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Contos-->Frívolos Sentimentos -- 20/12/2002 - 23:57 (Alex Martire) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Frívolos Sentimentos

Havia sete meses que Jean Loudéac partira de Paris e chegara em Novgorod, cidade russa situada a quase quinhentos quilômetros de Moscou.
- Dóbray útra! Vódu, pajálsta * – pediu ao balconista de um velho bar da cidade o francês.
- Ya ni pônyal.
- Izvinite.Ya ni gavaryú pa-rússki – “Por que não me esforcei mais nas aulas quando criança?” – pensou, enfim resolveu pedir algo que, com certeza, o balconista saberia.
- Vinó... nyet, vinó nyet. Vôtka, pajálsta.

Sentado em sua mesa que lhe mostrava a avenida principal, passou a manhã saboreando o liquido que rasgava sua garganta e espantava-lhe o sono. Largou de sua casa confortável na França para morar na gélida Rússia. “Que loucura, Jean! Esse frio de congelar os ossos ainda será responsável pelo endurecimento do teu cérebro. Tudo isso porquê? Simples. Tua ganância, Jean. Maldita ganância que há de te enterrar. Largaste tua mãe à morte em Paris para visitares outra morte em Novgorod: de tua tia. Fortuna maior, meu camarada, fortuna maior! Só pensaste nisso quando vieste para cá. Pois aí está! Tua tia morreu e herdaste a herança. Fará bom proveito dela? Espero que sim. Pois tu somente fez beber e fumar desde que ficaste rico, Jean. A mansão que tens está um lixo. Baratas, ratos, pulgas... insetos nojentos que vivem como tu: lambendo vidros que cheiram a álcool. Não investiste um só rublo em empresas há sete meses! Necessitarás chegar ao Inferno para aprenderes a ser inteligente? Espero que não. Estás a envelhecer, Jean. Estás a morrer sozinho, pobre Jean. Estás a sofrer, estúpido Jean...” . Olhou pelo fundo do copo vazio e percebeu que sua vida se tornava como a visão através do vidro: pequena. Seus pensamentos estavam certos! Ele precisava mudar o rumo do destino. Investir em indústrias? Mas como? O czar era burro demais para ajudar o próprio país com indústrias. Aumentar suas terras, talvez. Porém, a situação dos poucos camponeses que compunham sua gleba, já era péssima. Viviam a reclamar das condições de trabalho e moradia que lhes eram impostas. Mais camponeses significaria sua morte. Não! Investir em terras é uma péssima idéia!” Jean Loudéac pediu mais uma dose de vodca e parou de pensar. Estava cansado de pensar sem ter soluções.

* * *

Os serões na casa dos Koszalin eram sempre animados. Recebiam visitas todas sextas-feiras. A alta sociedade da cidade polonesa Bialystok se concentrava na reunião. Como de praxe, o encontro se dividia em dois grupos. As mulheres se uniam perto da lareira para comentar as modas, costumes e ações da nobreza. Os homens circundavam a mesa de jogo e, dando baforadas em charutos e engolindo qualquer coisa forte, discutiam política.
- As coisas não estão bem na guerra, Misha – argumentou o barão de Sokólka ao seu amigo Miguel, duque de Lomza.
- Eu sei. Dizem por aí que Nicolau II é fraco demais no comando do exército. Pois que seja! Perderá a cabeça logo. Não bastasse a derrota para o Japão, agora mete o nariz contra o resto da Europa. Louco, meu caro, louco.
- O povo passa fome. Os camponeses estão revoltados, ainda mais depois do Domingo...
- Ora, fez o que tinha que ter feito! Camponeses servem apenas para trabalhar, não para reclamar. E os operários, então? Agora se dizem “fortes e organizados” apenas porque têm os Soviets ao seu lado. São estúpidos, digo!
- Que seja... que seja. Bom, aposto duzentos rublos na próxima rodada e tu, camarada?

Assim eram as coisas e discussões nos serões, não apenas nos dos Koszalin, mas em toda Rússia. Já nas conversas femininas, as conversas tendiam a um outro lado.
- Tatiana Koszalin, digo-te que tua sobrinha é uma pessoa fabulosa! Falava com ela a pouco e me surpreendi com sua educação! Faz jus ao futuro título de marquesa que terá! – disse a condessa de Bielsk Podlaski, uma robusta senhora com maçãs do rosto fartas e rosadas.
- Deveras. Mandei-a estudar em Reims. Voltou de lá outra pessoa! Acredita que a menina, escondida dos meus anseios, também estudou Arte? Passou três anos a estudar música, dança e teatro – respondeu orgulhosa Tatiana.
- Não creio! Jura? Onde está a garota agora? Ah... ali está! Sasha, vem aqui, por favor! – falou alto a condessa para a pessoa que estava sentada do outro lado do salão.

