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Contos-->Devaneios -- 03/01/2003 - 02:31 (Manfredo Niterói) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O seu aspecto físico a incomodava; que engraçado. Numa época onde a quase totalidade das mulheres pensam tão somente em tornarem-se cada vez mais atraentes ela não conduzia-se dessa forma. Talvez por saber o quão bela é.

Mas não era a beleza que mais o atraiu. Seus critérios sempre foram muito flexíveis no que diz respeito a beleza do ser humano, que poderia muito bem expressar-se através de um sorriso, ou mesmo num gesto.

O que será que a fazia tão importante ao ponto de estar disposto a ceder aquele sentimento que, achava ele, só teve uma vez: o de realmente querer uma pessoa para permanecer ao seu lado; de verdade.

A certeza de que o que estava acontecendo poderia realmente dar certo o fazia pensar que estava no caminho certo, que Deus fora bondoso com ele e que poderia, dessa vez, encontrar o tão esperado numa relação.

Não sabiam nada um do outro, é bem verdade, mas sentiam-se como se fossem velhos conhecidos. Estavam unidos por uma força boa, que se deles não emanava, poderia considerar-se divina, ou algo que valha.

Partilhavam muito de seus valores e a concepção que tinham em relação à vida, ao futuro e as reelações – amorosas ou não -, em muito pareciam-se. A verdade como a base de uma relação, a integridade como elemento moral indispensável existente dentro de cada um e o respeito como conseqüência natural da junção desses dois elementos, os manteria juntos por muito tempo.

Enquanto ele demonstrava-se aparentemente aberto em relação a tudo que o cercava, acreditava que quanto mais discreto se é sobre uma relação amorosa, mais rica ela poderia tornar-se. Embora sentisse a vontade de gritar aos quatro ventos o quanto estava radiante por tê-la encontrado, mantinha sua alegria restrita aos círculos familiares, pois estes, tinha certeza, compartilhariam com ele tão importante sensação.

Ao lembrar-se do olhar de sua amada, sorria. Recordava-se de seus conhecidos, inquietos a perguntar-lhe o que havia ocorrido para parecer tão sereno, tão tranqüilo, tão feliz...

Porém, vinha-lhe a cabeça o que lhe haviam lido um dia, que quando se é feliz é que se deve ter mais medo, pois nada é tão ameaçador quanto a felicidade. Indagava se esse conceito, que à época mostrou se muito impressionante e inquietador, ainda faria sentido.

Muito embora estivesse realmente receoso – afinal, aquilo era tão bom que não poderia findar!! – encontrava alento num escritor que há muito tempo o fizera dirigir-se para sua alma, a fim de vê-la como realmente era, e não como queria que fosse. Encontrou um escrito de G.Kahlil Gibran, que dizia o seguinte :

Quando o amor vos fizer sinal, segui-o; ainda que seus caminhos sejam duros e escarpados. E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos; ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir.

Assim seria, decidiu. Colocaria todas suas forças em nome daquela que se chamava Cláudia, acreditando no amor dispondo-se a correr os riscos que ele oferece, pois mesmo sendo perigoso, vale a pena.

E foi deitar-se, com um sorriso nos lábios e a alma leve como uma pluma. Acreditava que seria feliz, cada vez mais. Só dependia deles. Eram uma dupla, agora.
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