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Contos-->A tamarineira -- 07/07/2000 - 05:30 (Saraiva Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ela estava ferida. Seus membros amputados pareciam dois cotocos cerrados acima dos joelhos. Ceifada por maldade ou ignorância em pleno ardor de sua vida, no momento em que estava grávida, em gestação do amadurecimento de seus frutos em abundância. Fora lhe decepada como quem teve a cabeça a rolar no patíbulo desfiando sangue por todas as veias.
Era apenas uma Tamarineira, frondosa em seu imenso leque de folhas, viçosa em seu balanço sensual ao sabor dos ventos, exuberante pela sua natural imponência em meio às Juremas, Algarobas e Cajueiros. Aquela sombra, de tão majestosa, era um afago na consciência do povoado como que a lembrar que fazia parte de vida e sobrevivência.
Seus frutos azedinhos, só de pensar, davam água na boca. Quem lhe prestasse um pouco de atenção, percebia que ela chorava, um choro quase imperceptível, delicado, sem alarde, assim meio sutil e todo profético a nos avisar que a floresta, o paraíso, o planeta e a vida, estavam sendo dezimados pela estupidez do homem.
E lembrar que todas as terras daquela chácara foram compradas graças a sua beleza sempre de olhos verdes, fizesse sol ou chiva. Foi amor à primeira vista e iludida a Tamarineira derramou seu pranto de proteção e seu hálito puro a conquistar o corpo e a alma de seu senhor. Desvairada, enfeitiçou aquela casa seduzida pelo canto de seus passarinhos. A cada hora escolhia uma melodia diferente, mas era no alvorecer, com a batuta de seus galhos, que ela comandava uma verdadeira orquestra de pitassilgos, canários, cabeças-vermelhas, golinhas, asas brancas e até o desafinado bem-te-vi, tudo para encher de alegria e amor o coração do homem.
Nada adiantou. A primeira construção de uma simples latada, um reles alpendre, como se a sombra deles tivesse algo de especial, ela foi traída e apunhalada de forma cruel e covarde, pelas mãoes de seu próprio amo, com um perverso motor serra a devora as entranhas. Em vão ela se debateu, aos gritos pelo estalar de seu tronco, pediu socorro e, ao longe, ouviu um grito de criança assustada, sua última esperança antes de desfalecer para o penhasco, sem machucar ninguém.
Às vezes fico a pensar porque aquele homem cometeu esse crime tão bárbaro. Talvez por ser rico e médico acostumado com o bisturí a vida lhe pareça efêmera e sem sentido. De outra, fiquei sabendo que ele não anda bem com o mundo, vive separado da mulher, distante dos filhos, zomba dos pobres e sua voz denota amargura. Uma coincidência ressalta: desde que a Tamarineira caiu que ele anda sem sua própria sombra.
Sariva Júnior
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