Eram 17 horas e o sol ainda queimava a pele. Esperava há alguns minutos. Ela não chegava. Desisti de esperar. Fui embora. Resolvi ir caminhando mesmo, a minha residência não ficava muito longe. Cheguei em casa e não lembrava mais dela. Liguei a TV. O apresentador de um telejornal falava sobre um seqüestro. Já estava cansado deste assunto. Desliguei o aparelho e resolvi dormir um pouco. O dia foi muito cansativo. Primeiro uma ducha bem fria e demorada. Fui para o meu quarto. Lá estava, fiel e arrumada me esperando. A minha cama. Deitei e comecei a pensar nela. Por que não veio? Alguns pensamentos povoavam a minha cabeça. Alguns muito desconfortáveis. Levantei-me um pouco e fui ao telefone. Ligar para ela? Não. Fui dar um telefonema a um amigo. Colocamos o papo em dia, falamos muita besteira. Já até havia me esquecido quando ele me perguntou sobre ela. Respondi que não sabia, achava que ela havia me abandonado. Despedimo-nos e eu voltei para a cama. Dormi um pouco e sonhei com ela. Ela fugia de mim como um coelho foge de uma onça faminta. De repente acordei com muita fome. Eram 21 horas. O sol, claro, já havia desaparecido, mas ainda fazia muito calor. Fui à geladeira procurar algum alimento. Não havia muita coisa. Não fazia compras há muito tempo. Tomei um pouco de leite. Não tive coragem de prepara algo mais trabalhoso. Voltei para a cama e dormi pelo resto da noite. Não tive outros sonhos. O sono foi tranqüilo. Às 6 da manhã já estava de pé. Tomei um rápido banho e fui para o trabalho. Logo que entrei no carro comecei a me lembrar dela. A partir desse momento as simples lembranças começavam a se transformar em preocupação. Ela nunca havia passado uma noite fora de casa. O que estaria fazendo? Peguei alguns quilômetros de engarrafamento. Que stress! Senti uma leve dor de cabeça. Uma hora depois cheguei ao trabalho. Logo que estacionei o carro meu celular tocou, era aquele amigo de ontem. Disse que tinha notícias dela pra mim e não eram boas.
- O que você sabe sobre ela?
-Morreu!
-Mas como morreu?
-Foi atropelada.
Comecei a chorar. Não sabia se iria suportar aquela perda. A vida me dava um tremendo golpe. A dor era muito grande. Desisti de trabalhar. Não quis mais dirigir. Peguei um táxi de volta para casa. No caminho o motorista insistia em conversar comigo. Falou sobre futebol, dinheiro, violência, política, mas eu não queria saber de nada disso. Só pensava nela. Como seria minha vida agora? Nenhuma outra poderia substituí-la. Como seria a minha vida agora sem a minha pequena Aninha? Que saudades da minha pequena vira-lata!