
- D. Coruja, não seja ingênua. Não existe garantia de emprego. Para que flexibilizar ainda mais? A lei pode ser atualizada sem que a gente tenha que acabar com as garantias mínimas que estão na Lei Grande.
- O senhor, realmente, está falando sério?
- Nunca falei tão sério na minha vida, pode acreditar. Quando o povo menos esperar, os trabalhadores vão dançar a dança dos esqueletos.
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