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Contos-->AQUÁRIO -- 20/08/2000 - 12:08 (LEE ANDERSON) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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Sentou-se sobre a mesa, ergueu o vestido e deixou-se cair de bruços sobre a mármore fria. A luz pouca e azulada da sala esquentava seu corpo, os pêlos escorrendo úmidos por entre as pernas eriçavam-se apertados contra o quadril rijo do rapaz. Puxou-o para mais perto arranhando seus braços, beijou-o ardorosa enquanto ele apertava forte seus seios e enfiava fundo a língua dentro de seu corpo. Envolveu-o enlaçado em suas pernas enquanto um gozo extenso tensionava seus músculos, a seiva rala escorrendo em meio ao visco da carne. Sorria feito uma bruxa.

O tentáculo saltou de seu ventre jogando-se fundo goela abaixo do rapaz. Ele tentou livrar-se da criatura, mas outros tentáculos já nasciam no interior da velha e desferiam-se envolvendo-o todo, até que ele já não mais resistia e deixou-se ser puxado para dentro das paredes de metal que compunham o corpo daquela que mantinha-se contorcida em gozos múltiplos.

Quando deu-se por si, nadava – por instinto nadava riscando as águas gosmentas e enegrecidas em que se encontrava. Braçado após braçada, lançava-se acelerado em meio aos peixinhos azuis que cercavam-no, curiosos, e às pequenas sereias que se escondiam, nuas e insinuosas, talvez assustadas, enquanto o medo e o prazer misturavam-se dentro de sua barriga – perfume quase desapercebido de violetas e gosto agudo de lágrimas – diria, se tivesse tempo para pensar – mas não tinha.

Então, quase já sem fôlego, ainda duvidoso entre o prazer e o medo, finalmente alcançou a superfície – no entanto trancada com alguma espécie de tampa-de-bueiro. Teve que desenroscá-la, é verdade, e ainda juntar suas últimas forças para erguê-la e depois abrir espaço entre as paredes de carne para só então jogar-se de volta à sala de pouca luz e perceber o blues desenrolando-se lento dentro de sua cabeça.

Curvou-se sobre a velha e beijou sua face de metal frio - no fundo de seus olhos ainda pode ver os peixinhos, transformados em canibais pós-modernos, devorando as serias. Depois vestiu-se lentamente, como se tivesse que retornar rápido ao escritório, esqueceu da pasta como se nela estivessem documentos importantes, e deixou o dinheiro à beira da mesa ao sair, enquanto o tentáculo, saltado pela boca da velha, enfiava-se frenético entre suas pernas suadas.

Olhou o relógio e viu que estava atrasado - sentou-se na calçada e ficou vendo as crianças jogando bola.
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