É impressionante dizer que já se passou um ano desde que ela se foi. Um ano sem o seu sorriso, sem a sua voz doce. Um ano sem sentir seus pézinhos frios e macios acariciando os meus por debaixo das cobertas. Um ano que em nada mais me adianta ligar para casa no meio do expediente, pois não haverá ninguém para atender. Um ano que eu durmo, sonho com você todas as noites e choro pelas manhãs, ao acordar e constatar tratar-se apenas de mais um sonho.
É assustador como a vida levou-a de mim tão rápido, tão bruscamente. Justamente quando eu havia encontrado a felicidade, Andréa foi lá e fez aquela coisa brutal e estúpida — como me sentí traído!
Cheguei tarde demais; a arma jazia em uma de suas mãos. A chuva aguava uma imensa poça vermelha, como se fosse vinho. Mal conseguia imaginar que aquela sangüeira havia vertido de dentro dela. O mesmo sangue que fazia o seu coração pulsar mais rápido quando nos amávamos; o mesmo sangue que lhe corava as faces quando eu inusitadamente lhe roubava um beijo.
É tarde demais para que eu olhe o azul do céu sem a sua companhia. Tarde demais para ouvir o barulho das ondas do mar, sem ter ao meu lado os seus olhinhos castanhos a brilhar, perdidos na linha do horizonte. Muito tarde para sentir aquele friozinho na barriga — que eu sentia ao aproximar meus lábios dos seus. Sobrou-me apenas o frio cinzento das tardes de chuva.
Um ano. Apenas o primeiro aniversário macabro que tenho que enfrentar — chove exatamente como naquela fatídica tarde — e não sei se suportaria mais um. É doloroso demais imaginar que há apenas um ano, Andréa estava comigo. Há apenas um ano, o destino — prefiro pensar assim para não enlouquecer — levou-a de mim para sempre. Para sempre.
Hoje, quando sair do trabalho, irei deixar em seu jazigo uma coroa de rosas vermelhas — as mesmas que alimentaram os momentos mais especiais de nossa paixão.
"Querida Andréa: um ano que cada dia de saudade aumenta ainda mais o meu amor."
Que assim seja, no perfume que a terra emana após cada tarde de chuva.
Eternamente.