Mil contas - vermelhas, verdes, amarelas - chacoalhando no pescoço da mulata. Burburinho. Sobe e desce, desce e sobe, as contas se agarram à pele escura temendo o ruge-ruge. A cada gota de suor, mais pânico invade seus mínimos olhinhos, se abraçam fortemente, os dedinhos roçando os corpinhos das amigas também rechonchudas.
Desde que nasceu sabia que passaria toda a vida presa aquele fio de nylon, ao lado de mais algumas contas iguais a ela, mas nunca imaginara que teria de suportar tamanho sufoco para se preservar ao lado delas e a salvo. Pensava em sua infância, ora no tabuleiro, exposta aos fregueses, ora na caixinha de miçangas onde costumava brincar de esconde-esconde com as amigas. Sentia saudades do tempo que tinha orgulho de ser a mais vermelhinha, se esmerando em engomar o vestido antes de ir à feira.
Mas agora só se preocupa mesmo é em evitar que um galego cheio de cachaça e terceiras intenções - na certa algum amásio da mulata que a comprou - encoste seus lábios descascados em seu indefeso corpinho. Tenta se esgueirar para a parte de trás do pescoço, lugar reservado especialmente para as contas mais velhas, e é logo expulsa, restando-lhe apenas encolher-se e esperar os beiços ensebados do pagodeiro.