Sasha Dudalski, o orgulho dos Koszalin, levantou-se. Arrumou seu vestido na altura da cintura, estendeu melhor as mangas rendadas e, sorridente, chegou à mesa onde estavam sua tia e a condessa de Bielsk Podlaski. De forma respeitosa, dobrou levemente os joelhos para cumprimentar as mulheres da mesa. Abaixando levemente a face, pôde-se notar o contraste que havia entre os seus dourados fios de cabelo e sua tez branca. Delicadamente, seus lábios vermelhos se mexeram.
- Folgo em ver-te, minha tia. Condessa, estou aqui. Queria ter comigo?
- Sim, minha filha, quero. Tua tia dizia-me que tu estudaste música, dança e que sabes encenar também.
- Creio que sim, minha senhora. São os grandes prazeres de minha vida.
- Pois então canta para nós? Não responda negativamente, porque irias me ofender.
- Se te satisfaz, minha senhora, apenas diga o que queres.

Bastaram algumas poucas palmas para que todos se silenciassem e prestassem atenção à condessa. A mulher de Bielsk Podlaski anunciou que a menina Dudalski faria uma pequena demonstração de seus dotes artísticos a todos. As pessoas do serão abriram um espaço no centro do salão, no qual Dudalski se posicionou. Seu tio apressou-se até o piano para acompanhar a sobrinha. Quando tudo estava pronto, a condessa gritou “Poema musicado!” e todos aplaudiram e repetiram em coro a frase.
- Bom, espero poder agraciar-vos com algo que aprendi no último inverno em que fiquei na França. Meu tio, Lá menor, por favor – pediu carinhosamente a garota, um pouco vultuosa é verdade, ao seu parente, que iniciou as primeiras notas.

“Não julguem as mulheres pelo que falam,
São seres lindos, perfumados, amados,
Que ao dizerem qualquer coisa sutil
Para os homens, estes se calam!

Todas as mulheres são perfeições de Deus,
Dizem o que querem para si mesmas,
Dominam o mundo com seus gestos,
Ó não fiquem tristes com isso, homens meus!

As costelas suas serviram para seus prazeres,
Pensam que sabem o que nos dizer, não?
Basta uma sumir para viverem em dor,

Mas não liguem. Somos seus seres,
Criados a partir do querido Adão
Para que vivam agora com nosso amor!”

Houve aplausos frenéticos das damas presentes no local. Os homens ficaram pasmos com o que haviam acabado de ouvir. Dudalski apenas sorriu, agradeceu aos aplausos e voltou a sentar-se com sua tia e a condessa.

- Bravo, menina! Tu disseste coisas que eu sempre quis dizer. “Para que vivam agora com nosso amor!”, não acredito ainda no que ouvi! – riu a bom rir, condessa de Bielsk Podlaski.
- Obrigada, gentil dama – ria-se Sasha.
- Condessa, pode nos dar licença por um instante, por favor. Dudalski, preciso falar contigo – dizendo isso, Tatiana levou a menina pelos braços ao seu quarto e pô-se a falar.
- Sasha, onde aprendeste isso?! Tens noção do embaraço que causaste a nós? Seu tio quase teve uma síncope! O coitado agora terá que dar mil desculpas aos amigos por teu despautério! Não sei bem o que fizeste ou por onde andaste enquanto estiveste na França, mas agora basta, ouviste bem? Basta! Com dezesseis anos já dizendo muitas porcarias, meu Deus! Volta ao salão agora e pede desculpas pelo que fizeste!
- Mas, minha tia! – tentou se explicar e não pôde. Tatiana apenas apontou o dedo para a porta como que se quisesse dizer “não discuta”. Dudalski desceu as escadas tristemente e retornou ao salão. Diante de olhares masculinos maldosos, pediu a atenção de todos e começou o seu discurso.

- Senhoras e senhores, peço vossa atenção por um momento. Gostaria de apresentar minhas desculpas pelo que eu declamei. Aos cavalheiros aqui presentes digo que errei. Errei por dizer a verdade, é verdade. Mas fui pressionada para me desculpar por coisas que não tenho culpa. Minha tia, que talvez seja subordinada o bastante ao marido, disse-me para não mais falar essas “asneiras”. Pergunto às damas aqui também presentes se eu falei alguma asneira? Creio que todas devam concordar com as palavras que saíram de minha boca. Apenas não têm coragem de dizê-las. Minhas senhoras, somos fruto de uma sociedade extremamente machista. Deveríamos nos livrar dessas coleiras que nossos maridos nos põem. Não somos propriedades dos homens. Somos seres livres e sempre seremos. Querem um exemplo?! Há poucos anos as francesas defenderam seu país na Comuna! Tornaram-se importantes. Eu estudei isso por lá. Elas não se importaram em ser “propriedades” masculinas e foram à luta! Devemos, minhas senhoras, devemos também lutar por nossa liberdade. Não digo pegar em armas, mas sim em conquistar nossos direitos. Vejam minha tia, há anos presa por um homem grosseiro e estúpido que, quando bêbado, sempre a agride! E há mais! Minha tia também...

