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Contos-->O TRISTE FIM DE UM JARDIM E SEU JARDINEIRO -- 21/09/2002 - 13:28 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era uma vez, um jardineiro que possuía uma roseira em seu jardim. Uma roseira que ele cuidava com muito carinho há sete anos. Ele vivia sozinho em sua casa e aquela roseira era o motivo de sua existência. De certa forma a roseira fazia parte de si, assim como ele fazia parte da roseira.
E parecia que a roseira também entendia isso. Seus botões de rosa eram os mais bonitos de todos os jardins da redondeza. E todos admiravam a vitalidade, a beleza daquela planta no jardim da casa daquele homem. Era como se ela retribuísse, produzindo as mais belas rosas vermelhas, todo aquele cuidado e carinho.
De repente, porém, a roseira deixou de produzir as mais belas rosas. Agora as pétalas tão cheias de vitalidade, pareciam tristes e sem vida. Talvez fosse porque o jardineiro também andasse triste, calado, como se alguma coisa o atormentasse.
Sem muita explicação o jardineiro deixou de cuidar da roseira como dantes, já não lhe dedicava a devida atenção, já não limpava o mato que insistia em crescer em volta do pé daquela planta tão querida, já não podava os galhos com tanta freqüência como dantes. Era como se tivesse perdido o interesse pela planta tão querida.
Certo dia nasceu no seu jardim uma outra roseira. De início, o jardineiro não deu importância àquela planta; contudo, aos poucos, passou a dividir a pouca atenção entre as duas plantas até que o primeiro botão da outra roseira se abriu. O jardineiro ficou encantado e passou a dedicar sua atenção a nova roseira. Passou a cuidar dela tão bem quanto cuidava anteriormente da velha roseira. E a outra que já não tinha mais a juventude, a vivacidade da mais nova, ficou em segundo plano. Ainda cuidava, vez ou outra, da velha roseira, mais por obrigação do que por carinho ou interesse. E a roseira começou a murchar, as folhas a amarelar. Parecia que não duraria muito tempo.
Depois do primeiro botão e do encanto, o jardineiro não sentia o mesmo entusiasmo pela nova roseira, como sentira por muitos anos pela outra. Ele já não achava o segundo botão tão bonito quanto o primeiro. Era como se esta fosse uma roseira como qualquer outra. Não era especial como aquela que ainda continuava em seu jardim.
A nova roseira também não foi capaz de fazê-lo sorrir e continuar a ser um jardineiro alegre e feliz como dantes. Era como se já não existisse mais prazer em cuidar de seu jardim. Era como se ele fosse um jardineiro sem um jardim para cuidar. Mas o jardim existia e as flores também. Apenas não havia mais motivos para cuidar daquele jardim como antes havia.
A velha roseira reclamava seus cuidados, mas ele parecia não perceber isso. O jardim perdeu a vida. As ervas daninhas surgiram e pouco a pouco foram tomando conta daquele que fora um belo jardim. Somente a nova roseira se sobressaía como se também, se certa forma, fosse uma erva daninha.
Os meses passaram.
Certo dia o jardineiro se deu conta do estado do seu jardim. Depois de muito ser interrogado acerca do que se passava e de dizer que apenas não sentia mais interesse pelo jardim, ele sentiu falta da velha roseira. A bem da verdade era que a roseira era o motivo de todos aqueles cuidados com seu jardim. Então ele voltou a cuidar da velha roseira como dantes.
Não foi fácil.
Ele lhe podou os galhos, arrancou os arbustos que tomavam conta do jardim, afofou a terra e a adubou. Mas mesmo assim não adiantou muita coisa. A roseira parecia não reconhecê-lo mais. Era como se não fosse mais aquele jardineiro que lhe cuidava com tanto zelo. Ele insistia, insistia e a roseira teimava em não florescer. Era como se não tivesse mais motivo para desabrochar os mais belos botões.
A outra roseira permanecia no jardim. Contudo, não parecia sentir os efeitos do abandono. Continuava desabrochando belos botões. Infelizmente, aqueles botões não comoviam o jardineiro.
O que mais ele queria era ver a velha roseira desabrochar como a outra. Por isso, continuava persistindo incansavelmente e nada de obter sucesso.
Certo dia enfureceu. Já não agüentava mais aquela agonia. Aquilo tinha que acabar de qualquer jeito. A vida para ele não tinha mais motivos sem sua roseira. Então pegou a mesma enxada que usava para capinar o jardim, foi até lá e, com os olhos banhados em lágrimas e tomado por uma ira descomunal, arrancou as duas roseiras.
Depois de destruir todo o jardim, voltou a casa e, de posse dum revolver, apontou a arma para a cabeça e deu um único disparo.
E assim acabaram para sempre a velha roseira, a nova roseira, o jardim e o jardineiro.


Edmar Guedes Corrêa
Set/2001

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