A história que vou lhes contar parece mentira, mas ocorreu de verdade. Não sei por onde começar, assusto-me só em lembrar que aquele homem, surgido do nada, não sei por qual motivo, resolvera salvar meu filho, de 2 anos, a quem amo muito.
Bem, tudo começou quando estava em um hospital. Chovia muito naquela madrugada e meu filho, entregue aos cuidados de um médico gordo, arrogante, queimava em febre. Dizia o doutor que ele estava com pneumonia, todavia, não poderia interná-lo por não termos um convênio médico.
Implorei para que cuidasse dele, poderia morrer. Mas o médico, inflexível, apenas disse:
_ Sinto muito, querida! Não há vaga para interná-lo; se tivesse um plano de saúde, talvez conseguisse um local, mas...
Deu-me uma lista enorme de remédios e sumiu pelos corredores. Extenuada, peguei meu filho no colo, colei meu corpo ao dele, abri o guarda-chuva e lá fomos, naquela chuva... Chorava, porque não sabia o que fazer. Estava sem dinheiro, como voltar para casa? Como comprar os remédios de que ele precisava?
Tentei me esconder debaixo da cobertura de um bar... Joãozinho arfava, gemia em febre, não havia ninguém ali que pudesse me ajudar. Passavam das duas horas da manhã. Minhas lágrimas caíam sobre ele.
Foi quando fechei os olhos e pedi a Deus que me ajudasse, fizesse algo que protegesse João. Ao abrir os olhos, à minha frente estava um táxi. O motorista, talvez dono do veículo, pedia para que eu entrasse, mas eu não entendia o que estava ocorrendo, aliás, como iria pagar pela viagem?
Foi quando ele abriu o vidro e gritou:
_ Entre!!! Está chovendo muito!!!
_Mas, não tenho dinheiro, como irei pagá-lo?
Não consegui ouvir sua resposta, o barulho da chuva e a tosse de João impediam que qualquer palavra chegasse até mim.
Deixando de lado o receio, entrei no carro. E lá fomos nós!
Aquele carro era estranho, tinha um ar diferente, exalava paz por todos os cantos. Virei-me para o senhor, de cabelos grisalhos, barba bem feita, olhos azuis, lábios dóceis e perguntei:
_Qual seu nome, senhor?
_ Não tenho nome!
Gelei com sua resposta. Arrisquei outra pergunta.
_ Não tenho como pagá-lo! Como faremos?
_A viagem já está paga!- respondeu-me, numa voz suave.
Arrepiei-me. Acolhida ao banco, segurei João com toda a força e pensei:
_O que está acontecendo? Quem será este homem?
Voltando-se para o senhor, indaguei, numa voz dominada pelo medo:
_ E quem pagou a viagem, meu senhor?
O homem emudeceu.
Ao chegar à minha casa, pedi para que me desse o local de seu ponto, porque gostaria de pagá-lo. Ele não queria, repetindo que a viagem estava paga. Então insisti:
_Eu o pago e o senhor devolve o dinheiro a quem pagou pela viagem, certo?
Olhando-me com ternura, concordou:
_ Se assim prefere!
_Sim, prefiro!
Pegou um pedaço de papel do porta-luvas, escreveu-me o endereço de seu ponto e entregou-me com um sorriso simples, como se estivesse compadecido de meu gesto.
Peguei o papel, a letra era tão certinha, bem construída que, por um momento, senti inveja... Bem, estava tão confusa, poderia ser outro sentimento e não este.
Desci do carro e lá fui com meu filho no colo até a área da casa. Ao virar-me para agradecer novamente, o carro havia sumido. Segurei-me à parede, estava trêmula, emudecida. Voltei a mim ao ouvir a tosse seca de Joãozinho. Ao abrir a porta, tive outra surpresa. Sobre a mesinha da sala estava um envelope branco.
Coloquei-o no sofá, peguei o envelope, abri-o devagar. Foi então que comecei a chorar, lá estavam todos os remédios que meu filho precisava.
Procurei pelo papel que continha o endereço daquele senhor, novamente fui abatida pelo susto. O papel estava em branco, as letras haviam sumido. Desesperada, sem entender o que estava se passando, gritei, em meio a um pranto comovente:
_MEU DEUS! O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
Abri a porta, queria uma explicação para tudo aquilo. Mesmo debaixo da chuva, olhava para todos os lados, queria ver aquele carro de novo, aquele homem, mas não tendo êxito em minha empreitada, voltei para a casa, peguei uma toalha, enxuguei-me, vesti o pijama, coloquei João sobre o colo, levei-o para seu quarto, dei-lhe o medicamento, cobri-o e retornei à sala.
E ali mesmo, sobre o sofá, adormeci, sem saber o que de fato havia acontecido.
Talvez aquele homem fosse um anjo, talvez fosse Jesus, talvez o próprio DEUS. De certo mesmo, era que meu filho estava salvo, feliz e em paz...
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