Roberto parou com seu carro no semáforo fechado. Uma mulher de meia idade, com uma criança no colo, bateu levemente no vidro. O vidro foi abaixado.
-- Desculpe incomodar o senhor; estou desempregada e não tenho dinheiro para comprar mod´e comer pra minha filha. O senhor pode dar um trocado?
Tanto a mulher quanto a criança no colo estavam ambas sujas, com as roupas em frangalhos. O estado em que se encontravam era de dar pena. Até parecia que se vestiam daquele jeito para comover os motoristas.
Roberto apiedou-se daquela criança. Levou a mão ao bolso e retirou uma nota de cinco reais e entregou a mulher. Esta agradeceu e se afastou. O sinaleiro abriu e ele partiu. Ainda houve tempo para ele se conjeturar: “A que ponto degradante as pessoas chegam? Que futuro terá aquela pobre criança?...”. Seus pensamentos se perderam logo em seguida.
Metros adiante, a mulher colocou a criança no chão tomou sua mão e caminhou em direção a um bar próximo dali.
Pararam diante do caixa e a mulher pediu:
-- Um maço de Free.
O homem pegou o maço de cigarros, entregou a mulher e pegou o dinheiro. Naquele mesmo instante a criança apontou para um tablete de chocolate e pediu:
-- Mãe, compra um desse!
-- Não! – respondeu a mãe prontamente.
-- Mas eu to com fome.
-- Eu já disse que não vou comprar porcaria nenhuma.
A mulher pegou o troco e puxou a criança em direção à porta do bar. Na calçada, acendeu um cigarro e saiu irritada com a criança na direção contrária.