José Romeu dos Santos, síndico do Edifício Biarritz, brasileiro, divorciado, fez tudo quanto tinha costume de fazer durante o seu dia: de manhã, antes de ir para o escritório de representações, checou todas as pendências do prédio, falou com o zelador e o porteiro, fez recomendações, cumprimentou dois ou três vizinhos que se dirigiam ao trabalho e, por volta das oito horas e quarenta e cinco minutos daquela manhã, deu partida no velho e confiável Mercedes, ano 1988 e foi trabalhar, no escritório que dirigia há vinte anos.
Lá, deu alguns telefonemas, falou com clientes, chamou a secretária para redigir um memorando, contou uma piada para o Sanchez, seu auxiliar direto, mandou buscar almoço no restaurante chinês, tirou um a soneca de quinze minutos e a parte da tarde foi lenta e rotineira.
Ao cair da tarde, começo de noite, desceu ao estacionamento no subsolo e voltou ao velhjo e querido Mercedes 1988, para encetar o caminho de volta à casa.
No trajeto, coisas estranhas começaram a ocorrer: por seus olhos apareciam chispas cor de fogo, lampejos, como se fossem relâmpagos, mas o céu estava claro, escampo.
Sentiu um sono diferente e começou a bocejar. Logo ele, pessoa que tinha terríveis insônias e só conciliava o sono altas horas da noite.
Entrou na garagem do Edifício Biarritz e era como se estivesse num prédio que não era o dele.
O porteiro, aparentemente, não era o João; o zelador não era o Rabelo.
Mas, tonto e perplexo, preferiu tomar o elevador social.
Apertou o botão do 15o pavimento. O elevador, ao invés de subir, desceu e desceu por um tempo que nem conseguia imaginar.
Nunca mais se ouviu falar em José Romeu dos Santos. Isto já aconteceu há mais de dois anos. Vocês, por acaso, ouviram falar dele?