Artur e Gabriela ficaram em 2001. Naquele ano, Artur tinha acabado de completar 15 anos, enquanto Gabriela, apesar de ter debutado apenas alguns meses antes, já tinha alguns cabelos brancos. Ficaram apenas uma vez e não contaram pra ninguém. Quem questionava o constante agarramento dos dois recebia como resposta a clássica: somos apenas bons amigos. E eram mesmo, tinham feito um pacto, depois de ficarem, de serem apenas bons amigos. Um pouco mais que amigos, talvez, mas não muito mais. Também não era um daqueles acordos em que as duas partes assinam os nomes numa folha de papel. Eles tinham apenas trocado olhares que, para todo o resto da população, parecia algum problema oftamológico, mas para eles significava: vamos ter uma relação diferente do que esses filhos da puta (Artur falava muito palavrão) que nos olham têm.
Tinham conquistado aquele nível de intimidade telepática há pouco tempo, mas pouco também era o tempo em que se conheceram: três meses atrás, quando começaram a estudar juntos. Gabriela, ao entrar no colégio, era adorada por metade da população masculina do primeiro ano. Artur jurava para si mesmo que seria o único macho (Artur usava esse tipo de linguagem) que realmente teria algo com ela. Extremamente baixo para um macho de 15 anos, Artur passou desapercebido boa parte do tempo mas sim, foi o único que realmente conseguiu ter algo com ela. O único do colégio, é importante frisar.
O tal pacto que fizeram foi uma das poucas coisas inteligentes que realizaram na vida, pois ambos eram extremamente galinhas (Artur definia os machos como galinhas e as fêmeas como, bem, putas), cada um ao seu modo. Artur ficava com algumas e divulgava os seus feitos para todas as pessoas que conhecia há algum tempo. As pessoas que tinha acabado de conhecer ou ainda ia conhecer também seriam obrigadas a ouvir as peripécias de Artur, porém com alguns segundos de atraso. Já Gabriela contava apenas para Artur, a fim de alcançar objetivos óbvios. Artur saiu do colégio no ano seguinte.
Alguns anos depois, Gabriela e Artur se encontraram novamente. Só que dessa vez casaram-se e tiveram um filho (isto é, Gabriela o teve – apesar do ano ser 2021, isso não é uma ficção científica). O fato é qu o garoto mostrou-se um pouco esquisito, passava o dia todo com seu discman e seus fones de ouvido, ouvindo sabe-se lá o quê, mas suspeitava-se que a música em questão era I Will Survive, pela coreografia que o menino insistia em fazer. Artur, na adolescência, tinha uma teoria que dizia o seguinte: todos os homens têm tendências homossexuais, mas a maioria não as desenvolve. Seu filho, ao que parece, desenvolveu.
Voltando a 2021, tudo ia razoavelmente bem até que Artur ficou com uma mulher. O problema é que ele agora estava com 35 anos e um casamento nas costas. Mas suas costas foram aliviadas no dia seguinte.