Era uma vez, um jardineiro que possuía uma roseira em seu jardim. Uma roseira que ele cuidava com muito carinho há sete anos. Ele vivia sozinho em sua casa e aquela roseira era o motivo de sua existência. De certa forma a roseira fazia parte de si, assim como ele fazia parte da roseira.
E parecia que a roseira também entendia isso. Seus botões de rosa eram os mais bonitos de todos os jardins da redondeza. E todos admiravam a vitalidade, a beleza daquela planta no jardim da casa daquele homem. Era como se ela retribuísse, produzindo as mais belas rosas vermelhas, todo aquele cuidado e carinho.
De repente, porém, a roseira deixou de produzir as mais belas rosas. Agora as pétalas tão cheias de vitalidade, pareciam tristes e sem vida. Talvez fosse porque o jardineiro também andasse triste, calado, como se alguma coisa o atormentasse.
Sem muita explicação o jardineiro deixou de cuidar da roseira como dantes, já não lhe dedicava a devida atenção, já não limpava o mato que insistia em crescer em volta do pé daquela planta tão querida, já não podava os galhos com tanta freqüência como dantes. Era como se tivesse perdido o interesse pela planta tão querida.
Certo dia nasceu no seu jardim uma outra roseira. De início, o jardineiro não deu importância àquela planta; contudo, aos poucos, passou a dividir a pouca atenção entre as duas plantas até que o primeiro botão da outra roseira se abriu. O jardineiro ficou encantado e passou a dedicar sua atenção a nova roseira. Passou a cuidar dela tão bem quanto cuidava anteriormente da velha roseira. E a outra que já não tinha mais a juventude, a vivacidade da mais nova, ficou em segundo plano. Ainda cuidava, vez ou outra, da velha roseira, mais por obrigação do que por carinho ou interesse. E a roseira começou a murchar, as folhas a amarelar. Parecia que não duraria muito tempo.
Depois do primeiro botão e do encanto, o jardineiro não sentia o mesmo entusiasmo pela nova roseira, como sentira por muitos anos pela outra. Ele já não achava o segundo botão tão bonito quanto o primeiro. Era como se esta fosse uma roseira como qualquer outra. Não era especial como aquela que ainda continuava em seu jardim.
A nova roseira também não foi capaz de fazê-lo sorrir e continuar a ser um jardineiro alegre e feliz como dantes. Era como se já não existisse mais prazer em cuidar de seu jardim. Era como se ele fosse um jardineiro sem um jardim para cuidar. Mas o jardim existia e as flores também. Apenas não havia mais motivos para cuidar daquele jardim como antes havia.
A velha roseira reclamava seus cuidados, mas ele parecia não perceber isso. O jardim perdeu a vida. As ervas daninhas surgiram e pouco a pouco foram tomando conta daquele que fora um belo jardim. Somente a nova roseira se sobressaía como se também, se certa forma, fosse uma erva daninha.
Os meses passaram.
Certo dia o jardineiro se deu conta do estado do seu jardim. Depois de muito ser interrogado acerca do que se passava e de dizer que apenas não sentia mais interesse pelo jardim, ele sentiu falta da velha roseira. A bem da verdade era que a roseira era o motivo de todos aqueles cuidados com seu jardim. Então ele voltou a cuidar da velha roseira como dantes.
Não foi fácil.
Ele lhe podou os galhos, arrancou os arbustos que tomavam conta do jardim, afofou a terra e a adubou. Mas mesmo assim não adiantou muita coisa. A roseira parecia não reconhecê-lo mais. Era como se não fosse mais aquele jardineiro que lhe cuidava com tanto zelo. Ele insistia, insistia e a roseira teimava em não florescer. Era como se não tivesse mais motivo para desabrochar os mais belos botões.
A outra roseira permanecia no jardim. Contudo, não parecia sentir os efeitos do abandono. Continuava desabrochando belos botões. Infelizmente, aqueles botões não comoviam o jardineiro.
O que mais ele queria era ver a velha roseira desabrochar como a outra. Por isso, continuava persistindo incansavelmente e nada de obter sucesso.
Certo dia enfureceu. Já não agüentava mais aquela agonia. Aquilo tinha que acabar de qualquer jeito. A vida para ele não tinha mais motivos sem sua roseira. Então pegou a mesma enxada que usava para capinar o jardim, foi até lá e, com os olhos banhados em lágrimas e tomado por uma ira descomunal, arrancou as duas roseiras.
Depois de destruir todo o jardim, voltou a casa e, de posse dum revolver, apontou a arma para a cabeça e deu um único disparo.
E assim acabaram para sempre a velha roseira, a nova roseira, o jardim e o jardineiro.