Roberto saiu para o trabalho e não viu mais a filha da arrumadeira. Parecia que ela se escondera. Talvez estivesse envergonhada ou até arrependida.
No dia seguinte ele se lembrou de Marinalva ao entrar no banho. Buscou em suas lembranças os detalhes daquele último encontro. Isso despertou seus instintos transportando-o para um mundo de fantasias irrealizáveis. Enquanto permanecia nesse mundo paralelo, via-se com Marinalva num sítio. Ele era o seu senhor e ela sua escrava. Desnuda e amarrada ao troco, ela era chicoteada por ele. A cena era idêntica àquelas retratadas em livros de história. O motivo de tais chibatadas era a beleza e a sensualidade de seu corpo. Por ela ser uma negra, no seu entender, não deveria despertar esses instintos em pessoas como ele; então ele se vingava. Aqueles castigos por sua vez o excitavam mais e, não podendo conter seus instintos, jogou o chicote para o lado a deflorou com toda sua ira. Voltou ao mundo real quando uma explosão dentro de si fê-lo sentir fraqueza nas pernas.
Os dias foram passando e as lembranças daquela menina se perderam. Não nutria sentimento algum por ela. “Aquilo foi apenas um impulso momentâneo. Vê se eu vou querer me envolver com uma favelada qualquer!”
O mesmo não acontecia com ela; a lembrança daqueles lábios, das macias mãos dele tateando seu corpo faziam-na perder a concentração na aula e nos afazeres.
Na semana seguinte Marinalva voltou à casa diferente. Usava a melhor roupa que dispunha. Vestia uma blusinha de alça e uma calça de laycra santropê; estava com uma aparência melhor; o cabelo penteado; nos lábios um batom vermelho sobressaia à cor parda de sua tez. Aguardava ansiosa a chegada de Roberto.
No horário de costume ele adentrou a casa. Ela ouviu a voz dele na sala e ficou inquieta tal qual uma leoa no cio. Foi à sala sem se dar ao trabalho de arrumar uma desculpa. Encontrou-o subindo as escadas.
Ele não a imaginava de volta a sua casa. Ao vê-la, a recordação daquele corpo jovial e provocante despertou novamente seus instintos. Foi apenas um desejo inexplicável de subjuga-la; um desejo ávido e agressivo.
Parou alguns instantes a fitá-la. Depois disse:
-- Arrume um jeito e venha ao meu quarto! Estou a sua espera. -- Sem dizer mais uma única palavra, voltou a subir as escadas.
Marinalva voltou à cozinha onde a mãe limpava a geladeira e disse que ia subir e limpar o banheiro do quarto da patroa. Pegou o balde, o pano de chão, o desinfetante e o detergente e sumiu.
Primeiro foi à suíte da patroa deixar as coisas; a seguir, saiu e parou diante da porta do quarto de Roberto. Ficou na dúvida se deveria entrar ou não. “Ele está me esperando... Quero que ele me beije mais uma vez!...”, decidiu. A porta estava entreaberta. Entrou. Correu os olhos pelo quarto a procura dele e parou diante da porta do banheiro, a qual também esta entreaberta, e aguardou que ele saísse.
Enquanto isso levou a mão ao bolso da calça e retirou um pequeno bilhete escrito como muito carinho, numa letra cuidadosamente contornada. Eram palavras poucas, contudo, expressavam de forma precisa seus sentimentos.
Em cada olhar meu,
Brilha o desejo de estar ao seu lado.
Mas, em cada desejo,
Fica a ilusão de está sonhando acordada.
Marinalva
Leu-o pela última vez e depositou-o sobre a cama dele para que ele o encontrasse.
Passou-se alguns instantes. Ela começou a ficar impaciente, ansiosa e desejando estar ele o mais rápido possível; por isso, ao invés de desistir daquela loucura, ela, como que movida por uma força sobre-humana, por uma curiosidade inefável, por um desejo incontrolável, foi lentamente sem emitir o menor ruído em direção ao banheiro.
Encontrou Roberto enrolado na toalha acabando de se barbear. Ele a fitou através do espelho emitindo um discreto e malicioso sorriso.
Desdenhoso, ele deu os últimos retoques na face e lavou o rosto. Viu que Marinalva não lhe tirava o olhar. Isso lhe provocou pensamentos pecaminosos, fez-lhe o sangue arder em suas veias e causou-lhe excitamento. Enxugou o rosto e virou-se para ela.
Aquela menina parecia desconcertada quando ele pegou em sua mão e puxou-a para junto de si. Então ela se deixou ser guiada languidamente.
Ele a beijou deliciosamente nos rubros lábios sorvendo-lhe o gosto requintando e suave da juventude. Sem que ela se apercebesse, suspendera-lhe a mini-blusa e descobrira os pequenos e arfantes seios. Começou a tocá-los e a lambe-los tal qual um felino com sua cria.
Aquela menina ainda despreparada e indefesa ante as malícias do macho, também não era mais capaz de responder por seus atos. Estava em arroubos. Tal qual uma escrava, impedida por suas fraquezas de reagir, deixou que ele a dominasse e a subjugasse. E ela se sentiu minúscula, inferior e anulada diante do poder que ele exercia sobre si. Não percebia por sua vez que era tão somente um objeto, um brinquedo capaz de satisfazer os desejos daquele homem. E não percebendo as insidiosas intenções dele, ela não o barrou quando a encostou contra a parede empurrando-lhe a calça para baixo. Também não foi capaz de impedi-lo quando a mão dele encontrou o seu ponto mais íntimo e os lestos e pressurosos dedos passaram a explorá-la.
