UM BRADO FEMINISTA DE LIBERTAÇÃO E IGUALDADE DE DIREITOS.
Não está direito, mas não está direito, mesmo!
Eu sei rezar bicheira de animal, que não fica um só ovo de beronha no bicho: cai tudo! E quando o animal é fujão, eu rezo o passo dele, a pegada, sabe como é? Não posso dizer aqui a reza, pra não perder a força da benzedura, mas que é das legítimas, é!
Tenho umas rezas boas para endireitar a vida, tirar mau olhado, desfazer coisa-feita, pragas e encantamentos; outras para lumbagos, desfazer catombos e sei “costurar” qualquer torção ou desconjuntado.
Reconheço passarinho, ou qualquer ave agourenta, pelo canto e cobra pelo bote. Não há mandinga que me pegue e nem danação que não fuja do meu ramo de arruda. Sou uma danada para fechar-corpo.
Olha, numa noitinha eu vinha vindo da casa da comadre Maria, onde fui levar uma garrafada para espinhela-caída, quando ouvi uma zoada no curral: lá estava o caipora, com aqueles pés grandes dele, virados para trás, montado num cateto que não tinha tamanho, azucrinando as vacas. Daí eu peguei a rezar o meu bendito, para estas ocasiões:
“Ofereço este bendito
para o Senhor da Cruz.
para me livrar do maldito
para sempre, amém Jesus”.
O caipora entrou ventando no mato, com o porco cateto chiando, apavorado!
Não há boitatá que não fuja do meu esconjuro e quando o saci se mete no meu sítio, para fazer estrepolias, como gorar os ovos das galinhas, eu já tenho reservado para ele um pedaço de fumo de rolo. Ah! o caboclinho é doido por mascar um fuminho e, lá vai ele, todo serelepe, cuspindo de banda.
Numa sexta-feira-gorda, quando o sete-estrelo estava bem alto no céu, eu ouvi um bufo medonho ! lá para os lados da pirambeira. Pensei: só pode ser bufo do gigante Gorjala! então peguei a cantar o bendito que aprendi com um rezador africano, porque, para o gigante Gorjala, é preciso fogo forte! O Gorjala? O Gorjala devora um vivente como quem come frango assado - nhóc, nhóc, nhóc , às dentadas!
Não minto, não! Eu estava com medo, sim, mas mesmo tremendo eu cantei:
“Que eu camá-camá
Que eu catolé...
Ô Zerirê...
Cum Zeriré!”
E assim cantando, com o dedo indicador mais o dedo mindinho da mão esquerda apontando para ele, fui levando o gigante para o lado do buracão sem fundo; o monstro foi se afastando, se afastando, com aquele olhão que ele tem no meio da testa, arregalado de medo, e danou-se lá dentro. Pum! Subiu um poeirão.
Nesse momento, uma estrela riscou o céu, deixando um traço de fogo. Daí eu disse, bem depressa:
-- Deus te guie, zelação!
As almas penadas, as visagens me aparecem pelo caminho, me pedindo rezas; mas eu troco as rezas pelos segredos de tesouros escondidos ou enterrados. Já achei mais de vinte!
Eu sei uma porção de “causos” de lobisomem e assombração, mas não conto para ninguém.
Ah, se eu fosse homem, vivia acocorado nos calcanhares, pitando um cigarrinho de palha, dando umas cusparadas bonitas, dessas que passam assoviando entre os dentes e vão parar lá nas distâncias, e matava o meu tempo contando as aparições de fantasmas e outras visagens...
Mas mulher não pode fazer destas coisas! É logo chamada de feiticeira ou bruxa.
Que discriminação!
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Christina.