Nelson Rodrigues escreveu que uma morte não acontece de
repente: Ela é anunciada aos poucos e se pode perceber a sua
chegada. Eu como profissional de saúde já escutei vários comentários
sobre isto. Tanto numa doença, acidente ou agressão. Mas creio
que não existe aventura maior no ser humano do que a loucura.
Falo do pinel, a que é punida com camisa de força, eletrochoques,
etc... Aquele de comportamento inexplicaveis, que assustam. Mas
não é apenas a essa dimensão a que me quero referir. Sem para
isso ter uma argumentação lógica elaborada. Acho de que sem
loucura não existe criação. É um estágio superior da lucidez. É um
estado de graça , ou de desgraça, sempre caro, que escapa aos
mecanismos do racional dominada, para ser uma fértil terra de
ninguém. Assim era Junão, um rapaz forte, inteligente, criativo,
estudioso. A capacidade consciente de escapar aos limites da racionalidade,
permitiu o acesso a uma outra realidade, que, ainda possa ser
regida por uma lógica proxima da comum. Tinha desvios e conflitos
próprios, que estabelleceram uma dinâmica especifica, que supreende.
Ele dizia para mim, que na vida dele , o que mas ouço dizer,,
algumas vezes, sempre com uma supresa renovada e sincera, é que
os amigos gostaria de saber de onde vem o que ele inventa, o que
imagina e escreve, que sendo dele, não sabe de onde vem. Mas
um artista, poeta, escritor, consegue invadir esse território desconhecido
do imaginário. por uma vontade consciente, tendo uma clarividência
suficiente para constatar que deambula por um universo paralelo, maior
e destinto do inconsciente. É esse estado de demiurgo, essa
capacidade do criador de entrar nessa lucidez, seja escritor, poeta, pintor
ou cientista, que faz dele um criador. As vezes, os comportamentos confundem-se ,
quem não sabe de loucuras de amigos e conhecidos, tanto por
amor, outras coisas. No cotidiano da vida, de um valor lúdico e critico
tão presente que deslumbra, diverte e provoca uma secreta inveja dessa coragem de atos gratuitos,
dizia Junão. Ridiculos, provocadores, mas , acima de tudo vitais?
Geralmente essas atitudes, praticadas por artistas, são absorvidas pelo seu
status, uma vez que essas irreverências não tem a mesma leitura
que se praticados por um trabalhador comum.. E será que a
excentricidade proverbial do artista, através dos séculos, que se manifesta
nas suas irreverências, seja no jeito de vestir, nos próprios modos,
no palavreado solto, é apenas uma forma de se vender como um ser à
parte dentro da sociedade que integra, ou é a impossibilidade de
regresso completo ao mundo do bom senso, que se supõe ser o
mundo da sociedade estabelicida, falava Junão. Será que essas viagens ao território da
loucura, sem a qual a expressão artistica não existe, têm um
bilhete de volta? Pobre de quem um dia teve acesso a esse
estágio, isto está ao alcance de todos, más é de poucos a coragem
e a sabedoria, de a buscar. Gostaria de pensar que, as vezes,
me logro ínsinuar nessa aventura, a maior do ser humano e prazer
orgástico supremo.
-José Angelo Cardoso,-Poeta, contista, artista plástico.
Presidente-fundador da Academia Guairense de Letras.