Ninguém mais gostava de ouvir bailarino tocar. Diziam que seu ritmo estava desgastado pelo tempo. Fora de moda, de acordo com as novas tendências do brega paraense. Só porque ele ainda insistia na seresta. Dos que percorriam as ladeiras da cidade velha, apenas ele e seu violão continuavam incansáveis. Mas agora nada de platéias arfantes pela próxima música. Somente a solidão ainda parava para ouvir suas melodias.
E depois de tanto ostracismo, bailarino deixou até mesmo de fazer aquilo que tanto o caracterizou e acabou batizando seu nome artístico. Porque existiam bons seresteiros como ele, mas nenhum que pudesse tocar e ainda arriscar uma dança sem perder o ritmo nos dedos.
Bailarino juntou calos nos dedos quanto nos dos pés. Essa foi a única poupança que ele conseguiu fazer parar entrar na velhice. É duro passar a vida inteira emprestando um pouco de paixão a quem quer que pedisse e como resultado ganhar apenas esquecimento.