No lá, lugar dos homens desprovido de reconciliações, havia duas ilhas. Nem tão próximas. Nem tanto assim saudosas, pois um longínquo que se resumia apenas ao mar. Mas, ainda assim, apartadas por vários emboras. Uma delas, a ilha do gelo, não se derretia pela outra, ilha do fogo. E esta outra também não se dissipava pela uma, ilha do gelo. Existiam em separado. Por isto, não se compreendiam por causa da indiferença da doença das partes.
Houve, entretanto, uma oportunidade. Na ilha do gelo, insistiu um dia o grande escultor em gerar uma sublime obra. Queria era só participar de um concurso que se acontecia do outro lado, na ilha do fogo. Ajuntou um bocado de gelo e dele fez surgir a criação. Pronto. Colocou-a num caixote, atravessando a travessia de sua jangada.
Na margem oposta, muitos o receberam a contragosto. E o artista lá chegou bem já quase ao final do julgamento. Abriu passagem no burburinho com eu trouxe cá o meu trabalho. Também quero mostrar a todos. Aproximou-se do juiz. Está aqui, vamos abrir o caixote. E o abriu diante o espanto geral.
Mas qual não foram as gargalhadas, quando do interior do volumoso e pesado arranjo de madeira saía apenas água, água e mais água que não acabava mais. Terminado o desatino da torrente, o juiz riu-se mas olha que aí não vejo nada. Você nos trouxe somente água, meu caro. E as gargalhadas retomaram os ouvidos do escultor. Este, por sua vez, viu bem perto a ele uma outra escultura. Uma escultura de fogo. E, soprando-a do fundo de seus pulmões, pois não era ela somente o fogo? E onde ela está agora? Não tenho culpa que o calor deste ilha tornou minha obra apenas água. Mas, pelo menos, ainda há a água para matar qualquer tipo de sede.