Dudalski não pôde completar sua frase. Recebeu um forte tapa no rosto. Sua tia, que escutava a tudo, saiu do fundo do salão e calou a sobrinha antes que esta falasse mais alguma coisa comprometedora. Enquanto a menina chorava sentada no chão, Tatiana Koszalin anunciou o fim do serão e pediu desculpas a todos pelo comportamento da parenta.

- Vais à Rússia, Sasha! – gritou o conde Koszalin, quando todos já haviam ido – Vais morar com tua avó. Após a morte dos teus pais, pensamos que aqui tu encontrarias um bom lar. Enganamo-nos. Tudo o que fizemos por ti, não passou de pilhéria? Não respondas nada! Aqui não tens mais voz. Talvez a encontre na Rússia. Tua tia está agora deitada na cama com fortes dores de cabeça. Quero que faças as malas. Partirás para Novgorod na terça. Não chores, pois já não tenho paciência contigo. Vai, some de minha frente!


* * *

Jean Loudéac resolvera passar os dias ajudando na colheita de sua propriedade. Como não havia pensado na maneira de investir seu dinheiro, decidiu ir ao campo vistoriar seus camponeses. “Homens que trabalham como formigas! São fabulosos, vê como são habilidosos no manejo da foice? Cortam o trigo como quem corta manteiga. Sempre têm alguma canção no peito para arfar aos ventos. Invejo esses homens. São felizes com tão pouco. Ou, ao menos, deveriam ser. Já estou me cansando das reclamações de alguns idiotas sobre melhorias nas habitações e horário de trabalho. Sustento-os com parte da produção e ainda reclamam! Pois bem, o próximo que reclamar será dispensado. Não serei mais complacente!”. Durante o almoço, quando estava recostado numa árvore da colina ocidental à sua residência, avistou um vulto cavalgando em sua direção.

- Olá! Meu grande amigo, Alexei Nikol’sk! Não te vejo há muitos meses. Que honra poder te ver com saúde. Veja só, a cada tempo que passa estás mais mancebo!
- A honra é minha em escutar tua voz forte como sempre! Não estou tão jovem assim, como diz. Acho que minha aparência deve-se ao fato de eu estar enamorado – triunfou o duque Nikol’sk.
- Mas é sério? Graças a Deus, bom amigo! Oh... que falta de educação a minha em deixar-te de pé nesse barro. Vem, vamos para minha casa.

A residência parecia um pouco cansada do tempo. Algumas portas e janelas não fechavam direito. O problema dos insetos havia sido resolvido há algumas semanas. Apesar de todo o dinheiro que o dono possuía, a mansão não demonstrava um luxo maior. Tudo muito simples: os móveis de madeira rústica, um sofá de couro bem confortável, no canto da sala havia um pequeno bar, lugar em que, o agora marquês Jean Loudéac, se dirigia.

