A moça de Sorocaba
Uma jovem muito bonita saiu da estação ferroviária. Aproximou-se de um homem simpático que trajava um elegante terno claro, quando ele acabava de sair de um banco que ficava ali em frente, e lhe falou:
- Boa tarde. Eu sou de Sorocaba e nunca estive em São Paulo. O senhor poderia me indicar como ir até a Casa Verde?
Ele olhou para ela e ficou deslumbrado com a beleza que nela viu. Era uma moça simples e recatada que o abordara com muita educação.
- Pois não. A senhorita terá de pegar dois ônibus para ir até lá. O primeiro é aquele amarelo que está estacionado ali, do outro lado da avenida. Chegando ao ponto final dele a senh...
Cortou a explicação que estava dando quando viu a expressão confusa e de desanimo no rosto dela. Sentiu pena daquela moça tão bonita e totalmente deslocada ali na grandeza daquela cidade. Resolveu ajuda-la.
- Eu vou para aquele lado. Se a senhorita não se importar eu poderia leva-la até lá. Ficaria mais fácil do que pegar o ônibus.
- Eu ficaria muito agradecida. Como já disse ao senhor eu nunca estive aqui. Estou um pouco assustada e com medo de me perder.
- Não se preocupe, eu estou com algum tempo livre e vou ajuda-la a encontrar o endereço que procura.
Ele disse a ela que o esperasse um pouquinho. Foi até um estacionamento ali perto, aonde pegou o seu carro, e voltou para pega-la. Encostou o carro no meio fio, ao lado da calçada que ela esperava, e lhe disse que entrasse nele.
Ela entrou no carro, cheia de inibição, sentou-se ao seu lado e lhe falou:
- O senhor tem certeza que não vai atrapalha-lo me levar até aonde eu vou? Eu posso pegar um taxi se for dar muito trabalho.
- Não se preocupe, eu disse pra senhorita que tenho mesmo de ir para os lados da Casa Verde e não me custa nada leva-la até lá.
- Eu fico muito grata. O senhor não sabe o favor que está me fazendo.
Ele entrou no transito complicado e intenso e seguiu na direção em que ia leva-la. Notou que quando ela sentou ao seu lado o vestido justo que usava subiu, deixando um lindo par de pernas a mostra, sem que se preocupasse em puxa-lo parecendo não perceber o quanto estava provocante ali ao seu lado.
- Você me disse que é de Sorocaba. Eu nunca estive lá. É uma cidade bem distante daqui, não é? Ele perguntou tentando puxar assunto.
- Bastante, ela respondeu. Eu sai de lá bem cedinho e tive de enfrentar uma viagem horrível de trem até aqui. Estou morrendo de cansada. Ainda bem que o senhor apareceu para me ajudar senão eu teria dificuldades prá chegar até aonde eu vou.
- A senhorita veio passear?
- Não, eu vim visitar uma tia que está doente e devo ficar com ela até que melhore. É uma pessoa de idade que vive sozinha e eu vim para ajuda-la.
Conversaram bastante com o carro rodando em direção a Casa Verde e quando estavam quase chegando lá ele falou para ela enquanto estacionava na frente de um restaurante:
- Você viajou desde cedo e deve estar morrendo de fome. Eu também estou só com o café da manhã.
Vamos comer alguma coisa e depois eu a levo até a casa da sua tia. Agora estamos pertos.
Ele entrou com ela no restaurante e como já estava se sentindo a vontade, ao lado daquela mulher cheia de simplicidade, ele tirou o paletó aosentar-se. Como se fossem velhos amigos, desenvolveram uma gostosa conversa enquanto comiam e quando terminaram a refeição ele disse a ela:
- Bom, agora que estamos de barriga cheia vamos achar a casa da sua tia.
- Depois dessa viagem eu devo estar horrivel. Vou até o reservado para dar uma ajeitada no cabelo e me arrumar um pouco. Você me espera um pouquinho?
- Sim, não tenha pressa, ele respondeu deliciado com o sentimento de vaidade que viu nela.
Ela o deixou esperando. Ele chamou o garçom e disse a ele que lhe trouxesse um cinzeiro e acendeu um cigarro para fumar enquanto esperava.
Logo havia fumado vários cigarros e a moça não voltava.
Preocupado com a demora dela ele chamou novamente o garçom e lhe falou:
- Por favor, aquela senhorita que almoçou comigo foi ao toalete e a sua demora está me preocupando. Poderia mandar alguém ver se está tudo bem com ela?
O garçom chamou uma funcionária da casa e transmitiu a ela o pedido do cliente. Ela o atendeu e logo voltou para lhe dizer:
O senhor me desculpe, mas a senhorita não está lá. Ela foi vista saindo pela porta lateral assim que deixou a sua mesa.
Ele teve um pressentimento e pegou o seu paletó, que estava pendurado no encosto da cadeira. Colocou a mão no bolso interno dele e viu que a sua carteira não estava lá. A moça simples e educada que havia encontrado na porta da estação levara os seus cartões de crédito, seu talão de cheques e o cinco mil reais que tinha tirado do banco um pouco antes de encontra-la.
- Filha da puta, ele falou cheio de raiva em voz alta e se esquecendo da sua educação.
CARLOS CUNHA
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CARLOS CUNHA/o poeta sem limites
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