Há quarenta anos atrás, as brincadeiras da gurizada eram outras.
Jogar bolita, fazer pandorga, carrinho de rolimã, uma “peladinha” na praça, e, de vez em quando, ficar inventando alguma traquinagem da pesada.
Tudo começa com uma reunião dos guris na frente do prédio. Conversa vai, conversa vem, cada um conta uma vantagem, uma história que ouviu do pai ou do avô.
Então os olhos brilham, todos se voltam para aquele que, no meio da conversa e das risadas, faz tudo parar, ficar em silêncio:
- Vamos passar graxa nos trilhos do Bonde?
Graxa nos trilhos do Bonde??
- Sim!!!
E o que acontece, outro pergunta?
- Ele não consegue andar, patina.
Risada geral, ótima idéia!
O plano começa a ser traçado.
Onde conseguir a graxa?
- Na ferragem.
E o dinheiro?
- Faz “vaquinha”.
Tudo certo, após discutir quando e onde comprar é claro, pois não pode ser perto de casa, para não deixar pistas.
Graxa na mão!
Segunda etapa do plano: onde, qual o melhor lugar?
Unanimidade:
- Na subida da Duque.
Chega então o grande dia. Todos a postos. É só passar a graxa bem passada conforme o combinado e correr para se esconder.
O Bonde vem, patina, patina, patina e desce. Patina, patina, patina e desce.
O motorneiro desce, esbraveja, grita, procura os culpados. Alguns passageiros desistem e seguem a pé.
Até que chega a solução, colocar areia nos trilhos. O Bonde luta, faz força e finalmente segue seu caminho.
A gurizada se encontra no lugar combinado e vibra com seu feito. Passam dias comentando tudo nos mínimos detalhes.
Hoje ensinamos nossos filhos a jogar bolita, fazer carrinho de lomba e até algumas “traquinagens”. Quanto aos Bondes, são histórias que podemos com saudades relembrar.