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Contos-->O Carreteiro e a Japonesa -- 10/01/2000 - 11:50 (Davi Kendy Yorozuya) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Ah ! Se soubesses
que iria te encontrar esta noite
sobre a montanha
naquele horizonte pouco distante
sob o céu infinito
bem pequenino , de longe visto ,
com o mar a três palmos
do sentimento que transborda a ribanceira
e das corredeiras entorna
sobre a montanha neste mesmo horizonte
e sua exausto para o céu
bem pequenino , de longe visto:
eu devolveria a ti
com uma paixão torrencial
sobre o céu infinito
e te saciaria todo o teu desejo
em um só beijo
de modo que sentiria desabrochar uma rosa oriental
a três palmos do teu sentimento"



O Carreteiro


“O problema é ficar carregando todo esse papelão feito mula todo o santo dia. Fazer o quê ? Este lixo da cidade engana minha fome. “


A Japonesa


“Que malvadeza ! Encheram de porrada o pobre moleque...Nesta estação se vê de tudo. Há anos que estou de pé nestes muros , essa gente toda parece gado, vai e vem e surge uma varize ! É um pé no saco !”



O Dia-a-Dia



“ Como vai , Flor da luz ? A vida não tem sido fácil pra você ... dia e noite em pé , encostada nos muros da Estação. Pode cair pedra e muro, sempre quando passo aqui , vejo você com esta cara de sonsa .. “

“Sonsa é a infeliz da tua mãe ! E vê se cai fora , tá me atrapalhando velho ! “

“Tá bom , mulher ! Vou andando com os chinelos derretidos ou pés encharcados . Vou fazer parte do trânsitos e do barulho infernal . Vou me desgostando da vida , a não ser que eu te veja hoje a noite ... “

“Cinco conto . Negócio é negócio ...”

“ Aceita parcelamento ? “



A Prostituta Pensativa



“Aí , ainda bem que foi embora. Que velho chato ! Fala do meu vestido mas anda todo maltrapilho. Bem .. tá certo que sou puta , da Estação da Luz . Na verdade , é a estação terminal de toda a prostituta ... Meu tempo passou e até mesmo estou doente . Mas saí com este cara ?? Se liga meu ! Não tô tão caída assim. Ele tem a testa amassada e nem tem os dentes da frente , eca !!! “




A Paquera da Sexta à Noite



“Sabe , você é a única japonesa aqui . Que interessante ! “

“Olha , meu , hoje eu não tô com saco de te aturar . Se não topar , vá embora ou te encho de bolacha ! “

“Tá bom , tome os seus cinco . Vamos , não fique com essa cara ! Afinal quantas vezes tu trabalhou ?”

“Hoje nenhuma . Estou dura ...”

“Então minha dama . Vamos primeiro naquele boteco , te pago uma birita “




Conversa de Botequim




“Ultimamente tenho trabalhado muito pouco.”

“Ultimamente eu sinto todo fardo do mundo em minhas costas. “

“Passo muito mal ficando em pé nas paredes da Estação. Veja , meu cabelo tem caído muito ultimamente.”

“Estou ficando fraco , tenho envelhecido mais rápido ultimamente.”

“Queria passar o resto de minha vida com um vestido mais longo e sentada numa sala com cadeiras macias e muitas samambaias.”

“Queria retornar uns 64 anos atrás , e , de alguma forma , ter impedido meu nascimento.”

“Queria retornar um pouco minha idade e , casar , para que quando eu acordasse pelas manhãs , encontrasse os pés aquecidos de meu amado.”

“Sou velho , queria apenas uma companheira para conversar todas as mágoas , todas as noites , porque nossas vidas são como todo o lixo jogado e resumido por detrás da Estação.”






O Dia Seguinte




“Ufa , carrinho pesado...Bom dia ! Você embranqueceu mais ou é impressão minha ? “

“Você é louco ! Me paga mas caiu bêbedo naquele boteco e ...”

“Querida , não desmaie. As pessoas passam vão te olhar de cima . Acorde , vai ... “

“Não tô passando bem.”

“Que tal um passeio pela cidade ? Suba no carreto e relaxe ... “

“Eu não ! O que vão dizer as pessoas de ver uma velha com trajes em cima de um carreto , que ridículo ! “

“Ora , não seja tola ... Olhe o enorme arco-íris ! “

“Meu , parece que termina na Estação ! “




O Passeio



“Puxa , há muitos anos que não passo aqui ... Como tá bonito o Paissandú ! “

“É que você ainda não viu o Anhagabaú”

“Olhe estes chafarizes da Praça da Sé ! Veja quantos meninos brincam e pulam da água ! Há - Há - Há ! “

“Mas como você tosse . Tua boca está sangrando muito . Vamos beba isto. “

“Me leve de volta ... para estação ... por favor ...”





A Cabeça na Janela




“Carreteiro , senta aqui no meu lado , bem pertinho ... “

“Puxa , você tá mau !”

“Faz um favor para mim ? Me coloque dentro do trem , para uma estação terminal.”

“Mas Senhorita , para onde vai ? Qual Estação ? “

“Terminal... de qualquer coisa ... não fica assim , chorando por mim. Eu sou mais uma prostituta suja , igual a tantas mulheres infelizes e desprezadas. E quem é você , afinal ? “

“Sou um pobre andarilho que , como muitos dos miseráveis e velhos excluídos desta cidade , vagueiam sem destino e dormem em nenhum lugar , em qualquer lugar ...”

“Queria te agradecer pelo passeio ... desta manhã ... eh ... pela companhia ... Minha vida ... acho que valeu por estes momentos ... Quem sabe , se tivéssemos nos conhecido em outro tempo , não estaríamos ... Em outras circunstâncias , talvez ...”

“E assim a coloquei dentro do vagão vazio . Sua respiração estava ofegante , seus olhos vermelhos . Ainda a vi quando o trem partiu com sua cabeça na janela , com a mão no peito e chorando muito . Talvez estivesse magoada e quisesse dar mais um passeio ... talvez volte ainda hoje e saia comigo novamente ...

talvez sempre quisesse morrer no trem...

E na saída da estação , o anoitecer vermelho e violento esvazia lentamente a suja estação , e um vento frio e seco entoa uma melodia profunda e melancólica , que soa como uma balada triste todas as malditas noites em que adormeço :

Meu andarilho , de noite sem brilho ,
não há mais tua musa
tragaram-se as poesias , todas essas rimas
Olha teu coração em escombros
e o corpo singelo da pobre linda moça :
Não há mais cabelos
somente o vestido curto que encobre todo o rosto
mas descobre o corpo
definhando , espalhando escombros da nua cidade
cheia de Hades e maldade .
Vagueia , meu andarilho , nesse lugar errante
a esmo , a vento , a tua sorte ,
não sejas triste em achar pobres rimas sem brilho
pois tu és somente um pobre andarilho. “



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