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Contos-->O Quadro ( VI ) -- 07/01/2003 - 19:42 (cumpadri) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sexta parte do conto: O Quadro .


Há 10 anos que Carlos tinha visto pela primeira vez aquele abominável céu cinzento-escuro reflectido num mar zangado onde flutuava um navio enorme e negro que se afastava cada vez mais de si e que no porão levava expostos num pedestal também ele negro como a noite mais cerrada os dois diamantes mais cintilantes do mundo, um era um coração o outro a sua taça dourada. Carlos não percebia o que é que se estava a passar com ele. Já havia muito tempo que não se recordava de Ana, que não pensava na sua paixão juvenil. Mas hoje Ana e aquele navio diabólico não lhe saiam da cabeça, eram três da manhã e não conseguia dormir, Patrícia, a sua actual namorada e com certeza futura esposa, dormia pesadamente, o que possibilitava a Carlos andar de um lado para o outro no quarto sem medo de a despertar, mas mesmo assim sentiu uma estranha necessidade de ficar sozinho, razão pela qual foi para a sala. Chegado lá sentou-se comodamente num sofá e olhou através dos vidros da janela as estrelas, uma sensação de infinito invadi-o repentinamente fazendo com que ele se sentisse o mais pequeno dos homens, a mais pequenas das coisas, era como que uma sensação de claustrofobia, desesperadamente correu para a janela e abriu-a, ao sentir o toque do ar fresco da noite na sua pele ficou um pouco mais aliviado, mas por pouco tempo. Teve de sair de casa e vagabundear pelas ruas da sua cidade, testemunhas quase imortais de muitos amores dolorosos.

Nos primeiros passos lembrou-se dos tempos a seguir ao concurso, não comia, não pintava, não queria sair de casa, não queria viver ou se calhar simplesmente não... Os seus pais depois de esgotadas todas as outras hipóteses decidiram enviá-lo para casa dos seus tios em Paris. Foi em França que terminou o liceu e tirou o curso de belas artes. No tempo de estudante emigrado conheceu muitos raparigas, mas nenhuma o conseguiu fazer esquecer-se de Ana.

Ao entrar na terceira rua lembrou-se das suas férias em Portugal quando tinha 19 anos e no fim das quais iria para a universidade, a sua família desejava que ele continuasse os estudos em França, mas o rapaz por causa da sua amada desejava ardentemente voltar a estudar na sua terra natal. Encarou aquelas férias como um dos momentos mais importantes da sua vida, aquela era a hora da verdade. Carlos tinha conhecimento que a festa do partido revolucionário era no inicio do mês de Setembro e sabia de antemão que Ana não iria faltar e ele também não.

Dia 2 de Setembro lá estavam os dois na pequena festa: um palco para dar inicio e término às ‘hostilidades’, para político discursar e para artista também discursar - ou o caro leitor imaginava que cantor naquele palco cantava?! -; um espaço aberto para o público ser hipnotizado, estupidificado, pelas mensagens políticas e ‘artísticas’, e para o público endeusar o secretário geral e presidente do comité central e único do partido revolucionário – claro que era para endeusar o estúpido homem, se tal revolução anula todas as religiões a única que sobra é a religião ao ditador, como sucedeu no Antigo Egipto, na Antiga Roma, na já desaparecida União Soviética e na ainda existente Cuba comunista, por exemplo -; uma zona de tendas para a rapaziada dormir; uma outra zona de tendas vermelhas com uma espécie de tridente a enfeitá-las na parte exterior mais alta, essas tendas vermelhas ao inicio ninguém percebeu muito bem para o que serviam; uma zona de banhos e uma zona de ‘bares’, nos estabelecimentos comerciais vendia-se de tudo desde artigos do partido, bebidas com e sem álcool, drogas leves e pesadas, e até comida lá se vendia...

- Olá Ana com estás?

- Muito alegre, esta é a minha festa, não é?

- Pois...

- Ouvi dizer que estavas em França?

- Sim, tenho vivido em Paris, mas as férias passo-as sempre em Portugal.

- Desculpa mas estão a chamar-me. Faço parte da organização, tenho sempre algo para fazer.

Carlos não achou aquele primeiro contacto muito proveitoso, mas era melhor que nada, Ana até tinha sido simpática para com ele. Como tinha tido sucesso nos estudos numa nação diferente e até tinha arranjado coragem para ir à festa do p.r. Carlos pensou que Ana não o consideraria mais um fraco, mais um inútil, talvez agora se entendessem. Só que no segundo dia da festa as coisas complicaram-se, isto para não dizer que Carlos ainda em vida desceu aos infernos. Um dos objectivos do p.r. consiste em desacreditar todas as instituições: políticas, religiosas, culturais, familiares e por aí fora. Nesse ano a vítima era a família, a luxúria sexual revolucionária é incompatível com a noção tradicional de família e até mesmo com o também tradicional respeito pela vida, passo a explicar, a falência da família, o incentivo do uso de drogas e a possibilidade de recorrer ao aborto como medida contraceptiva legal, no pensamento revolucionário, conduziriam a uma orgia sexual continua, algo semelhante às festas que na Antiga Roma se faziam em honra dos deus Baco, o deus do vinho, do sexo e da loucura, e que ficaram conhecidas com o nome de Bacanais, só com uma pequena distinção, o Bacanal revolucionário em momento algum seria interrompido!!!

É agora que entram as tendas com os ditos tridentes a atavia-las, o comité central e único escolheu as mais belas e apetitosas partidárias, nas quais estava incluida Ana, e os mais belos e eloquentes partidários solteiros para ‘assalta casamentos’. Passo a explicar, as raparigas incluídas no grupo dos ‘assalta casamentos até à próxima festa passavam a ter como único e exclusivo objectivo na sua vida engatarem homens casados com o propósito de os levarem a separarem-se das suas esposas, o objectivo dos rapazes era exactamente o mesmo só que deveriam engatar mulheres casadas, e no caso de se depararem com um marido homossexual ou com uma esposa lésbica nada de hesitações, o divórcio do casal tinha de se tornar uma realidade. O comité central e único para se certificar que o seu plano não falhava montou as tendas vermelhas com o dito tridente a enfeitar para treinos, isto é, as pessoas objectos do grupo ‘assalta casamentos’ iam simplesmente foder todos uns com os outros e com mais alguns que naquelas tendas entrassem. O propósito do treino era que aquele grupo de jovens perdesse todo o pudor em dormir, isto é, em foder com pessoas estranhas! Mais não é preciso dizer, imagine o leitor como Carlos reagiu a tal treino. Só quero acrescentar que na altura que o treino começou o secretário geral subiu ao palco e começou o seu discurso com as palavras:

- A política do nosso partido para o ano que vem está a ser discutida e definida nas tendas vermelhas, no último dia de festa virei aqui comunicá-la a todos vós.

A estas palavras o público reagiu com um sonoro - e a uma só voz -:

- Avé! Avé!

Se o leitor acha todo isto uma cena saída de um conto sobre Roma Antiga não é de espantar, pois também Carlos se sentia como se tivesse feito uma longa viagem no tempo e tivesse ido parar ao tempo em que César ainda governava em Roma!


Continua e possivelmente termina no conto O Quadro ( VII ) .
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