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Contos-->As Pachorras Quentes -- 18/01/2000 - 21:18 (Abu Dhabi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Oi!Vim contar uma história para vocês.Não sei se é boa,mas tudo bem.Tchô começar.
Estamos aqui com vocês com mais um programa da Rádio Catedral.Vamos passar para vocês a Ave Maria e... Ah,não!Não! Não pode ser! O gravador quebrou!Só pode ser coisa daquela freira cretina! vocês não conhecem essa freira. vocês não sabem de nada.E já que não sabem de nada,vou contar a história para vocês.
Vejam bem,olha,aqui é um mosteiro,nosso lindo mosteiro de Chico Bento,e eu sou um humilde monge ao seu dispor.Pois bem,a vida era alegria até que nós recebemos um comunicado de que a madre do Convento de Calcutá iria nos visitar.Ó,graças a deus.Iríamos receber uma santa,uma santa!
Que engodo,não?Aliás,percebi logo que recebemos uma anta.Eu já não fui com a cara dela desde que ela chegou aqui,foi tirando o hábito,jogando pra tudo quanto é lado e dizendo:bom dia,eu sou Dinalva,uma freira de luxo.Freira de luxo?Já vi que eu ia me aborrecer.E não gostei nada quando eu falei que a levaria a seu quarto.Ela me abraçou pela cintura e falou:
-Obrigada,você é muito gentil.
E ela aprontou.No dia seguinte ela me aprontou uma.Eu tinha ganho de um figurão aí um bilhete de loteria já premiado.Ele estava em minha posse e eu ia à lotérica receptar a grana e,é claro,doar tudo ao meu mosteiro,tão pobrezinho,precisando de uma pintura nova.
Pois bem,aquela Dinalva encontrou o bilhete,achou-o coisa à-toa e jogou fora pela lixeira.Meu Exu do céu,200 milhões postos fora assim,num acaso.Ai,não posso nem lembrar.Eu fico tão nervoso.
E ela aprontou mais.Ela chegou aqui em janeiro,e a janeiro segue fevereiro e em fevereiro tem carnaval.E ela,como era uma santa,resolveu pregar a palavra de Deus ali no baile da esquina.E o pior é que todos os monges a aplaudiram,dizendo que isso sim é comportamento de vanguarda.E o pior é que o baile era organizado pela igreja do Edir Macedo.
Ela foi.O baile era à fantasia,e ela vestiu apenas o capuz de freira e pegou seu ingresso.No que chegou na portaria,o porteiro perguntou:
Ele:Você tá fantasiada de quê?
Ela:De pingüim,có,có,có.
Ele:Mas pingüim não cacareja.
Ela:Escute aqui,o pingüim sou eu e eu faço o que quiser.
Ele:Mas,me desculpe,é proibido animais.
Ela:Mas eu,eu.. tiro,então
Ele:Ah,mas a senhora não pode entrar sem fantasia
Furiosa,pisando duro,ela voltou ao convento.Eu crente que era um sinal de Buda que ela não fosse ao baile.Pois sim.Ela foi ao seu quarto,pintou as bochechas de vermelho,foi à cozinha e encheu a boca de maionese.Voltou ao baile e se deparou com o porteiro.
Ele:Você de novo?Espero que esteja fantasiada.
Ela:Hum-hum
Ele:Ah,é?E do que você está fantasiada?
Ela:(aperta as bochechas)Puuu De espinha.
Aquela freira ia ficar no mosteiro por mais dois anos,mais dois anos realizando obras de fezes e caridades.Agüentá-la por esse período ia ser dose,e ela,nesse instante,chegou pra todo o mundo:Gente,vamos na freira comprar tomate pra fazer molho?Quer dizer,na feira?Era dia de Pomarola.Iiiiih,o que foi?Não entenderam a piada?Não entenderam o dia de Pomarola?Todo mês a mulher fica como?
Nosso mosteiro tinha uma Kombi,que usávamos para cima e para baixo,para a direita e para a esquerda,dando a Carona do Senhor a preços módicos aos coitadinhos que esperavam na parada incessantes pelo ônibus.Então aparecíamos lá,como de milagre.Foi assim que eu conheci uma velhinha que era um anjo.Ela sim era uma santa e não aquela xulepice da Dinalva.Sempre que eu andava de ônibus eu encontrava com ela.Ela tinha entre 70 e 80 anos e vivia saracuteando pela cidade.Nem eu sabia onde ela arrumava tanto o que fazer,mas o fato é,coitada,que ela vivia levando tombo.O ônibus parava e ela caía,o ônibus arrancava e ela caía.O pessoal empurrava ela e ela caía.Vivia caindo e nunca quebrou uma unha sequer.Não é que ela estava andando na calçada quando tropeçou no próprio pé,caiu e quebrou a perna?E por ser velha e diabética não conseguiu se recuperar e ficou aleijada.Tadinha.Ai,só de pensar eu fico tão nervoso.
E aquela freira me enchendo o saco.Ela furou os pneus da Kombi e aproveitou para vendê-la,dizendo que estava velha e cacarecada e poderia provocar um acidente.
-Mas,Dinalva,como você pode fazer isso?Olha a tristeza que você me causou!
-O que tem que ser feito tem que ser feito.Não poderíamos compactuar com essa nojeira que você fazia.
Ai,que suplício.Num átino de inteligência,resolvi ir ao bispo.Marquei audiência e lá fui falar com ele:
-Bom dia,Vossa Eminência.
-(estendendo a mão para ser beijada,com cara arrogante):Fale.
-Olha,seu bispo,sabe a Dinalva,aquela freira de luxo?Pois é,seu bispo,eu não suporto a Dinalva.
