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Contos-->O Vagabundo -- 21/01/2003 - 22:40 (Luísa Ribeiro Pontes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Vagueia sem rumo nas ruas da baixa. Enquanto o sol lhe aquecer os ossos, a sua casa é a rua no doce fruir de não estar entre quatro paredes fechado, em dia tão soalheiro, entregue também ao suave prazer de observar o bulício do Natal! Decifra com o seu olhar anónimo as belas mulheres que passam, deixando perfume no ar e despertando-lhe o sonho. Quanto não daria pelo enleio profundo do olhar delas no seu... para se sentir ainda homem, se não mesmo pessoa... Mas não. Altivas e serenas desfilam e as montras é tudo que as atrai. Desliza a mão pela barba. Começa a picar. Descobre desencantado que é mais um vagabundo que fica a ver a vida a passar. Cruzam-lhe o cérebro arguto os requintes tão recentemente perdidos. Um banho imerso em água e vapor, a visão tolhida, o corpo adormecido de prazer, a face rósea e barbeada, delicadas mãos a afagá-la... tudo que não soube guardar...
Na visitação do sonho foi-se o sol e nada mais veio. Assalta-o a urgência de voltar e levanta-se para ir, mas descobre de repente que nenhum lugar o espera e que ninguém dará pela sua falta, onde quer que não vá. E chora. Chora como ainda não tinha sido capaz de fazer, desde que soube que já não tinha onde morar. Vagueia sem rumo na noite, com a lua traiçoeira por companheira única. Sabe que tem de parar, achar recolhimento da bruma fina que o começa a envolver, humido o rosto de lágrimas e de orvalho, rasgada a alma pela dura verdade. Mas não consegue parar. Nunca teve a noite por tecto e o luar por manto. Sempre teve para onde ir.
A madrugada encontrou-o ainda errante à procura de si, desse outro que fora, e se tinha perdido nas armadilhas da vida. Quando raiou, o sol pálido de Dezembro trouxe-lhe a dura realidade: descobriu que aquela noite sem tecto fora a primeira de muitas e muitas, sem retrocesso... E lembrou-se dos tempos em que era o menino querido de alguém, mais tarde o homem de alguém e suaves mãos femininas voltaram a afagar-lhe o rosto com doçura, a revoltear-lhe os cabelos agora crespos, enquanto adormeceu no primeiro banco de um jardim à beira do mundo.



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