Ela parecia muito mais bela com aquele ar de seriedade que a muito tempo não percebia em seu olhar. Parada, quase que inerte – um pouco pela dor que sentia em seus ossos, um pouco pela importância do acontecimento – por vezes fitava-me e quase sorria, voltando absorta para o depoimento na Delegacia.
Eu, sentado no velho sofá daquele órgão público imaginava que poucos puderam ver algo tão belo daquele lugar. Talvez houvessem coisas belas também ali, mas não pudessem enxergar. Presos, detetives irritados, móveis velhos e papéis empoeirados contrastavam com a beleza daquela mulher.
O sol começou a bater em suas costas e pude ver que a aquecia, minorava-lhe a dor que era acometida. Pela janela olhei o sol e notei o quanto era aprazível para ela. O agradeci o favor de aquecer aquela menina, de quem tanto gostava.
Olhando a janela recordei de que ao nos conhecermos não era isso que esperávamos. Não imaginaria que até Delegacia iria levar-lhe.
Pensava vendo as nuvens dispersarem com o calor, que quantos não tentaram que nos afastássemos, utilzando os meios mais sórdidos para conseguir tal fim. O tempo passava e não conseguia enjoar dela.
Voltei meus olhos novamente para ela.
Olhei-a e ela ao ver-me, esboçou um sorriso, como se soubesse do meu agradecimento ao astro-rei e minha conversa com as nuvens. Mesmo sabendo que nada fiz para afastar as nuvens e direcionar o sol para esquentar-lhe, sorria como que grata.
Nada que tivesse feito no passado poderia fazer com que deixasse de gostar, cada vez mais, dela.