Era noite, andava eu pelas ruas perdido em pensamentos caminhando sem rumo, quando me vi perdido na parte boêmia da cidade, via meretrizes em seus altares de papelão nos convidando a uma noite de luxuria, ainda hoje, após 20 anos como morto não sei por que não aceitei a aquele vil prazer. Guiado por instintos, talvez, me guiei a um hotel barato no canto de uma esquina suja e negra, uma senhora me aguardava de roupas negras, não sujas e sim aparentemente finas para o local. Lembro que pensei em como alguém poderia viver assim, bem, eu mesmo vivia assim e ainda me pergunto como conseguia.
Sabia quem ela era e o que talvez quisesse comigo. Não, ela não era outra das “rainhas das ruas”, era velha demais para isso, o rosto sereno sem sentimento algum, ela se parecia comigo ou pelo menos parecia similar a mim.
Sem ao menos conhecê-la contei tudo, absolutamente tudo como se regurgitasse todos os fatos de minha triste vida. Odiava-me por isso mas não conseguia parar era, agora, o meu vício diário. Do nada ri, me sentia um idiota por contar coisas tão intimas a uma pessoa que sequer conhecia.
O rosto vermelho. Ardendo, um tapa... Aquela... Aquela vadia me dera um tapa ao rir dela, não pude acreditar... a raiva me consumia por completo e o cheiro insuportável daquele lugar pútrido começara a me incomodar. Gentilmente levei minhas mãos ao seu pescoço apertando pouco a pouco. Sentia suas veias estourarem, meus ouvidos encantados com a doce melodia e seus gritos finais, lembro do gozo, da alegria... do gosto de sua carne fria em contato com a minha.
Naquele dia, a 20 anos atrás, morri... não conseguia sentir coisa igual ao tato da morte que provoquei, me fechei para o mundo. Sem mais sorrisos, sem mais olhares... Nada!
A partir daquele dia, a partir daquela hora, o vazio, o silêncio, o frio me dominara...