Disse, um dia, a Lua à Flor:
-"Para quê tanta beleza, se tu és tão triste?
E a Flor, tão mimosa e inocente respondeu:
-"A mim basta ser bonita e refletir a minha beleza".
E a Lua, novamente lhe perguntou:
- Se tu brilhastes como eu, sentirias feliz?
Novamente, disse a Flor à Lua:
- Porque me sentiria triste, se tenho tanto brilho como tu tens?
- Porventura te esquecestes que o brilho não é tudo?
- Não sabes que a maior beleza vem da tristeza?
A Lua não entendendo o seu ponto de vista, lhe falou:
- Para mim não existe tristeza, pois reflito o meu brilho, levando a felicidade a todos aqueles que se amam.
- Todas as noites contemplo vários casais de namorados, que, graças à minha luz, se deliciam andando pelo luar, altas horas da noite.
Mas a Flor continuava no seu pensamento e não era esperta como a Lua. Esta, ao ver a sua inocência, perguntou para confundí-la ainda mais:
- Flor, tu que nasces das sementes, que cresces e morres, és muito delicada e não podes resistir ao calor intenso que emana dos raios solares e, quando falta água, poderás até morrer! Ainda assim, és tão feliz a ponto de dizer que a vida não tem sentido se não existir a tristeza? Eu, nunca morrerei e nunca deixarei de brilhar a estrada pela qual tu passas. Nunca deixarei de te iluminar e nunca te deixarei desprovida da minha luz e abandonada na tristeza, ao ponto de deixares cair as tuas pétalas, no chão da vida.
E a Flor, que caladinha escutava tudo, lhe respondeu:
- Lua, Oh Lua!
- Para quê tanta riqueza e tanto brilho se ficas aí no alto e não podes participar da verdadeira e mais significante beleza de amar, nascer, crescer e morrer! Não sabes chorar, porque nunca viu a tristeza e nem sabes avaliar a felicidade pois nunca desceu aos caminhos tortuosos, lutando contra a correnteza, para crescer e aprender a viver! Eu não tenho o teu brilho e não tenho a tua etérea magnitude celestial. Sou um simples ser orgânico que necessita da vida para perfumar os caminhos, tornando-os mais belos e mais ricos para todos aqueles que sofrem. A eles levo a minha beleza, e a minha essência, para que a vida
floresça em paz e em amor! Sou pequena e insignificante em relação a ti, porém garanto que sou mais feliz, pois conheço de perto a tristeza que a ti não é permitido saber. És incompleta na tua beleza, porém, não deixas de ser útil e não deixas de ser querida. Cada ser possue uma utilidade e, por mais insignificante que seja não deixará de crescer e de refletir a sua verdadeira luminosidade!
"E assim, a Lua, com todo o seu ar de grandeza, ficou pensativa e viu que já não era mais cheia e completa. Sua aparência era de uma meia-lua, confirmando o que a Flor lhe dissera.
Não existe neste mundo, um ser que seja verdadeiramente grande e completo! Perfeito só Deus e só ELE para avaliar a fraqueza dos homens!
"E a Lua no céu estrelado,
Não esconde o seu pesar
Quando a sua beleza explode na grandeza,
Surge depois, pela metade,
Revelando a todos
Que a sua beleza não é completa
Sem a presença de uma flor
Que do amor surge
Distribuindo calor
E a certeza de que,
A felicidade brilha muito mais,
Quando a vida se parte
Para renascer de novo
Da cicatriz deixada,
Surgindo mais bela e mais radiante!"