- Enamorado, heim? Posso saber o nome da demoiselle *? – disse o marquês, oferecendo vinho ao amigo.
- Claro. Chama-se Catarina Verkola, baronesa de Nyandoma.
- Oxalá! Terra distante. Buscas mulheres quase na Sibéria, duque? – riu inocentemente Jean.
- Tu sabes que procuro minhas mulheres em qualquer lugar que vou.
- Se sei! Toma, bebe mais um pouco. Vamos comemorar esse encontro de velhos amigos – dizia enquanto enchia a taça mais uma vez.
- Jean, estou a morar com minha avó por uns tempos aqui, em Novgorod. Para ser exato, três meses. Minha avó tem grande afeição por ti. Gostaria de ver-te. Vim representar seus pedidos esperançosos.
- Olga Dudalski é uma mulher admirável, Alexei. Sempre tive respeito por ela, ainda mais quando, ao chegar aqui, vi que era ela quem estava a cuidar de minha, agora falecida, tia. Irei ver-vos no próximo mês, camarada. Conta-me mais. Alguma outra novidade além do namorico?
- Deixa-me pensar... Há sim! Minha prima Sasha veio da Polônia para morar conosco. Houve algumas desavenças entre ela e os tios. Chegou há menos de um mês. Tem de ver como é linda! E que voz! Nossa, ela canta e dança como que agraciada por Vênus!
- Já te disse para não mencionar nomes pagãos na minha presença, Alexei.
- Desculpe. Foi apenas força do hábito. Tu sabes que não creio nessas bobagens de divindades. Para mim, o único Deus que existe é a natureza, companheiro. Ah! Dá-me mais um pouco de vinho, sim?
- Vivemos num mundo governado por Deus, duque. Como podes não crer em Deus? – Jean, indignado, falou enquanto passava a garrafa de vinho ao amigo.
- Necessitaria eu de um Deus ausente? Um ser que minhas razões trocam por falhas da ignorância humana, um sujeito pecaminoso e ignóbil. Pusilânime em todos os atos e palavras. Corrupto até o extremo e maldito pelos sãos. Vingativo quando provamos de sua “ira” e amado quando do seu “amor”. O mesmo Deus que escravizou minha terra e meus irmãos. Que engana massas e suga suas riquezas. Abandona à morte os filhos queridos. Faz homens escreverem livros que servem de castigo a outros. Não necessito de mentiras e sim de verdades! – respondeu, já alterando a voz.
- Um dia verás a existência Dele, amigo.
- E tu verás a inexistência – sorriu Alexei – Bom, vejo que já está escurecendo, acho melhor voltar para minha casa. Não fiques nervoso, Loudéac, com minhas palavras. Apenas disse o meu ponto de vista. Respeito o teu. Vou agora, antes que fique perigoso cavalgar por aí – beijou Jean na face e se retirou – Passar bem!

* * *

Na noite de São José, os Dudalski, como de costume, realizaram um festejo ao santo. Convidaram os amigos mais íntimos para participarem. Aproveitando a ocasião, o marquês Loudéac, compareceu para cumprir sua promessa. Pontualmente às seis horas, chegou à mansão Dudalski.

- Dobry vyétcher!* – falou ao avistar o lacaio da família parado perante a porta principal que, com um simples aceno de cabeça, abriu-a.

Dentro do recinto, um imenso salão ordenado com corrimões de ouro e vasos chineses, a reunião estava alegre. Podia-se ver homens já bêbados e mulheres já discutindo. “A mesma coisa de sempre.” – pensou Jean. Avistou Olga no fundo do cômodo e para lá convergiu seus passos. A viscondessa ficou muito feliz em vê-lo e apertou-lhe as saliências do rosto de forma carinhosa. Foi chamado para tomar um chá junto a sua querida senhora. O chá não era a bebida favorita de Loudéac, mas os bons costumes fizeram com que ele não recusasse tal honra. Quando chegou o chaleiro, serviu-se de uma considerável xícara. Conversava durante a degustação da erva fervida. Não fugiu à tradição russa: primeiro bebeu todo o chá e só depois mastigou o torrão de açúcar. Finalmente, encontrou seu amigo Alexei Nikol’sk e, com ele, foi dar voltas no magnífico jardim da mansão.

- Bom que tenhas vindo, Jean! Minha avó comentou sobre tua aparição ou não na festa a semana toda.
- É o mínimo que posso fazer por ela. Mas já aviso que não poderei ficar muito aqui. Deveres me chamam no campo.
- Claro que chamam! Vais trabalhar de burro de carga como teus empregados. Ora, fiques aqui e divirta-te! Ouves? Estão a nos chamar lá dentro, acho que deve ser a hora do baile! Vem!

Não demorou muito para o inicio do baile. Todos asseguraram um par para a dança no salão. O marquês resolveu ir ter com a viscondessa ao invés de bailar.

- Jean, na tua idade, eu era o centro das atenções nas danças. Vês como teu amigo Nikol’sk está lá se divertindo? Vai tu também! – falou respeitosamente a velha mulher.
- Agradeço, minha senhora, mas não tenho vontade.
- Pois te garanto que terás! André – chamou um lacaio – sobe aos meus aposentos e pede para a Sasha descer.
- Mas, viscondessa... realmente não tenho vontade de bailar.
- Terás!

Poucos minutos após, entrava Sasha Dudalski no salão. Vestindo uma moda azul-claro, deslizou entre as pessoas e chegou até sua avó.

- Pois não, avó?
- Quero que conheças o nosso amigo de família, o marquês Jean Loudéac.
- Encantado, minha jovem – sinceramente disse o rapaz e pôde notar, mesmo protegidas por luvas de seda, a maciez da mão de sua nova amiga.
- Sobrenome francês, não? Apesar de ser polonesa, morei na França por uns anos. Um lindo país!
- Uma pena que perde suas mais belas mulheres – sussurrou Jean, fazendo com que a menina perdesse por alguns poucos instantes as palavras.
- À tout seigneur tout honneur* - respondeu Sasha, com um brilho característico nos olhos. Brilho esse que os homens conhecem tão bem.
- Viscondessa, tinhas razão! De repente me deu uma vontade incrível de bailar – disse à mulher sentada ao seu lado – Senhorita, daria-me o prazer de bailar contigo? – perguntou o marquês já estendendo o braço, que foi prontamente abraçado.

