Solange desligou o rádio feliz da vida e saiu para trabalhar. Hoje seu signo estava bom: deu no rádio que os nativos de peixes "iriam ter uma grande surpresa no decorrer do dia, que iria transformar sua vida; cor: vermelho; número da sorte 1927". Solange, que esperava resposta para um emprego melhor, colocou sua blusa vermelha e foi, anotando antes em uma folha de papel, uma ou duas coisas que tinha que comprar na farmácia antes de voltar para casa.
Trabalhou o dia inteiro, e nada de especial aconteceu. Saiu do trabalho, entrou na primeira farmácia que viu, comprou o sabonete, pasta de dentes e dois envelopes de analgésico e tomou o ônibus para voltar para casa. O ônibus parou no sinal e ela viu, um pouquinho mais adiante, seu marido, o Carlão, às gargalhadas, sentado no banco do carona de um Gol vermelho com a mão firmemente agarrada às pernas de uma mulher, cujo rosto não dava para ver direito por causa do teto do carro. Solange teve um choque e levou a mão à boca. O relógio da rua, exibia uma propaganda de jeans e marcava 19:27, naquele início de noite de quarta-feira.