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Contos-->Um amor impossível... -- 25/12/2002 - 22:03 (Carlos Rogério Lima da Mota) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu estava sentado em minha cadeira, fazendo os exercícios de português, quando a professora, D. Luzia, chamou a atenção da classe ao dizer:

_ Pequenos, amanhã não virei, farei alguns exames, porque não estou me sentindo muito bem. Em meu lugar virá a professora Suzi. Espero que a tratem bem!

Ao ouvir aquilo, pensei em aprontar inúmeras peripécias. Para isso, tinha o apoio de meu amigo Lucas. Éramos os mais bagunceiros, aqueles que despertavam a ira das professoras e a admiração das garotas.

Bateu o sinal, arrumei minhas coisas, chamei o Lucas e disse:

_ Amanhã será o grande dia!- Caí na gargalhada.

_Pois é Fábio!- respondeu meu amigo, um pouco mais contido.

Fui para casa, almocei. Em seguida, sentei-me no sofá, com um caderno nas mãos, arquitetando como seria o dia seguinte, aquele em que a tal professora, D. Suzi, "morreria do coração". Só em pensar, começava a dar risadas, afinal, não é qualquer dia que temos a oportunidade de "brincar" com uma mestra. Sabe, D. Luzia sempre foi uma pessoa legal, mas era séria, impossível de se contar qualquer piada que fosse.

Fui para a cama mais cedo, precisava guardar energia para o maior dos maiores desafios de minha vida.

A noite passou...

Assim que amanheceu, pulei da cama sem que mamãe precisasse me acordar, o que chocou minha família. Engoli um pãozinho com leite e café e corri para a escola. Ao chegar, lá estava Lucas, aguardando meu "projeto". Comentei com ele como seriam nossas artes e lá fomos. Ao entrar na sala, sentei no fundo, contrariando a rotina diária.

Bateu o sinal. Todos entraram... Faltava só a professora!

Ouvi seus passos, minha voz quase não saía, a tensão marcava meu rosto com suor. Era o fim da espera; o início da festa. Ehehehe!

Quando ela passou pela porta, tive um ataque. D. Suzi era linda, jovem, aparentando uns 20 anos, delicada, loura, olhos azuis, lábios bem contornados, face leve e bem tratada, diferente da D. Luzia.

Ao me ver atônito, Lucas chamou-me por duas ou três vezes, pensando que eu estivesse passando mal.

Notando o seu desespero, a professora se aproximou e perguntou:

_O que você tem? Precisa de ajuda?

_Quem precisa de ajuda é meu amigo, o Fábio.

Ao virar-se para mim, indagou:

_O que há? Algum problema?

Não conseguia responder, estava paralisado pela beleza daquela mulher...

_O que há?- insistiu novamente aquela deusa.

Todos nos olhavam...

O que você faria se estivesse em meu lugar? Continuaria pensando em aprontar artes para cima daquela linda mulher ou simplesmente mudaria de tática, seria bem comportado, para que ela ficasse sua amiga?

Com o rosto envolto pelo suor, tentei me explicar, mas ela, percebendo algo, pediu que me sentasse.

Por instantes, não me reconhecia mais. Estava hipnotizado, a mente transtornada e os olhos... Ah! Os olhos só viam aquela beleza! Nada parecia mais existir, só ela, só ela...

_Fábio...Fábio...O que está acontecendo? Sente-se mal?- indagou Lucas, angustiado; pudera, nunca estive daquela forma, tomado por sentimentos desconhecidos, que me faziam doente de verdade...Doente de Verdade? Eu disse isso mesmo? Nossa! Estou mesmo mal...

_Não!- resumi minha resposta.

_Então, por que não apronta? Vamos fazer como o combinado.

Voltei-me contra ele, dominado pela ira:

_De jeito nenhum!

_Mas...mas...

_Com essa deusa, quer dizer, com...

_Você está apaixonado por ela, Fábio?- questionou meu agora ex-amigo, com ar de deboche.

_Eu...eu...

Lucas começou a gargalhar, dizendo a todos que eu estava apaixonado, perdido de amor pela D. Suzi. A galera toda começou a zoar comigo. Muito brabo, pulei para cima dele e puxei seu cabelo.

Ao perceber a algazarra, D. Suzi mandou-nos à Diretoria. Era minha 14ª vez só este ano. Ao me ver novamente, D. Cleonice sorriu e disse:

_O que foi dessa vez, Fábio?

Lucas, chorando, emitiu sua versão, impedindo que eu me pronunciasse. D. Cleonice, após o depoimento de meu ex-melhor amigo, pediu para que ele voltasse à sala de aula. Chegou a hora de eu contar minha versão, entretanto, antes de iniciá-la, D. Cleonice falou:

_Você já não é mais uma criança; seus pensamentos são de um homem! Vejo isto em seus olhos.

Não sei por qual motivo, mas aquela mulher havia enxergado em meus gestos alguma coisa que me fazia diferente daquele Fábio de horas atrás. Em vez de me punir, pediu para que eu me sentasse no pátio e refletisse um pouco...

Agradeci, passei pela sala e ao encontrar os olhos daquela bela mulher, tive a certeza de que meu coração bombeava mais rápido o sangue que ousava correr pelas minhas veias.

Sentando em um banco, arfei. Foi o tempo necessário para que eu pensasse em mim, no futuro, nos sentimentos estranhos que, semeados outrora, hoje brotavam em minha alma.

Você, que está lendo minha história, acredita que estou mesmo apaixonado por aquela deusa...ops, digo, pela professora Suzi? Ajudem-me, por favor, a descobrir o que tenho!

Bateu o sinal para que fôssemos embora. Esperei todos saírem, só depois retornei à sala de aula. Coloquei meu material na mochila, fechei-a e fui pelo corredor, cabisbaixo, como se o mundo tivesse caído sobre minha cabeça.

Ao cruzar o portão de saída, olhei para o alto, o céu estava limpo, o sol, como sempre, sorridente, olhava-me compadecido...

Fui para atravessar a rua, quando uma voz meiga me chamou. Olhei de súbito para trás, e lá estava ela, minha verdadeira deusa, aquela que jamais deixará de me amar, de me querer por perto, de me ver como um ser de verdade, carregado de qualidades e defeitos... Não estava falando de D. Suzi, mas de minha Mãe!!!

Prendi-me aos seus braços como nunca havia feito, e ela, comovida, focalizou-me nos olhos e perguntou, com aquele sorriso de sempre, tomado de uma luz tão maravilhosa quanto à face de Deus:

_Meu querido!!! O que houve???

Demorei a responder, estava carente, precisando daquele calor, daquelas mãos leves sobre meus cabelos. Foi então que arrisquei:

_Mãe, é duro descobrir que estamos crescendo, não é?

_Por que me pergunta isso?

_Hoje descobri que já sou homem!

Atordoada por instantes, mamãe logo caiu em gargalhada, porque sabia, no íntimo, que seu garoto já não era mais uma criança completamente indefesa, e sim um adolescente complicado, como tantos e tantos outros na face da Terra.

De mãos dadas, atravessamos a rua e fomos conversando sobre o que houve, porque agora sim, com ela, poderia dizer o que achava, o que sentia, sem que eu fosse ironizado, debochado pelos colegas, questionado pela sociedade... Estava, enfim, diante de um amor possível e eterno!

Acesse o site deste autor: www.escritorcarlosmota.com
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