No salão, ouvia-se Borodin. Pessoas dançavam ao som desse estupendo músico. Jean e Sasha dirigiram-se para o centro do sala e dançaram a música que veio logo a seguir. Com a mão na pequenina cintura da garota, Loudéac pode perceber como ela dançava bem. Seu amigo não havia mentido. Dudalski bailava com a experiência de muitos serões. No ritmo mais lento da valsa, o casal pôde juntar mais os corpos. O marquês sentia o perfume que exalava dos cabelos da mulher. “Um tanto delicado e fresco. Com certeza francês!” – disse para si mesmo. A mão dela em seu ombro comandava os passos da dança. Sempre sorridente, Dudalski bailava com os olhos fixos nos de Loudéac.

- Danças bem, meu senhor!
- Chama-me de Jean, por favor. Agradeço a tua paciência em me ensinar esses novos passos, Sasha. Há tempos que não dançava. Estou ficando velho, acho.
- Digo que foste o melhor parceiro que tive até hoje! E a velhice não te assombra no momento, Jean.
- Assombra sim! Vê, estou suando! Vamos beber alguma coisa para recompor nossos espíritos? – riu enquanto a acompanhava à margem do salão, onde ficava o bar.

Sentaram-se próximos à lareira e o marquês foi buscar uma bebida.

- Que désirez vous boire?*
- Creio que minha avó ficaria nervosa se me visse beber, Jean.
- Oh... então deixa, bebo depois. Vamos apenas conversar por hora.
- Mas quem disse que minha avó está a nos ver? – sorriu maliciosamente.
- Que seja! Que tal du vin*?
- Ótima sugestão!

Continuaram o resto da festa conversando sobre tudo: a viagem de Dudalski à França; a morte da tia de Loudéac; a vinda da polonesa à Rússia; a dificuldade de Jean para se adaptar ao idioma russo; entre outros. Quando a reunião acabou às onze horas da noite, o marquês de despediu de todos e foi para sua carruagem. Carregou consigo da festa, uma lembrança da Polônia.

* * *

“Mulher de língua afiada, bom Deus! Mas concordo com ela. É necessário que as mulheres conquistem seu espaço. Talvez ela esteja na vanguarda do nosso tempo... Mas como é bela! Se Victor Hugo a tivesse conhecido, seus poemas seriam outros, ah seriam! Costumo dizer que Deus às vezes desce à Terra e planta sua semente pessoalmente no mundo. Ela é fruto direto de Deus. Só pode ser! Nunca conheci criaturinha tão formosa como ela. Que mimo, que rosa! Seus pensamentos corretos não influenciam em seu comportamento, que é digno de uma nobre dama. Mas acalma-te, Jean. Vinte e sete anos já tens nas costas. Ela não pertencerá nunca a ti. Nem seu coração, nem seus lábios. Conforma-te, homem! Não é preciso ser gênio para reconhecer teus defeitos. Mas ela também os tem? Não, Jean, não penses bobagens sobre uma pessoa que mal conheces. Mas parece que já a conheço a tanto tempo! Será que não a vi passeando pela França? Estive em Reims há pouco tempo. Talvez a tenha visto por ali! Sim, tenho certeza que a vi por ali! Não, Loudéac, não a viu. Tu sempre foste apaixonado. Com certeza viste muitas mulheres parecidas com elas. As francesas são belas, mas essa polonesa tem um quê a mais, não consigo diferenciar... Espero me demorar um pouco mais aqui na Rússia. Minha doente mãe está quase morrendo, e fico aqui, pensando em mulheres. Mas minha mãe diria que devo buscar minha felicidade acima de tudo! Acorda para a vida, Jean! Tua mãe morrerás em breve. Quanto a garota, que chances tens com ela? Vai visitar tua mãe, enquanto a tens. Esqueças essa mulher proibida. Tua ferida se cicatrizará. Vai e vê tua mãe, idiota!”

Quatro dias após, seguia para Paris.

