Era um mundo plano. De longe não se avistava nada, a não ser aquele chão cinzento e plano, que à noite era iluminado pela luz tênue da lua. De manhã aquele cinza irreconhecível divisava com o céu, quase não dava para saber onde começava um e onde terminava outro. Bem no meio daquele mundo reto ficava uma espécie de torre. Tinha cerca de 20 metros de altura.
Estava nua, mas não sentia frio. Quatro paredes enormes, brancas por completo, estendiam-se para o alto, que de tão alto perdia-se dentro de um cubículo com uma luz no centro. Uma luz muito forte. O chão era branco e o rodapé da sala era uma frase repetida dezenas de vezes: “Nunca achei que o tempo regesse esta orquestra, pensei que alguns acordes não fossem obra do acaso. Na verdade o poder está dentro de mim, está dentro de você.”
As letras eram tão pequenas que sequer tinham 1 centímetro de altura. De “longe” mais parecia uma pequeno fio que rodeava as quatro paredes da sala. Uma sala com dois metros de largura, uma sala com dois metros de comprimento. Não havia nada ali. Só um espelho, um pequeno espelho que foi expulso do mundo real por refletir coisas que ninguém queria ver. Os nossos medos se apavoram aqui, fogem para o mundo real.
Certa vez quando não agüentava mais dormir, leu o rodapé por dezenas de vezes e viu sua divindade encarnada num corpo virginal de uma mulher, revelado e acusado por aquele solitário espelho. Onde?