-(olhando de cima para baixo,arrogante,enfático) Cala a boca que ela é só o que a gente tem pra cumê.
Ah!Aí eu entendi tudo.Freira de luxo,não é?Então eu senti um imenso ódio dela,o que me fez me arrepender amargamente e rezar uma dura penitência,porque um monge não pode sentir ódio de ninguém,o que me deu mais ódio dela,porque era ela que tinha que rezar penitência,era ela,com sua boca-suja que tinha que pagar o que me fez.
E,falando em boca-suja,vocês nem imaginam o que aconteceu com ela. Vocês sabem,muitas mulheres possuem um bigodinho e muitas delas tratam de arrancá-lo.Dinalva tinha bigode e sempre ia ao cabeleireiro passar cera.Ela se convenceu,porém,que o salão de beleza era um antro de pecado e comprou cera para usar.Mas ela não sabe que essas coisas não funcionam em casa?Então,ela passou a cera e hummmf,hummmf,tentou tirar e não saía.Impulsiva,grudou um plástico e passou nova camada de cera.Mas ao invés de puxar assim (de um lado pro outro),segurou cada ponta e puxou pra frente com toda a força.No que puxou,caiu a boca dela longe gritando socorro,socorro e ela mmm,mmmm,correndo atrás da boca.
Olha,depois daquela eu não agüentei.Num gesto de fúria,resolvi matá-la.Peguei a jarrinha dela onde ela tomava laranjada todas as manhãs e besuntei de arsênico.Ocorre,porém,que a serva trocou as jarrinhas e quem bebeu o veneno fui eu.E eu morri.Isso mesmo.Aqui quem vos fala é um morto.E,para o meu desespero,o desespero do girassol,não há nada aqui.É por isso que eu digo que eu sou ateu.(acende uma cruzinha vermelha e ele se contorc de medo.Sai um sonzinho,plim)
E,se eu sou ateu,é realmente um espanto eu ter chegado a ser um monge.Mas o fator desencadeador veio das neuroses dos 14 anos.Aliás,14 anos é uma idade chata pra caramba.14 anos mata.14 anos infecta.14 anos é contagioso.
Pois,com 14 anos,no auge das imaginações de mulé pelada,eu resolvi entrar no banheiro feminino do Conjunto Nacional.Eu já me imaginava correndo pelas ruas,uma multidão atrás de mim,berrando "pega o tarado,pega o tarado" e eu,na polícia,me defendendo:
-Olha aqui,vocês não encostem as patas em mim.Fiquem sabendo que meu pai é o cara mais importante do Senado.
É isso aí! Vocês pensam que estão olhando para qualquer um?Meu pai é o cara mais importante do Senado.Sem ele,aquilo lá não funciona.Tão pensndo o quê ? Ele é o maior figurão.Ele é o faxineiro.Duvidam que o faxineiro seja o mais importante?Se ele não comparecer ao serviço,aquilo lá fica fedendo.Aliás,aquilo lá sempre fede,aquilo lá é sempre podre e,se meu pai não vai,aquilo lá fica mais podre ainda,e ninguém sequer consegue entrar.Inclusive as faxineiras das casas,imagina se elas não vão ao trabalho por um mês.A casa vai ficar limpiiiiiiinha,cheirosiiiinha.
Pois é.Andava uma onda de greves pelo Brasil,e numa dessas greves os funcionários do Conjunto Nacional entraram de greve e só havia um ou outro que não deixava a coisa ficar preta.
Então peguei a roupa de faxineiro do meu pai,fui num dos banheiros,me vesti de faxineiro,peguei os instrumentos de limpeza e lá fui eu,com os olhos esbugalhados,o coração a mil por hora,a face pálida e assustada.
Entrei no banheiro com o máximo temor e comecei lavando o chão,as pias,as paredes,as privadas,os espelhos.Entrou uma mulher.Entrou outra.Saiu uma mulher.Entrou outra.E ninguém,e ninguém,absolutamente ninguém desconfiou que eu era homem.Sequer se abalaram,sequer piscaram os olhos.E eu,do alto dos meus 14 anos,me senti um lixo.Me senti frustrado.Me senti chorando,despedaçado em minha masculinidade.Então me ocorreu que se ninguém desconfiava,então era bom.Eu poderia ir de um banheiro a outro tranqüilo.Ai,eu poderia ver mulé pelada,eu poderia ver uma boceta mijando,eu poderia,eu poderia.Realmente,decidi que toda greve de banheiro do Conjunto Nacional eu iria para lá como voluntário do mutirão da limpeza.Mas ninguém,absolutamente ninguém desconfiou que eu era homem.E eu senti na pele que essas faxineiras ganham pouco e são duras,duras,duuuuuras,e eu estava tão dura quanto elas,e,por favor,compreendam as metáforas,as metáforas.Por que vocês não compreendem as metáforas?Gente,vocÊs têm que ler poesia,é tem que ler mais poesia pra compreender as metáforas.Por que vocês não lêem poesia?
Então,sentei-me num banquinho e fingi que lixava as unhas.Nisso uma mulher tropeçou no salto alto e caiu em cima de mim e fez uma cara e pela primeira vez alguém desconfiou que eu era homem.Ela saiu e eu saí logo em seguida e só tive tempo de ver mais uma mulher entrar,uma amiga minha,a Isabela,cujo pai era feirante e trabalhava lá.
Corri para fora do banheiro,peguei e me vesti rapidamente como uma pessoa comum.Quando passei de longe pelo banheiro onde eu tava havia a maior confusão.Eu,hem?
Seguinte:eu ia introduzir o conto incidental.Eu ia terminar essa história com um pequeno conto de outro autor,mas como tem direito autoral,etc,não vai dar.Assim como tem a música incidental,ia ter o conto incidental.

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