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Contos-->QUANDO O DIABO CRIOU O CASAMENTO... -- 12/11/2002 - 18:03 (ALEXANDRE FAGUNDES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

ASSIM NASCEU O CASAMENTO...

Para os jovens de hoje,
que sabem pouco ou nada
dos obscuros milênios passados,
trago aqui uma síntese,
de um dos piores episódios
daqueles tempos de maldade:
a invenção do casamento.

Sim, meninos e meninas,
creiam neste velho sobrevivente:
o casamento não é o destino natural,
não é o ápice do amor mais vivo,
mas a mordaça que criaram para a paixão;
as correntes que aprisionam o coração.

Foi num ano que se perdeu;
foi numa época de luz e flores;
foi num necrotério fétido
que o casamento nasceu.

Parado na porta, pedindo esmolas, vi de tudo:
velhas fofoqueiras,
pais enciumados,
mães interesseiras,
mocinhas mal-intencionadas,
rapazes drogados,
policiais corruptos,
prostitutas falidas,
padres ambiciosos,
juízes de paz,
advogados
e sogras verruguentas.
Todos juntos sob um mesmo teto.
Sim, a escória unida para matar o amor.

E gritou de lá o padre:
- Silêncio! Vamos organizar essa bagunça!
(Pensava nas taxas que cobraria dos nubentes)
Falou, lá do fundo, o pai mais enciumado:
- Minha filha não me ama mais! Exijo providências!
(Pensava nas brigas, queria o fim do romance)
Protestaram as solteironas mal-amadas:
- São um afronta esses namoricos de portão!
(Não queriam mais as tentações, os calores por baixo)

E continuou assim a assembléia:
- Não é justo não envolver a justiça – disse o juiz de paz.
- Não é certo amar de graça – argumentou uma mocinha interesseira.
- Não faturo se estão felizes – lamentou a prostituta.
- Vejo um grande potencial – planejou o advogado.

E, dessa reunião asquerosa, nasceu o casamento.
Na ata, logo escreveram:
Que se dê com muita festa! (foi pedido de um cantor)
Que se faça sempre à noite! (sugestão de um taxista)
Que exija roupas novas! (acrescentou uma modista)
Que seja com mesas fartas! (implorou uma doceira)

Um ourives sugeriu grossas alianças; Aprovado!
Um hoteleiro sugeriu caras viagens; Aprovado!
Um lojista sugeriu presentes vários; Aprovado!
Um fotógrafo sugeriu álbuns pomposos; Aprovado!

Até um fazendeiro deu pitaco:
- Que seja com chuva de arroz!
Até uma tecelã palpitou:
- E com lençóis novos!
Pitacou também um construtor:
- Quem casa quer casa!
Palpitou também um papeleiro:
- Com convites douradinhos!

E todos aplaudiram.
O dono de um bar assoviava...
(-Terei mais fossas pra curar!)
O detetive pulava nas mesas...
(-Vão trair-se. Vou faturar!)
O pastor orava chorando...
(- Aleluia! Vou pregar a novidade!)
Os psicólogos exultavam...
(- Vou comprar um divã novinho!)

E, no meio daquela turba promiscua,
com enxofre e barulhão,
eis que veio quem faltava:
o próprio diabo apareceu!

- Lá da cova onde me escondo,
onde guardo os rancorosos,
tive notícias desse encontro,
e faço questão de colaborar!
Assim berrou o demo, sob aplausos.

Foi puxando um pano preto
e rabiscando uns planos tortos.
- Mudo o jeito das pessoas,
vão achar que isso é normal!
E todos os olhos brilharam
ante à astúcia de satanás.

Brindaram com cálices de fel.
Gritaram coisas sombrias.
Aplaudiram a maldade nascente.
Comemoraram a mentira que acabaram de aprontar.
Estava criado o casamento.

Na manhã seguinte,
mocinhas esconderam seus seios;
rapazes criaram cuecas;
namorados se envergonharam;
e cada flor perdeu seu perfume.

Foram imensas as filas:
- O meu vai ser em maio!
- Vamos fazer ao ar livre!
- Quer ser meu padrinho?
- Quero a lua com mais mel!
E assim foram, planejando os casamentos...

Dito e feito. Estava certo o diabo:
- Minha filha, sem casar não pode amar!
- Você está me enrolando, Zé! Cadê as alianças?
- Tire a mão daí! Comigo, só casando!

E era de tal modo uma praga,
que quem descasava, logo recasava.
Era de tal tamanho a mentira,
que maldisseram os solteiros.
Era de tal sorte o embuste,
que chamaram isso de amor.

E os ourives ficaram ricos.
Os botequeiros ficaram ricos.
As costureiras ficaram ricas.
Os músicos medíocres ficaram ricos.

E enriqueceram os padres, que casaram os casais.
E enriqueceram os juízes, que separaram os casais.
E enriqueceu cada meretriz, cada psicólogo e cada advogado.

E ninguém mais teve paz.
E ninguém mais viu poetas.
E ninguém mais mandou flores.
Sumiram a lua e a paixão.
E o tesão morreu de anemia.

Assim nasceu o casamento, meninos.
Na saúde e na doença,
na riqueza e na pobreza,
na festa e no funeral,
só uma coisa é certa:
foram infelizes para sempre.




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