-Você pode sentir? - Ela me pergunta, recolhida num canto sob a cama, onde a luz do Sol ainda não chega na manhã fria, agarrando as pernas frente ao corpo - Você pode? - sussurra mais uma vez - Diga que sim, por favor... - Ela me olha nos olhos com algum brilho, brilho de olhos negros no escuro, assustados, respirando fortemente pela boca entreaberta de dentes cerrados - Não... Não me faça acreditar que sou a única, que devo estar ficando louca. Eu sei. Sei que estou ultrapassando os limites da sanidade, quase onde quero estar, mas eu só não me levo tão a sério para chegar a me preocupar com minhas loucuras, eu acredito em mim, não nelas, mas diga que você também faz parte, que você pode ver as mesmas ilusões que eu, que você pode ouvi-las conspirando, sentir o olhar delas sobre você, que eu não estou sozinha... Que você entende cada palavra que eu falo. Diga que você pode sentir isto, por favor...- Fecha os olhos, morde o lábio, os reabre lentamente. Hesita. Esfrega as mãos. Se levanta para preparar café e diz antes de abandonar o quarto - Está frio... É melhor você se agasalhar...