VII
De repente a toalha que envolvia suas ancas se desprendeu e caiu no chão.
Em outros tempos, outras circunstâncias, teria ele ficado extremamente envergonhado e apanhado-a ligeiramente, antes mesmo de tocar ao chão; agora, porém, isso não tinha a menor importância.
Marinalva percebeu o ocorrido apesar de estar absorta e perdida em sensações experimentadas pela primeira vez. A curiosidade brotou e ela vergou a cabeça para baixo, os olhos se abriram, as pupilas se dilataram. Ficou fascinada. Então era aquilo que provocava tanto frenesi nas mulheres? Perguntou-se.
O silêncio imperava entre aquelas quatro paredes. Ouvia-se tão somente a respiração profunda e ofegante daqueles contrastantes seres.
Pela primeira vez ela teve conhecimento do poder ameaçador, da força e da masculinidade do macho. E o fascínio foi tamanho que ela não conseguiu conter o desejo de ter em suas mãos aquele mistério. E o teve.
-- Faça assim... – Sussurrou ele as primeiras palavras.
Ela continuou e ele experimentou novas sensações.
Roberto por sua vez não tinha sentimentos algum por aquela jovem. A beleza e sensualidade dela não o sensibilizava. Não havia nada além do simples propósito de usar aquela inexperiente menina para satisfazer seus devaneios doentios.
-- Beije-o -- ordenou ele.
Ela ficou confusa. Aquela coisa a fascinava, mas o que estava pedindo era nojento. Ela não teria coragem de dar tal passo.
-- O quê? -- perguntou, dando a entender que não tinha ouvido direito.
-- Fique de joelhos e ponha-o na sua boca. Você vai gostar -- tornou ele.
Poderia ter se recusado, afinal era dona de seus próprios atos e não havia nada que a obrigasse. Isso, porém, não era de todo verdade. Ele exercia um poder tamanho sobre ela. Tanto que obedeceu como se ele fosse dono de sua vida.
Roberto era um homem experto e inteligente e percebeu que ela poderia ser guiada e controlada facilmente. Ao não se opor aos domínios dele ela estava selando seu destino para sempre; pois seria sempre um objeto nas mãos dele.
Quando tomou aquela coisa estranha e incógnita entre seus dedos e aproximou seus lábios entreabertos, sentiu a sensação de que estava colocando em sua boca algo repugnante quanto minhocas. Contudo, o nojo dissipou-se a medida em que tais gestos provocaram-lhe uma sensação deleitosa.
Depois de um breve intervalo de tempo ele falou:
-- Deixe-me tirar sua calça.
-- Mas e se chegar alguém? Minha mãe pode vir a minha procura.
-- Ela não vai vir não!
Marinalva levantou-se e ele se abaixou; pegou nas bordas da calça dela e a despiu. Ele a contemplou por alguns instantes. Já não podia mais se conter. Queria possui-la a qualquer custo e tinha certeza que ela não ofereceria resistência. Já haviam chegado até ali, ir aos finalmente seria apenas mais um passo. Tomou a resolução sem perda de tempo. E aproximou-se dela e a abraçou. Beijaram-se ardentemente.
-- Eu não posso... -- grunhiu ela, quase que imperceptivelmente.
Ele, contudo, não tomou conhecimento. Soltou-se dela e se abaixou para acabar de tirar a peça de roupa. Enquanto o fazia, admirava cheio de curiosidade o intocado sexo da menina. Afinal de contas, era a primeira e talvez a última vez que explorava as partes pudicas de uma negra.
-- Eu não quero... não posso... minha mãe me mata...! -- implorou ela.
-- Pode sim... Eu quero!... -- retorquiu ele, impaciente.
-- Não...! Pare...! Me deixe vestir a roupa e sair daqui! -- Ela pôs as mãos nos ombros dele, empurrou-o tentando se desvencilhar.
Roberto tentava deflorar Marinalva a qualquer custo, mas ela o impedia.
-- Eu quero terminar... Eu preciso!... E você vai dar para mim. Agora é tarde para recuar...
-- Não faça isso!... Pare... senão eu vou gritar... -- A chama do desejo já não corria mais em suas veias. A sensação agora era outra. O medo tomara conta de seu corpo.
-- Eu te dou qualquer coisa para você deixar eu enfiar ele em você -- propôs ele, mais irritado e impaciente.
Agora o tempo transcorria rapidamente. Já faziam cerca de dez minutos desde o momento em que Marinalva invadira sua privacidade.
-- Eu não quero nada! Só quero sair daqui -- disse ela, empertigada, com compunção.
-- Todo mundo tem o preço e estou disposto a pagar o seu. Não banque a durona...
Finalmente ela conseguiu se soltar. Pegou suas roupas saiu correndo do banheiro. No quarto vestiu-se rapidamente e desceu as escadas correndo.
Roberto ficou deveras irritado e frustrado. Não esperava que ela lhe fosse escapulir bem na hora em que a tinha nas mãos. Todavia, não se deu por vencido. Haveria de encontrar um jeito de arrebata-la. Teve mais certeza ainda quando encontrou o bilhete sobre sua cama. Ao lê-lo achou graça e disse de si para si: “Mas que negrinha mais idiota! Está apaixonada por mim... Será que não se enxerga!”