Ele não se casou de papel passado como todo mundo, mas, arranjou uma mulher, Zefinha. Eles compraram uma malhadinha que tinha de tudo plantado e, Brasilino, só andava limpinho e arrumado. Depois que Zefinha morreu, ele que já não tinha a cabeça muito boa, desandou de vez, ficou desorientado e a cada dia aparecia com uma mulher diferente. Passou a andar pelo mundo sem rumo, quase não tinha roupa para vestir. Eu mesmo, nunca o vi reclamando ou chateado da vida, sempre alegre, sorrindo e contando lorotas. Ele era alto, magro, tinha uma barba branca que contrastava com a cor da sua pele morena. Usava um chapéu de palha todo desbeirado, que nunca tirava da cabeça. A calça era arregaçada até o meio da canela e não tinha cinto, era uma palha de pindoba que a segurava, a camisa ficava sempre aberta, deixando a barriga de fora. Chinelos? Nem pensar!
— Não macustumo quesses diabo! — dizia ele.
Falou no diabo apareceu o rabo e Brasilino foi chegando na casa-de-farinha e contando:
—– Meu irimão, não te conto! A semana passada precisei drumi na casa da nossa irimã Justina, lá na Estança. Ah, meu irimão me vi aperriado nesse dia! Da hora que cheguei inté a hora de drumi fiquei querendo guardar na cabeça aonde era a privada. Pois bem, chegou a hora de drumi, todo mundo foi pro seus quarto e eu fui pro meu. Lá pela meia noite, me alevantei querendo mijá. Quando abri os zóio, vi que a casa tava toda no escuro. Aí foi adonde a porca troceu o rabo! Fiquei todo atrapaiado e não sabia aonde tava o botão pra acender a luz. Cuma não achei aquele diabo, arresorvi passar a mão debaixo da cama pra ver se tinha argum penico, e nada! Saí pra fora do quarto e tatiei pra lá, tatiei pra cá e nada! Matutei, matutei, e num cunsegui me alembrá aonde ficava a desgraçada da privada. Aí é que a vontade de mijar apertava e eu mais atrapaiado ficava.
Ontonssi, pedi a meu Padim Pade Ciço que me desse um adjitoro nessa hora de tanto supriço. Mijá no chão num pudia pois, no outurdia, adepois que o povo se acordasse e visse a poça de mijo correndo no chão, ia ser a maior recramação. Eu, um home véio desse, num ia querer ouvir recramação nas casa dos zouto. Como eu já tava nas úrtima, quase mijando no chão, fiquei segurando a pinta, quase sem respirar, suando frio e correndo pra lá e pra cá... Aí meu irimão, nessa afrição, acabei arriando as carça!
Tava cada vez mais apertado e arrezorvi o pobrema logo. Sortava o mijo um pouquinho numa mão, com a outra apertava a pinta, e aí dava um sartinho pro arto e junia nas parede, fazia um pouquinho na mão e junia nas parede inté o mijo acabar... e aí, fui drumi aliviado!
No outurdia ninguém deu fé de nada, nem o fedor do mijo sentiram, tombém ele foi bem ispaiadinho.
GLOSSÁRIO
Adjitoro - ajuda, auxílio.
Carça - calça
Malhadinha - pequeno sítio.
Muculanduba - nome do sítio - palavra de origem africana
Outurdia - outro dia
Ontossi - então
Pindoba - palha de palmeira , usada na região, para fazer amarrações.
Penico - urinol
Privada - latrina, vaso sanitário