Abri os olhos e senti um certo desconforto. O sol no meio do céu indicava que seria por volta de meio dia. Beth estava desmaiada ao meu lado. Eu sentia dor por todo o corpo. Tentei levantar-me mas não conseguia ficar de pé sozinha.
Comecei a recordar, ainda meio zonza. O coração tremeu ao lembrar o horror. Nesse momento, Beth começava a acordar e seu rosto virou-se lentamente em minha direção. Olhou-me espantada: ”Ainda estamos vivas?” . Qause que histéricamente comecou à chorar um choro compulsivo, entrecortado de soluços. No fundo um choro aliviado.
Precisava levantar, fiz um esforço maior e consegui levantar o pescoço. Senti minhas mãos doloridas e apoie-me em uma pedra que inalterada, após a catástrofe, continuava ali. Sem importa-se. Sem medo. Inteira.
Com esforço consegui aparar-me na pedra. Levantei-me e com dificuldade cheguei até Beth. Nos abraçamos e choramos. Havia muito pelo que chorar.
- Sara... temos que levantar. Estou com sede.
Nossos olhos se cruzaram e temerantes aos poucos fomos olhando ao derredor. Devagar. Com o receio de não haver sobrado mais nada.
- Beth! Acho que não fomos atingidas ou pelo menos, não tanto – abraçou-se em mim com força de esperança.
- Vamos, Beth! Está machucada?
- Acho que não, amiga! Só dolorida...
Levantamos apoiando-nos. Não havíamos nos machucado. Olhamos agora de um lado ao outro da estrada. Muita poeira e um cheiro um pouco sufocante de produtos químicos. Quase nada fora do lugar. Uma árvore empoeirada e um pouco tombada. Algumas rachaduras no chão. O céu... Nuvens escuras e esfumaçadas. O céu havia sofrido algum tipo de estrago. Não sei se a situação era grave. De uma coisa tenho certeza. Aquele não era o nosso céu comum
Eu e Beth costumávamos ir à cachoeira para tomarmos banho. Adorávamos ficar em baixo das pedras recebendo jatos forte de água. Hidromassagem natural. Beth costumava dizer que era bom para tirar celulite e evitar estrias. Íamos com freqüência. Celulite e estria não íamos ter. Afinal todo dia e à mesma hora estávamos lá nas “Águas das pedras”. Adorávamos escalar as pedras para chegar à nascente. Beijávamos a natureza e lavávamos a alma.
Voltávamos para a casa quando escutamos no rádio do carro, assombrada, que o Iraque começara atacar os americanos com armas nucleares. Os mísseis foram ativados. O Grupo Al Quaeda e seus homens-bomba naquele momento atacavam a Casa Branca. Era a Guerra. Estava prevista a todos os instantes. Eu e Beth não acreditamos quando tivemos que parar o carro. O chão tremia e algumas lascas no chão começavam a aparecer. Um cheiro insuportável de gás. Explosões. Traçantes. Mísseis. E não sei o que aconteceu depois, pois desmaiamos com um forte impacto causado por um barulho de que também não sabia. Um barulho de fim. Um baralho de morte, de cadáver.
- Sara? Vamos ver o carro. Será que está inteiro? Será que acabou tudo e não ficamos sabendo? – ele estava nervosa e eu também.
- Beth... Fique calma senão não consigo racionar...
Tentamos correr, mesmo com dores, para chegar aonde deixamos o carro. Precisávamos voltar e saber o que havia ocorrido.
Ele estava lá. Apenas o pneu furado por entre um chão rachado. Trocamos o pneu e mais uma vez, num super esforço, tiramos o carro da pequena cratera.
- Sara! O carro pegou. Vamos.
- Vamos – falou Sara, que parecia controlada mas estava à beira de um ataque de nervos.
Fomos pelo Alto da Boa Vista. Algumas árvores sofreram conseqüências, mas nada irremediável. Ainda bem. Mas será que já havia acabado a guerra? E porque estávamos ali? Com tantas armas diversificadas não teríamos chance de estar vivas. Nem de sobrar nada.
Continuamos e nada. A mesma paisagem. Aguns troncos pela estrada. Poeira. Muita poeira. De repente após o tunel, apareçam as primeiras pessoas. Gente correndo. Prá lá e prá cá. Íamos para a Urca. Pedi a Beth para não correr tanto pois tinha gente saindo de todo lugar. Apavoradas. Machucadas. Gritando...
- Beth! O Cristo! O Cristo Redentor. Será que acabaram com ele. Será que ele resistiu.
- Sei não, Beth. O Buda já se foi. Imenso daquele jeito, não sei não...
- Sara! Vamos pelo caminho que vai dar no Cristo. Quero saber se ele ainda está vivo!
- Beth!... Vamos direto para casa. Preciso ver minha família...
- Estamos perto, vamos!
- Está bem. Vamos logo! Acho difícil. Espero realmente que ele tenha vencido.
Fomos chegando mais perto e mais perto.
- Olhe, Sara! – Gritou Beth ao mesmo tempo que chorava de alegria. O Dedo do Cristo. Olha! Está intacto! Meu Deus! É muito bom prá ser verdade.
Fiquei tão emocionada que não consegui falar nem chorar. Um nó de felicidade apertava minha garganta. Beth parou o carro. Nenhuma de nós duas agüentava mais tanta emoção. Chegamos mais perto, saltamos do carro e ali estava ele. Seus braços continuavam abertos.
Alguém gritava pela rua: “Extra! Extra! Todos os países foram destruídos. Tudo tornou-se pó! Acabou!!! Extra!!!!!!!!!!!
Sorri para Beth: - Que bom, amiga. Deus é Brasileiro mesmo!!!