* * *

Alexei Nikol’sk era um homem educado. Seu bigode e sua barba rala davam um ar de grandiosidade. Recebeu medalha de honra ao salvar cinco amigos durante a guerra contra o Japão. Ao voltar do combate, muito doente com uma epidemia de febre e surdo de um dos ouvidos devido a explosão de uma granada próxima, repousou por um tempo em Nyandoma, até repor suas forças e voltar para casa. No hospital da região, conheceu a baronesa Catarina Verkola, mulher morena, de estatura mediana e olhos azuis, que fora visitar seu irmão combatente na enfermagem. A desgraça de um é, muitas vezes, a felicidade do outro. A baronesa teve a triste sorte de repousar seu irmão, lânguido e mutilado, em seus braços. Os médicos não puderam fazer nada por ele. Foi neste clima de sangue e morte que Alexei Nikol’sk conheceu Catarina Verkola e, alguns meses depois ficaram noivos.

- Meu anjo, não fiques deprimido. Logo o seu amigo voltará de Paris – tentava confortar seu amado a baronesa.
- Fico triste de não ter ido ao enterro de sua mãe. A pobre morreu há dois meses, logo depois dele ter chegado lá.
- Toma, bebe esse remédio, meu bem. Jean retornará, pois deixou suas terras ao cuidado de um governante. Há muito o que ele fazer por aqui.
- Penso em como alegrar meu amigo. Vive sozinho em Novgorod. Um homem tão belo e inteligente como ele... é realmente de se estranhar que não tenha casado ainda.
- Encontrará a felicidade, verás.
- Diga-me, e tua prima? Já encontrou um pretendente?
- Já, o visconde de Krasavino pediu-a a pouco.
- Desgraça! Haverá mulheres disponíveis pela Rússia?
- E a Sasha?
- Ah... a Sasha anda flertando com um rapaz de São Petersburgo. Também havia pensado nela. Jean me falou maravilhas de sua pessoa!


* * *

A iminência do Natal deixava a cidade de Novgorod com um ar maravilhoso. As árvores que percorriam o rio Volkhov estavam cobertas de neve. Muitas pessoas se amontoavam na orla do lago Ilmen para apreciar o pôr-do-sol. Na cidade que já fora palco do Império Bizantino havia a Catedral de Santa Sofia. A bancarrota do Estado Romano esteve intimamente ligada à construção da catedral. Justiniano gastou todo o Tesouro romano para realizar seu sonho de magnífica arquitetura atemporal. Fez bem o seu trabalho.

“É bom estar de volta a Novgorod! Os ares puros daqui talvez limpem meus pulmões e carreguem a lembrança de minha mãe para longe.” – devaneou Jean ao sair de Santa Sofia. “Hora de mudar minha vida! Voltei à Rússia para aqui viver até a morte! Espera-me Mãe Ortodoxa, teu filho maldito retornou!” Caminhou mais um pouco e entrou no mesmo bar de sempre.

- Daitye mnye adin píva!*

Pegou a bebida e observou a rua. Estava a mesma de sempre. Nem parecia que havia se passado quatro meses desde sua partida. “Jean, que tal visitar a mulher dos teus sonhos? Finalmente amadureceste e criaste bastante juízo para assumir um compromisso sério. Uma visitinha aos Dudalski e nada mais. Vai como quem não quer nada. Aproxima-te mais da garota. Convida-lhe para sair. Um jantar seria o ideal. Mostre os versinhos que fizeste a ela, isso é infalível, Jean, infalível! Quem sabe um dia ela seja tua? Uma mulher, uma residência, uns poucos criados, basta! É a vida perfeita, Loudéac! Deus há de abençoar essa união. Coragem, homem. Vai lá!” .Obedeceu ao seu pensamento e foi.

* * *

A mansão dos Dudalski parecia ser em outro país devido a demora que a charrete do marquês teve para chegar. Novamente cumprimentou o lacaio e entrou. Ficou na sala esperando a presença da viscondessa. Quando ela apareceu, o rapaz preferiu não comentar, mas a mulher estava visivelmente abatida. Já não parecia mais aquela viva senhora do baile de outrora.

- Prazer em te ver, marquês! Sente-se... oh! Não te preocupes muito comigo. Sofri alguns dias com cólera, mas estou me recuperando. Apesar que estou velha, tu sabes disso. Não tenho medo da morte. Ninguém deveria temê-la. Por mais terrível que seja o nome “Morte”, ela é clara, linda e confortadora. Em breve encontrarei o Senhor. Mas deixemos isso para lá. Diga-me, qual a honra em tua visita? Não digas que veio apenas para ver essa anciã! – brincou a viscondessa.
- Em primeiro lugar, para ver-te. Em segundo, para ver Sasha. Como ela está?
- Cada dia mais linda, meu querido. Ela foi ao condado vizinho acertar alguns impostos para mim. Logo estará de volta. Vamos beber chá!
- Olga, gostaria de saber tua opinião sobre um assunto que há muito me tira o sono. Ah... obrigado! – agradeceu ao pegar a xícara de chá.
- Ajudarei-te no que puder.
- Viscondessa, é sobre tua neta. Eu sei que sou um tanto velho e que minhas rendas não são muito apropriadas para uma vida conjugal...
- Casamento, Jean? – sorriu, interrompendo a fala do amigo.
- Bom, sim... se a Sasha aceitar é claro! – respondeu muito embaraçosamente o marquês.
- Meu bom filho, creio que a menina não poderá aceitar seu... Oh! Aí está ela! Enfim chegaste, garota! Vem cá! Há visita para ti – anunciou Olga.

