Um vestido de pássaros e nem imaginava ver uma cena daquelas. O teatro cheio e todos assistiam com interesse uma peça em que a personagem central vestia roupas rasgadas. Depois deixaria de ser alegoria.
Enquanto observava um dos pássaros, lembrava do seio de sua família, daquela tradição com odes à religiosidade e os costumeiros bons costumes. Foi apenas um devaneio e fixou suas vertigens na ribalta que a essa altura latejava com uma dor de cabeça. Um rapaz de barba gritou lá do outro lado sobre a eficácia de um analgésico. Então lembrou dos seus treze anos quando a mãe lhe acariciou a testa afins de baixar um estágio febril. A moça na ribalta e suas vestes rasgadas lembrava os anfiteatros esquecidos. Aquela dor de cabeça misturou atriz e personagem e o mundo ficou apenas reduzido àquele primeiro ato. A moça dos pássaros estava zonza e já não sabia o que era ribalta e platéia e ficou pasma quando viu o povo no palco no centro do desespero e as cadeiras vazias e pensantes. Quando apercebeu-se viu a ambulância e tudo a chorar vendo o teatro de vestido rasgado ir embora. E a vertigem não fixada despencou seu corpo num desmaio demolidor a cair num abismo de desalento cheio de palavras silenciosas.