A rua onde eu moro é muito movimentada...É carro da polícia que corre ali, pega lá, prende acolá - um verdadeiro festival cinematográfico, coisa para dar inveja até mesmo aos gringos.
Dias atrás, um japonês, sem muita maldade, desceu os quarteirões esburacados da Rua 13, na intenção de vender suas mercadorias. Parou o carro diante de um botequim, abriu a velha Belina e gritou aos quatro ventos que estava vendendo roupas para crianças.
Ao término do anúncio, formava-se uma fila diante de seu automóvel, todos queriam ver as maravilhas do pobre homem, que alegre, sussurrava à mulher:
_"Fia", hoje vamos tirar o pé da lama, a barriga da miséria...Veja! Veja quantas freguesas!
E realmente ele vendera todo o estoque. Sua mulher, uma mestiça com aparência de uns 32 anos, corpo magro, anotava num caderninho os endereços das novas clientes.
Passado um mês, lá retornaram o japonês e sua esposa e, para surpresa de ambos, todos os endereços constantes na caderneta eram falsos... O prejuízo fora imenso! O homem começou a chorar, até cair ao chão e morrer de desgosto.
Mas esta é apenas uma das muitas histórias envolvendo os mais de vinte quarteirões de extensão deste corredor da periferia. Tem outra que fará você dar muita risada.
Certo dia, seu Juca, um sorveteiro aposentado, descia a Rua 13, anunciando seus produtos, quando um rapaz se aproximou e pediu que ele servisse as crianças que estavam ao redor e sem dinheiro para pagar, pois ele assumiria a compra.
Satisfeito, seu Juca abriu o carrinho e só se via criança pegando os palitos, comemorando a festinha encomendada pelo estranho rapaz. Quando acabou o estoque, o sorveteiro virou-se para o rapaz e disse, com um sorriso a rasgar a face:
_São R$ 20,00.
O rapaz retirou da cintura uma pistola 38 e apontou-lhe, indagando:
_Quanto custa mesmo? Não entendi o que disse...
Atordoado, seu Juca foi se afastando, dizendo em meio ao suor que lhe corria todo o rosto:
_Não! Não é nada! É cortesia da casa! Fica como presente...
E as histórias sobre a Rua 13 não param de surgir...
Dia desses, um dos garotos da rua comprou uma pipa enorme, chamou os colegas e foi ao campinho soltá-la. Ao ver outras pipas, quis fazer um racha aéreo com seu "poderoso avião".
De uma só vez, mandou para o ralo três papagaios. Alegre, o garoto não sabia que uma das pipas derrubada era de João Quebra Perna, um adolescente muito mau da rua de cima. Sua fama era traduzida por seu apelido: quem ele pegava, quebrava a perna.
Quando avisaram o pobre que João queria vê-lo, vivo ou morto, ele teve um piripaque, e lá mesmo ficou, estirado sobre o campo, como se estivesse desmaiado.
As crianças começaram a gritar, pediam ajuda a Deus e aos homens. Quando João chegou, ao olhar o garoto, começou a dar risada, virou as costas e foi embora, dizendo aos quatro ventos:
_Mais poderoso que eu, só DEUS! Bastou saber que o papagaio era meu para morrer antes de eu chegar...
Foi João se afastar, para o garoto, por milagre, levantar-se...Estava fingindo! Era mais fácil encenar do que apanhar. Coisa de esperto!
Tenho mais casos para lhes contar... Ontem mesmo, na Rua 13, a dona Maria Manquinha, proprietária de uma quitanda, completou 60 anos em grande estilo. Durante uma hora, distribui fartos pedaços de bolo aos miseráveis da região... O problema era que o tal bolo tinha um gosto horrível de ovo! Mas tudo bem, o que vale é a intenção...Só que antes que me esqueça, vários desses miseráveis foram parar no Hospital com diarréia por coisa do bolo.
As famílias das vítimas correram para a quitanda de dona Maria Manquinha, queriam linchá-la pelo mal que fizera a seus filhos; a polícia baixou lá e levou todo mundo preso.
Esta é a Rua 13, um lugar sossegado para morar, com tantos casos que nem Nelson Rodrigues conseguiria contar...
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