Sasha crescera muito durante o tempo em que Jean esteve ausente. Parecia outra mulher: o rosto mais corado, os cabelos mais volumosos, dama de uma grande voluptuosidade. Entrou correndo na sala e foi saudar seu amigo francês.

- Jean, que ótimo te ver! Nossa, como está mudado! Ainda mais belo!
- Digo o mesmo para minha amiga.
- Marquês, deixe-me apresentar uma pessoa muito importante na minha vida. Tenho certeza de que serão muito amigos! Querido, vem aqui, por favor!

No recinto entrou um homem alto de sobretudo negro. Chegou próximo a Jean e apertou-lhe a mão.

- Esse é meu marido, Oparino, marquês de São Petersburgo. Casamo-nos há menos de um mês.
- Desculpe, não entendi – falou pasmo Loudéac.
- Sim! A gente se casou. Que semblante é esse , Jean? Pensei que ficarias feliz com o fato de eu ter me casado, ora! Geralmente as pessoas ficam felizes com os casamentos alheios!
- Ah... perdão, marquesa. Foi apenas alguns instantes de tontura. Mas não se preocupe. Claro que estou feliz com teu casamento, meus parabéns! – essas palavras doeram na alma mais do que qualquer outra coisa que tenha passado antes.
- Merci beaucoup!* – respondeu a risonha marquesa de São Petersburgo.
- À quelque chose malheur est bom*.
- Por que dizes isso, Jean? Não culpes os corações. Eles não escolhem seus destinos.
- Digo apenas porque acabo de aprender mais alguma coisa nessa minha modesta vida, marquesa. Acho que me vou, está tarde. Obrigado pelo chá, viscondessa. Meus votos de felicidades, marquesa e marquês. Da svidânia*.

Ao sair pela porta principal, sentiu que nunca mais voltaria ao lugar.

* * *

Em 1918, a Rússia já vivia sua fase socialista. Lênin reergue a produção nacional e aboli a grande propriedade rural. Não demorou muito para que os oficiais do governo chegassem à fazenda de Loudéac e impusessem a liberdade dos camponeses. Os próprios passariam a governar as propriedades. Perdendo a maior parte de sua fortuna, Jean resolve voltar a Paris. Não investiu um centavo do que herdou durante sua estadia na Rússia. Fez as malas, colocou-as na charrete e saiu. Enquanto passava na frente da residência dos Dudalski, ainda não afetada pelo socialismo, pediu ao cocheiro que parasse. Desceu e foi até a porta de entrada. Estendeu uma folha de papel ao lacaio. “Entregue pessoalmente essa carta à marquesa Dudalski, sim?” – após essas poucas palavras, retornou à charrete e partiu.

* * *

“Espero que a ‘revolta’ não tenha chegado aí enquanto lê esta carta, marquesa. Lênin destruiu tudo o que tinha. Volto à Paris com um aperto na alma. Como vai o casamento? Que vá bem, também espero. Só quero que saibas dos meus pêsames pela morte de tua avó. Não pude ir ao enterro. Não porque houve algum contratempo, mas sim porque a visão de tua pessoa me causaria uma morte maior do que a física. Sim, amei- te mais do que tudo, minha querida. Talvez tua paixão pelo marquês de São Petersburgo tenha sido maior do que tua cegueira. Durante a morte da minha mãe, só pensei em voltar à Rússia e te ver. Tu ocupaste um pedaço enorme no meu coração. Uma lacuna que dificilmente será preenchida novamente, Sasha. Sonhei com teus passinhos pela minha casa. Com tuas lágrimas de felicidade em nosso casamento. Com tua tez macia. Com teu sorriso. Creio que Deus tenha me negado essa sorte por tu seres perfeita demais para mim. Mas a vida segue. Eu desisti da vida, mas ela não desistiu de mim, infelizmente... Vou viver com minha bílis por ti, sempre. A culpa de não ter me amado não és tua. É minha. Se eu tivesse te dado mais atenção desde o dia em que nos conhecemos, as coisas seriam diferentes. Pelo menos, prefiro pensar assim. Não quero que penses, Sasha. Apenas sejas muito feliz, não importando a maneira. Nunca mais te verei. Melhor assim é. Desejo muita saúde para ti e teus futuros filhos. Boa sorte! Après moi le deluge*

De quem eternamente te amará,



* * *

Ao terminar de ler, a marquesa guardou a carta em seu porta-jóias que estava em cima do criado-mudo no seu quarto. Já era noite quando foi se deitar ao lado do marido. O marquês não pôde notar os olhos vermelhos e inchados de sua esposa. Beijou-a com ternura, apagou o abajur, e pôs-se a dormir. Sasha Dudalski passou a madrugada em claro, meditando sobre a folha de papel enviada pelo francês. Finalmente, quando o sol começava a raiar, conseguiu dormir.

