Sentada em frente ao seu computador, Alice digitava freneticamente. De repente começou a olhar para o outro lado da rua. Pela janela de frente para o seu quarto, podia avistar do outro lado da rua em um edifício um rapaz que parecia estar estático, mas nele havia uma agitação fora do comum contrastando com a inércia que se via na edificação.
Desviando um pouco o olhar, Alice podia ver ao lado a beleza dos raios do sol que batiam na sua janela e deixavam mais belas aquelas árvores que se encontravam no bosque, contemplando aquela paisagem e as crianças que ali estavam brincando, recordara-se da infância que tivera no interior, livre, com muito ar puro, ao ar livre.
E hoje encontrava-se naquele minúsculo cubículo ao qual chamavam kitnet, sufocada pelo ar que circulava na cidade, pelo ar que pouco circulava dentro daquele ambiente, pela ânsia das pessoas em sempre chegarem na frente, não se importando com as outras, com a competição que as ia consumindo.
Era como se cada passo que dessem tivesse um peso insuportável. Vendo aquela cena, daquelas crianças, Alice via toda sua pureza, ingenuidade, boa vontade que de certa forma tinham ficado no passado.
Lembrava da vida tranqüila do interior, das conversas nas calçadas, de olhar nos olhos, de um bom dia com calor de alegria e gosto de café passado na hora, eram tantas recordações que ficou ali de olhos fixos naquelas crianças despreocupadas e naquela paisagem vigiada, cercada e "preservada", até que viesse a ânsia desmedida e levasse tudo embora acabando por devorar mais aquele pedaço, onde só o progresso e o crescimento constante devesse imperar, acabando como o bucolismo e deixando a concretude.