Eu ainda posso ouvi-los sussurrando por trás de minhas costas... Um murmúrio crescente e perturbador vindo de perto, não muito perto, mas possível de se sentir a presença... Algo como um sopro gélido na nuca...Eu não podia me mover. Mantinha a cabeça parada, no inocente desejo de que eles não percebessem que eu sabia, que eles estavam ali, existiam, e eu podia ouvi-los, vê-los, talvez, tocá-los. Um tremor corria pelo corpo. Eu não conseguia me acostumar. Entrar em cômodos aparentemente vazios, e cheios deles. Ao meu redor. Nos cantos das paredes, das ruas. Alguns bem na minha frente, com os olhos nos meus. Eles. Quase sempre atravessáveis.
Acordei. Um deles no canto do quarto. Viro, e tento me acalmar enquanto decoro as marcas de dedos na parede. São tantas. Nunca formam uma mão completa. Apenas marcas de dedos espalhadas. Não sabia ao certo se eram minhas as marcas, ou quando foram feitas, ou como. Ele se aproxima. Ele sabe que estou fingindo, que estou acordada sim. Alguns são espertos. Sabem o que penso. Me perseguem. Ele se aproxima. Quando eu era criança, e tinha pesadelos eu gritava pela minha mãe. Hoje ela já não aparece mais. Quem me resgata dos meus pesadelos sou eu mesma. Repetindo a mim, todas as noites, que nada daquilo existe, que somente o que é palpável pode me fazer algum mal. Que pesadelos nada podem contra mim. E procuro tocar as coisas, pra ver o que realmente é, o que faz parte da minha vida. Encosto nos aros de metal da cama. Seguro com força, como a única verdade. Frio e forte. Existe. Não pesadelos. Não fantasmas. Eles, não. Eu não existo, além desse corpo. eu não tenho medos. Se controla, sua fraca! Ele não vai te fazer nada! Ele não pode! Disfarça! Retoma essa respiração! Manda a merda! Ignora! Você não é nada além de carne, um amontoado de órgãos e glândulas e aspirações ridículas! Não, você não pode acreditar em Deus, se não o outro lado também existe. O maior pesadelo é ter a certeza que somos algo além de corpo. É pedir por Alguém, e obter resposta.