Acordou assustada em meio aos gritos dos criados. Olhou para o seu lado e notou a cama vazia. Levantou-se e foi à janela ver a causa do barulho que acontecia lá fora. Homens haviam invadido suas terras.

- Vem, Sasha! – berrou o marquês quando entrou apressado no quarto com um revolver empunhado.
- Querido, o que acontece? Para quê essa arma?!
- Não temos tempo para isso agora. Pega uma mala e põe algumas roupas. Vamos partir!
- O quê? Como assim partir? – perguntou Dudalski enquanto, rapidamente, jogava algumas mudas de roupa numa pequena mala que disponha no momento.
- Os Vermelhos! São eles! Incitaram os camponeses! Estão se dirigindo pra cá! Pronto? Então vem! – desceram as escadas correndo e chegaram à charrete pela porta dos fundos.

O condutor da charrete apressou-se em conduzir os cavalos para o portão de saída. Mas, para o infortúnio de seus patrões, o portão estava tomado pelos camponeses em fúria. Como demônios, os homens cantavam: “Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês!”. Correram em direção a charrete. O marquês respondeu com tiros. Cinco homens do campo caíram antes de sua munição acabar. Mas os mortos não causaram medo aos demais. Continuaram em direção aos patrões, ainda mais raivosos. A charrete tentou desviar da multidão e, numa curva muito fechada, sua roda esquerda travou e depois quebrou. A condução balançou e caiu. Enquanto o marquês tentava desesperadamente socorrer sua mulher que ficara presa dentro da charrete, levou uma pancada na altura da nuca e desmaiou. Os camponeses o arrastaram para mais longe e continuaram o espancamento. De dentro da charrete, Sasha Dudalski só pôde ver as manchas de sangue que cobriam os pedaços de madeiras, enxadas e foices utilizados no assassínio de seu marido. Chorando muito, tentou livrar a perna que estava presa no banco tombado da charrete. A agonia de ver os camponeses agora se aproximando dela era demais. Com as últimas forças, tentou novamente se livrar da charrete, mas foi em vão. “Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês!” - a música se aproximava. “Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês!” – Sasha deixara de chorar... já sabia de seu destino. Não mais cantaria, dançaria ou tocaria algum instrumento. Teria sua vida acabada de forma estúpida. Para a liberdade do povo, alguns devem pagar com o sangue. Essa é a realidade, por mais que seja cruel. Sua morte representaria a expressão de uma classe majoritária, porém, rebaixada. Os camponeses iriam ter o que desejavam. Ela não poderia fazer mais nada.


Olhou para o céu e pediu a Deus piedade de sua alma.

Olhou para a terra e viu uma lâmina se aproximar.

Não ouviu ou viu mais nada.



* * *

No mesmo dia 17 de Julho de 1918. Na mesma hora. O exército de Lênin invadia o porão da casa Ipatiev e fuzilava a família real Romanov.

Era o fim de uma marquesa em Novgorod.

Era o fim de uma Era Czarista na Rússia.



Alex Martire




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*1
- Bom dia! Água, por favor.
- Não entendi.
- Desculpe. Eu não falo russo.
- Vinho... não, vinho não. Vodca, por favor. (original russo)

*2 demoiselle = donzela, do original francês.

*3 Dobry vyétcher = boa noite, do original russo.

*4 À tout seigneur tout honneur = A cada senhor cada honra, do original francês.

*5 Que désirez vous boire? = O que quer beber?, do original francês.

*6 du vin = vinho, do original francês.

*7 Daitye mnye adin píva! = Dá-me uma cerveja!, do original russo

*8 Merci beaucoup! = Muito obrigada!, do original francês.

*9 À quelque chose malheur est bom = A desgraça serve para alguma coisa, do original francês.

*10 Da svidânia = Até logo, do original russo.

*11 Après moi le deluge = Depois de mim o dilúvio, do original francês. (Frase de Luís XV, segundo alguns, de Mme. Pompadour, segundo outros, pela qual esses personagens manifestavam seu desprezo pela coisa pública. Esperavam que a queda da monarquia só viesse após sua morte)













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