Ia pela estrada ouvindo belos blues cantados por John Lee Hooker. Viu uma mulher na beira da estrada pedindo carona. Era loura e jovem e parecia ter um bonito corpo. Parou o carro, disse olá, para onde vai? Ela respondeu para a próxima cidade. Então entre, ele disse. Ela abriu a porta do carro e entrou. Ele arrancou com o carro e lhe perguntou o que fazia na vida, sorridente. Ela respondeu estou fazendo estágio em uma empresa da minha cidade. Estuda? Ele perguntou. Sim, faço Comunicação, ela respondeu. Quantos anos? 27, ela disse. Gosta da sua cidade? É uma boa cidade, tenho muitos amigos, ela respondeu. Tem namorado? Não no momento, ela disse, abaixando a cabeça. Quando terminou com o último? Há poucos meses, ela respondeu. Ficou triste? Ah, a gente sempre fica... mas depois passa, ela respondeu, e deu um sorriso, olhando para ele. Ele reparou que ela tinha uma covinha e o rosto bonito, o corpo bem proporcionado, com formas atraentes. Estava com calça jeans e uma blusa branca, além de uma bolsa também de jeans. Gosta de blues? Sim, gosto, ela disse. É mesmo? ele perguntou meio surpreso. Porquê? Não posso? ela perguntou, com um risada divertida. Sim, claro que sim, ele disse. Você tem bom gosto, comentou, sorrindo para ela. Ela respondeu ao sorriso, dizendo acha? Sem dúvida, ele disse. Ambos sorriam, já se sentindo descontraídos. Chegando na cidade (já estavam chegando), ele perguntou que tal a gente tomar alguma coisa? Por exemplo? ela perguntou. Do que você gosta? Depende da hora, ela disse, com uma certa ponta de malícia. Como assim? Ora, você me entendeu... não se faça de bobo... ela respondeu, com um olhar atrevido e um sorriso aberto.
Ele era representante comercial, vivia viajando. Era casado, se aproximava dos 40 anos, tinha três filhos, duas moças e um rapaz, todos universitários. A vida não estava fácil, e ele precisava viajar cada vez mais, pois as despesas só aumentavam, com uma inflação disfarçada e "embutida" nos preços de tudo que se comprava. A sua mulher ainda era bonita, mas o relacionamento entre ele e ela sofrera o desgaste de tantos anos. Haviam se casado bem jovens.
Entraram na cidade, ele viu um restaurante que parecia ser de qualidade, a cidade era de médio porte, até que não era das piores. Encostou o carro perguntou vamos? Onde? Ao restaurante, esse aí. Ta bom, ela respondeu. Desceram do carro e entraram no restaurante. Ele procurou uma mesa ao lado de uma janela, na lateral, em um ponto em que poderiam ficar mais a vontade, sem a proximidade de outras pessoas. No restaurante não havia muita gente, talvez devido ao horário, eram umas quatro horas. Sentaram-se, o garçom se aproximou, boa tarde, o que desejam? Ele olhou para ela, parecia agora mais bonita, devia ser o ângulo em que a luz chegava ao seu rosto. Quer tomar um chope, está fazendo calor, ele perguntou. Vamos, ela disse. O garçom se afastou, ela disse vou ao banheiro, e ele respondeu eu também. Voltaram à mesa, alguns minutos depois, ela se penteara e retocara o batom. Você é bem bonita, sabia? Você acha? ela deu outro sorriso. Sim, deve ser muito paquerada, ou, como dizem hoje, azarada, ele disse, sorrindo. Não posso me queixar, ela respondeu. Porque você e seu namorado terminaram? Ele era muito sem-vergonha, ela respondeu, franzindo a testa. Como assim? Sabe como é... esses machões, que não podem ver rabo de saia. Parecia que nunca tinha visto mulher na vida! Ele deu uma gostosa gargalhada. Do que você está rindo? ela perguntou, meio zangada. Ah, nada... Foi o jeito de você falar, ele disse, com uma certa ironia na voz. Porque? Você também é um desses... homens-galinhas? ela perguntou, desaforada. Não! De jeito nenhum... muito pelo contrário, sou muito bem comportado, caseiro, vivo para a minha família. Ah, é? E como explica estar comigo aqui, agora? ela perguntou, desafiando-o. Bom, essas coisas acontecem, ele respondeu. Afinal de contas, você é uma gatinha, difícil de resistir! Hum... e sua mulher? O quê que tem? E sua mulher, você não fica com a consciência pesada? Porque deveria? ele perguntou. Ora, porque você está aqui comigo e ela lá cuidando dos seus filhos, ela disse, impetuosa. Bem, você não gosta da minha companhia? Sim, gosto. Então, porque essas perguntas? Porque quero saber o que você pensa, ela disse. Bom, na verdade, ele comentou, sabe como é, com o tempo as coisas vão mudando. E, afinal de contas, estar com uma linda mulher como você é muito bom! ele replicou. Sentiu que havia tocado em sua vaidade, ela relaxou e respirou fundo. Bom... há homens... e há homens... ele comentou, não se deve generalizar. É... mas pela minha experiência, posso te garantir que "essa espécie" não é lá muito original... ela respondeu, sondando-o com o olhar. Ele ficou pensando que ela era uma mulher até bem inteligente, apesar de viver em uma cidade do interior. E agora? Que caminho seguir? O tempo passava e ele precisava tomar uma decisão. Dar uma cantada assim sem mais nem menos? Não ia dar certo... Ou tocar o papo pra frente e ver no que dava... decidiu-se pela última alternativa. Conversaram sobre diversos assuntos, desde a situação econômica do país, as eleições que se aproximavam (ela também ia votar no Lula), a Alca, as mulheres, os homens, futebol, cinema, TV, o mercado de trabalho para os jovens, as matérias do curso dela, o estágio que ela estava fazendo, os namoros dela, os namoros dele (antes e depois do casamento).
Já era noite, o tempo passara rápido. Ele pagou a conta, levantaram-se, saíram do restaurante, ela disse que ia pra casa tomar um banho, tinha que estudar para uma prova. Ele pediu o número do seu telefone, ela o deu. Despediram-se, ela sorriu, graciosa, ele deu um último olhar para suas formas atraentes enquanto ela se afastava. Entrou em seu carro e se dirigiu a um hotel, que já conhecia, pois já estivera nessa cidade em outras vezes. Colocou de novo o CD de blues e ficou pensando em quando iria telefonar para ela, ou se esqueceria aquele encontro fugaz e gostoso de vez. E se telefonasse, ela toparia sair com ele de novo? Ou já estaria com um novo namorado? Ela mexera com os seus sentimentos? Só o tempo é que ia lhe responder.